Carta à minha mãe
Quando foi a última vez que você expressou gratidão?
Quando foi a última vez que você expressou gratidão?
19 de março de 2025 - 10h36
(Crédito: Shutterstock)
O ano começou e com ele uma intensidade de assuntos pelo mundo todo, movimentos e grandes impactos. Pode parecer clichê, mas os anos passam, a velocidade aumenta, e nos acostumamos a um ‘normal’ que de fato não tem nada de normal.
Em meio a essa corrente implacável, escolhi pausar – um refúgio das demandas turbulentas diárias que frequentemente negligenciamos. E que melhor maneira de começar o ano do que cultivando a gratidão?
Frequentemente refletimos sobre a marca que as pessoas próximas deixam em nossas vidas. No entanto, com que frequência expressamos explicitamente o quanto isso importa? Assim, minha primeira coluna no Woman to Watch este ano assume a forma de uma ‘Carta para Minha Mãe’, um reconhecimento que vem com profunda apreciação – quase que como uma tapeçaria sensorial de cheiros, sabores, memórias e toques.
Meu profundo reconhecimento, e o que sugiro que você também pratique, é pela constância de atributos tão generosos que ela sempre manifestou. Sou grata pela casa sempre cheia, pelo senso de comunidade, pela exposição contínua à riqueza da diversidade. E, mais importante, por me ensinar que é nos ventos contrários que retomamos nossas crenças e que nossas convicções são verdadeiramente testadas e fortalecidas.
Com o exercício de me sentir grata a ela, veio também três grandes lições que eu levo comigo:
Frequentemente defendemos a busca do propósito, e entendo seu fascínio. No entanto, minha mãe transmitiu uma verdade mais profunda, não por meio de palavras explícitas, mas por meio da eloquência silenciosa de suas ações: os princípios são a base sobre a qual o propósito é construído. Antes de discernirmos nosso propósito motivador, devemos definir nossos princípios intrínsecos e não negociáveis. E já sofri muito quando algo não veio como o esperado, quando o lado humano falhou dos caminhos que eram críticos pra mim. E, então, me lembrava dela.
No contexto da liderança, Ray Dalio, renomado investidor e autor de ‘Princípios’, reforça que princípios são ‘verdades fundamentais que servem como base para o comportamento que te leva ao que você quer’. Seu conceito de ‘abrace a realidade e lide com ela’ é um pilar de sua filosofia. Dalio argumenta que muitos fracassam por se recusarem a aceitar a realidade como ela é e enfatiza a importância de aprender com os erros e de adaptar-se continuamente às mudanças. Claro que ele é muito mais objetivo do que a vida conduziu minha mãe, mas, ainda sim, entendo o paralelo que posso fazer em minha vida com sua capacidade de enfrentar os desafios com pragmatismo e adaptabilidade.
Diante das adversidades, ela não se permitiu negar a realidade, mas a abraçou com coragem, utilizando seus princípios de generosidade, determinação, empatia e bondade como guias.
2. O Poder da comunidade
Nossas vidas foram envolvidas por um profundo senso de comunidade. Quando ela enfrentou a perda inimaginável de seu marido aos 36 anos, com três filhos pequenos, as virtudes do apoio, do amor e da generosidade ilimitada floresceram. Fomos abraçados por uma rede de amigos e familiares que estenderam suas mãos, seus corações e suas vidas. Eles compartilharam seu tempo, suas experiências. Frequentemente pondero e revisito o quanto mais poderíamos ‘retribuir’ sem exigir que alguém precise. Falha humana: quase sempre só ajudamos quando o outro precisa.
Outro dia, numa roda de conversa com mulheres de diferentes áreas, ouvi algo interessante: não é sobre deixar herança, mas sim construir um legado. Foi tão profundo que ecoou em mim a gratidão por minha mãe. Seu legado vem em forma de atributos que jamais encontro em nada material. Daquelas coisas que nos preocupamos tanto e tão pouco que nos ajuda a sermos pessoas melhores.
No meu primeiro filme do ano no cinema, ‘Ainda Estou Aqui’, saí de lá com o coração apertado, um nó na garganta e a dificuldade de acreditar – e aceitar – uma realidade dolorosa de uma época difícil, além de uma vontade grande de abraçar a Eunice. Fernanda Torres, com sua atuação firme, inspiradora e tocante, demonstra uma força contida, expressa principalmente em sutilezas, onde muitas vezes a força se mostra no olhar e em atos de persistência. É uma representação de resiliência e amor incondicional, mesmo diante da adversidade imposta. Na minha experiência, minha mãe também demonstrava uma força silenciosa. Ela não precisava de vozes altas ou grandes gestos para transmitir coragem e determinação.
Sigo agradecendo por cada lição, rastro, gesto – me enchendo de aprendizados em cada direção, com a certeza de que podemos ser mais do que somos, se soubermos agradecer e reconhecer a cada pessoa que ilumina nossos caminhos de formas diferentes.
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