A pedagogia de Leila Pereira com a histórica entrevista coletiva só com mulheres
Até bem pouco tempo atrás, coletivas de imprensa de dirigentes de clubes de futebol tinham só homens presentes. Ainda hoje, mulheres são minoria
A pedagogia de Leila Pereira com a histórica entrevista coletiva só com mulheres
BuscarAté bem pouco tempo atrás, coletivas de imprensa de dirigentes de clubes de futebol tinham só homens presentes. Ainda hoje, mulheres são minoria
17 de janeiro de 2024 - 10h34
Um dia depois da Fifa anunciar no prêmio The Best uma grande homenagem à jogadora Marta, que passará a partir de agora a dar nome ao troféu do gol mais bonito no futebol feminino, o equivalente ao Puskás, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, também fez um gesto histórico. Apenas jornalistas mulheres a entrevistaram na Academia de Futebol, nesta terça-feira, 16. A iniciativa gerou bastante incômodo em alguns jornalistas homens que cobrem futebol ao descobriram como é a sensação de se verem excluídos de um ambiente dominado por outro gênero.
“Quando tivemos esta ideia, nós divulgamos e, por incrível que pareça, ouvi muitas perguntas: ‘Por que só mulheres?’. O que eu digo aos homens é que não sejam histéricos (risos). Não é isso que dizem da gente quando reclamamos de alguma coisa? Nós não somos histéricas, só queremos que eles sintam o que nós, mulheres, sentimos desde que nascemos”, declarou Leila no discurso de abertura do evento.
Até bem pouco tempo atrás, coletivas de dirigentes de clubes de futebol tinham só homens presentes. Ainda hoje, as mulheres são minoria. E isso nunca gerou nenhum tipo de questionamento por parte desses mesmos homens.
“Eu gostaria que os homens sentissem em uma hora da nossa entrevista coletiva o que nós sentimos desde que nascemos”, disse Leila, a única presidente mulher de um clube de futebol de elite da América do Sul. Como se dispôs a responder todas as perguntas das 27 jornalistas presentes, a coletiva, na verdade, durou duas horas.
“Nós, mulheres, não queremos privilégio, queremos ter a oportunidade de mostrarmos que somos competentes e queremos espaços nesse mundo do futebol, que é tão masculino. Vou em reuniões na CBF, FPF, Libra, só tem homens. Me sinto extremamente solitária, então nós temos que dar um basta nisso. Não pode ser normal ter apenas uma mulher à frente de um grande clube na América do Sul. Isso acontece porque sofremos diversas restrições, que nos impedem de chegar aonde podemos estar”, prosseguiu.
“Esse é o motivo da nossa coletiva. Muitas pessoas esperando uma notícia bombástica, pra mim é relevante que a sociedade enxergue nós mulheres como pessoas que têm capacidade. Nós podemos estar onde quisermos. Que hoje seja um marco para nós, mulheres”, concluiu.
Não sou palmeirense e tenho sérias restrições ao estilo e algumas atitudes de Leila na condução de seu clube, mas é inegável que é uma liderança de sucesso que colhe os resultados desta gestão em um lugar, como ela mesmo colocou na coletiva, solitário.
Me lembro de uma imagem que simboliza com maestria a posição de Leila, divulgada em 2023, quando houve uma reunião na CBF para discutir a recorrente demanda por mudanças no calendário brasileiro: única mulher dentre 18 dirigentes de clubes de elite do futebol brasileiro, literalmente exprimida entre dois de seus pares com pernas abertas, deixando bem claro que aquele é um ambiente para homens.
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