Carreira, filhos e o peso invisível das escolhas
Empresas e indivíduos devem caminhar juntos para garantir que mulheres possam fazer escolhas sem carregar sozinhas o peso das consequências
Carreira, filhos e o peso invisível das escolhas
BuscarEmpresas e indivíduos devem caminhar juntos para garantir que mulheres possam fazer escolhas sem carregar sozinhas o peso das consequências
19 de fevereiro de 2025 - 9h41
(Crédito: Shutterstock)
Estou com uma baita conjuntivite. Como abrir o olho não é uma opção, resolvi olhar para dentro e para as minhas sobrecargas.
Essa pausa forçada me fez refletir sobre as escolhas que nós, mulheres, enfrentamos diariamente. Decisões que, muitas vezes, carregam pesos invisíveis, como a de ter ou não filhos, e o impacto dessa escolha em nossas carreiras. Quem nunca ouviu perguntas como: “e aí, quando você vai ter filhos?” ou “qual é a hora certa de ter filho sem atrapalhar minha carreira?”? São questionamentos que trazem dúvidas, julgamentos e comparações.
Recentemente, uma pesquisa realizada pela B2Mamy em parceria com a Kiddle Pass revelou que 9 em cada 10 mães no Brasil sofrem de esgotamento parental, sendo 37% em nível leve, 44% moderado e 9% grave. Além disso, mais da metade das participantes já receberam algum diagnóstico relacionado à saúde mental. Os números são alarmantes e evidenciam o peso da sobrecarga que recai, muitas vezes, exclusivamente sobre as mulheres.
Esse cenário exige um olhar mais atento, tanto por parte das empresas quanto das próprias mulheres. Organizações que realmente desejam promover um ambiente saudável e produtivo precisam reconhecer que o bem-estar de suas profissionais passa pelo equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Isso significa criar políticas que apoiem a parentalidade sem penalizar carreiras, oferecer redes de suporte e combater a cultura da exaustão. Mas essa transformação também depende das próprias mulheres, que precisam estabelecer limites e reconhecer o valor das habilidades que desenvolvem ao longo de sua jornada.
O Ministério do Trabalho e Emprego, ao atualizar a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), reforçou a necessidade de que empresas identifiquem e gerenciem riscos psicossociais no ambiente de trabalho. A partir de 2025, todas deverão estruturar planos para garantir o bem-estar mental de seus profissionais. Essa nova regulamentação traz um avanço importante, mas a mudança real acontece quando há um compromisso genuíno das lideranças em transformar a cultura organizacional.
A parentalidade, muitas vezes vista como um obstáculo à carreira, pode ser um trampolim. A maternidade e a paternidade convidam ao desenvolvimento de habilidades valiosas para o mundo corporativo — gestão de tempo, negociação, resolução de problemas sob pressão. Mais do que um desafio, ser mãe ou pai pode ser um aprendizado que impulsiona a carreira. Mas, para isso, as empresas precisam enxergar o potencial dessas experiências e criar ambientes onde a parentalidade seja vista como parte do desenvolvimento profissional, e não como uma limitação.
A responsabilidade de transformar esse cenário é compartilhada. Empresas e indivíduos precisam caminhar juntos para garantir que mulheres possam fazer escolhas sem carregar sozinhas o peso das consequências. Seja para quem quer ter filhos ou para quem escolhe não tê-los, o mais importante é que cada mulher tenha autonomia para decidir seu caminho sem medo de ser penalizada ou excluída. Criar espaços que acolham diferentes trajetórias não é só uma questão de inclusão — é um investimento no futuro do trabalho.
Compartilhe
Veja também
O futuro é maduro: a potência dos 50+ na indústria
Profissionais femininas com mais de 50 anos mostram que criatividade não tem idade e podem ser a chave para mais inovação no mercado de publicidade
Alexandra Casoni e o impacto do storytelling nas marcas
A jornada da executiva como CEO a levou à expansão de sua marca pessoal para influenciar mulheres e outras empresas