Boa chance
Você está esperando pela sorte ou criando as suas chances para sair da prateleira?
Você está esperando pela sorte ou criando as suas chances para sair da prateleira?
21 de fevereiro de 2025 - 9h36
(Crédito: Shutterstock)
Recentemente, uma profissional experiente compartilhou comigo o desejo de se recolocar no mercado. Mas, muitas vezes, nos sentimos limitada(o)s pelas opções disponíveis no mercado de trabalho. Por isso, sempre defendo a possibilidade em se criar um caminho próprio (que não se restringe a empreender), ao invés de buscar se encaixar em opções existentes.
Como costumo dizer aos meus alunos de Liderança no MBA da Universidade Carlos III, de Madri: não procure se encaixar — crie sua oportunidade. Embora essa abordagem possa parecer idealista, ela é mais do que viável quando deslocamos o foco para dentro.
Grande parte das mudanças profissionais bem-sucedidas não começa por uma busca externa, mas por uma análise interna exaustiva. Das 10 aulas que facilito no MBA, 7 são dedicadas a essa reflexão, o que não deixa de ser um desafio em um ambiente tão pragmático e business-oriented. Aula após aula, vejo que a resistência inicial — ou o desconforto — que olhar para dentro de si causa nos alunos evolui para uma visão individual que se conecta com o coletivo. E daí vem o reconhecimento da sua importância, ao escutar dos alunos: “Nunca tive a oportunidade de refletir dessa forma antes”, “Por que nunca paramos para nos escutar?”.
Esse processo foi essencial também na minha própria trajetória. Empreender não foi um plano imediato, mas fruto dessa reflexão interna que me permitiu, ao descobrir a minha motivação central, vislumbrar oportunidades fora da prateleira. Empreender surgiu como uma ponte entre minhas motivações e os desafios do mercado.
Mais do que propósito — palavra que pode gerar mais paralisia que ação —, prefiro pensar em “o que nos move”.
Motivação vem de movere, que significa mover-se. Ela é o impulso que nos tira do lugar e nos leva a agir. É quando você identifica o que gosta de fazer, o que faz com prazer, o que faz bem e te permite entrar em um estado de fluxo – ou flow, famoso conceito criado por Mihaly Csikszentmihalyi, que representa o alinhamento entre o nível da sua capacidade e o nível exigido pelo desafio.
Ela (a motivação) pode variar ao longo do tempo. Em determinado momento, aprender pode ser um impulsionador; em outras fases da vida, a motivação pode ser financeira. Em 2023, por exemplo, 39% das mudanças de carreira no mundo foram impulsionadas por melhores salários, segundo a GoRemotely.
Muitas vezes, no entanto, a mudança precisa ir além de buscar outro trabalho. Nem sempre as opções disponíveis no mercado fazem sentido. Uma ex-cliente, por exemplo, que trabalhava no marketing de uma multinacional, ao sentir a necessidade de novos desafios, pediu um período de licença para estudar psicologia positiva. Quando retornou, assumiu um novo papel na área de RH da empresa, mais alinhada aos seus objetivos.
Por isso, a transição nem sempre implica sair de uma empresa. Muitas vezes, trata-se de se reinventar no papel atual — um conceito conhecido como job crafting. Este processo permite moldar o cargo existente para um melhor alinhamento das responsabilidades e interesses pessoais. O período em que fiquei 17 anos na mesma empresa reflete bem esse processo. Mudei de papel diversas vezes, criando novas frentes de crescimento para a empresa e assumindo desafios inéditos. A cada 5 ou 6 anos, posicionava minha carreira internamente.
Com os avanços tecnológicos e sociais transformando rapidamente o mercado, mudar de carreira deixou de ser uma exceção e tornou-se uma expectativa.
De acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA, uma pessoa mudará de carreira entre 5 e 7 vezes ao longo da vida profissional. Seja por um desejo de crescimento pessoal, por mudanças no cenário do setor ou pela busca de uma paixão, a capacidade de se movimentar tornou-se uma habilidade essencial.
Essa flexibilidade já não é apenas uma vantagem competitiva — é uma necessidade.
Mas, sabemos, esta possibilidade ainda pode ser um privilégio restrito a poucos, principalmente no Brasil. De qualquer forma, ela se amplia ao termos a oportunidade de explorarmos melhor o que queremos. Por isso, concordo que o autoconhecimento, defendido também pelo CEO da Michael Page, Ricardo Basaglia, pode ajudar a ampliar o seu alcance.
Ele destaca que qualquer transição de carreira depende de dois elementos:
Nos treinamentos de liderança que conduzo, incluo uma etapa intermediária, entre “onde estou” e “para onde quero ir”, que é a etapa da intenção. Ela funciona como conexão entre o momento atual e as oportunidades futuras – ela é a ponte que conecta o que queremos fazer com os desafios do mercado.
Vivemos em um mundo cheio de oportunidades, mas também de ruídos. Por isso, a escuta ativa — tanto interna quanto externa — é essencial para alinhar expectativas pessoais (de dentro para fora) e demandas de mercado (de fora para dentro) para encontrar esta ponte.
Às vezes, esta ponte fica visível, mas não queremos ver.
Enxergá-la exige esforço, curiosidade e, em certos momentos, disposição para assumir riscos.
A sorte vai além de ser selecionado dentre as opções da prateleira. Ela é, no fim das contas, um reflexo direto da nossa capacidade de agir, de colocar em prática as muitas chances que temos.
Em francês, a palavra “sorte” significa “chance”, que implica em ação (descobri isso depois de um início promissor para aprender francês, mas que durou apenas 6 meses). A sorte, nesse contexto, é resultado da capacidade de reconhecer habilidades e aplicá-las estrategicamente.
Criar oportunidades exige preparação, disposição para explorar novas possibilidades e coragem para sair da prateleira e construir novos caminhos. Você está esperando pela sorte ou criando as suas chances para sair da prateleira?
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