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Cecília Alexandre: “Precisamos olhar mais para o que somos e confiar em nós mesmas”

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Cecília Alexandre: “Precisamos olhar mais para o que somos e confiar em nós mesmas”

Diretora de Marketing da Kraft Heinz Brasil, marca que ganhou quatro leões em Cannes, fala sobre a importância da inteligência emocional para líderes


16 de setembro de 2022 - 14h57

Cecília Alexandre é Diretora de Marketing da Kraft Heinz Brasil e está à frente das marcas Heinz e Quero (Crédito: Divulgação/Loures Consultoria)

Cecília Alexandre, ou Ciça, tem 20 anos de experiência em empresas multinacionais de bens de consumo e hoje lidera o marketing e a comunicação da Kraft Heinz Brasil, à frente das marcas Heinz e Quero. Este ano, ela conquistou com a empresa 2 Leões de Prata e 2 de Bronze na edição do Cannes Lions, com a campanha “Hidden Spots”, criada pela agência Gut São Paulo. 

Com passagem por gigantes como Ambev, Lu France e BRF, a executiva é bem objetiva quando fala de gestão. “Entendo que há cinco pontos fundamentais: comunicação fluida, transparência, respeito, cooperação e confiança”. Ela também não foge ao ser questionada sobre momentos de autossabotagem e como lida com eles. ‘Estaria mentindo se não assumisse que já achei que não era capaz e era uma grande farsa. Ainda mais no mundo em que as pessoas demonstram apenas os sucessos constantes nas redes sociais. Porém, já refleti muito a respeito e faço um processo de coaching que me ajuda no meu autoconhecimento, podendo assim reconhecer e explorar as minhas fortalezas”, diz.

Confira abaixo nosso papo com Cecília.

 

Quais características ou habilidades você considera essenciais numa liderança? Como você as desenvolve e as alimenta regularmente?

Como passamos muito tempo do nosso dia focados no trabalho, gosto de pensar que precisamos acreditar e ter paixão pelo que fazemos, tendo sempre em mente que todas as nossas ações, além de impactarem a vida dos consumidores, têm um efeito sobre todos os colaboradores da empresa, pois o que as marcas transmitem e fazem deve ser um motivo de orgulho para todos nós.

Sobre a gestão de uma área, entendo que há cinco pontos fundamentais: comunicação fluida, transparência, respeito, cooperação e confiança. A boa comunicação é indispensável para um excelente líder. É importante sempre deixar claro suas solicitações, feedbacks e processos. Repito uma frase que escutei uma vez e norteia a maneira como atuo: “conversas respeitosas, transparentes e honestas”. E, claro, quando falo de comunicação fluida, ela não é unilateral: deve ser bilateral, e precisamos ter uma escuta ativa, aprender e avaliar os diferentes pontos de vista. Afinal, temos todos o mesmo objetivo. A cooperação, por sua vez, é essencial, pois vamos trabalhar para atingir o mesmo propósito juntos, mesmo que cada um com o seu escopo. Por fim, e não menos importante, um bom líder confia em seu time e dá espaço para que eles possam crescer e se desenvolver com o seu auxílio. 

Obviamente, como em qualquer relação, é crucial ter empatia. Estamos lidando com pessoas e é importante entender que cada um tem um ritmo, um jeito diferente de aprender e realizar tarefas, além de não termos um padrão de rendimento. Cada dia conseguimos entregar um tanto de tarefas. 

Para contemplar tudo, a inteligência emocional é muito relevante para o líder. Precisamos conciliar os interesses e metas da empresa com o desenvolvimento do time de uma forma saudável e sustentável para ambos os lados. Sobre o meu desenvolvimento, além de pesquisar, sou uma pessoa muito curiosa e observadora. Procuro participar de simpósios, palestras e aprendo muito estando muito próxima do meu time, pois temos trocas de conhecimento diárias. 

Você já disse em outras entrevistas que segue os pilares dos 3Vs — “verdade, velocidade e vivência”. Como isso se traduz na construção de uma campanha, por exemplo? Por que a escolha destes pilares e qual a importância deles?

Os 3Vs permeiam todas as decisões estratégicas que tomamos, e com as campanhas não seria diferente. Os consumidores buscam marcas que estejam realmente comprometidas com a mudança e com tudo o que pregam, e isso se traduz 100% em nossas ações, por meio de discursos claros e verdadeiros. Quanto à velocidade, ela é reflexo do que estamos vivendo – somos consumidores cada vez mais conectados. E, assim, vamos entrar nas conversas cotidianas, participar da cultura e inovar o mais rápido possível. Erraremos? Certamente, mas faz parte do processo, e tão importante quanto agir rapidamente é ser também ágil no ajuste de rota, colhendo aprendizados. Por fim, há o último “V”: a vivência. Os consumidores buscam experiências que o engajam, e é de extrema importância que tudo o que comunicamos seja realmente sentido pelo consumido de forma presencial ou virtual. 

A Heinz saiu do Festival de Cannes com quatro Leões, 2 de Prata e 2 de Bronze, com a campanha “Hidden Spots”, junto com a GUT São Paulo. Uma campanha que dialoga diretamente com o universo dos games. Qual a estratégia por trás de uma campanha como essa e de que outras formas a marca está trabalhando para se manter atual?

Acreditamos muito na consistência da mensagem, e esse é nosso maior guia. Com isso em mente, buscamos insights relevantes para o consumidor e consideramos a mídia no centro da estratégia, e não como uma simples execução de uma ideia criativa. No caso de “Hidden Spots”, a soma desses dois pontos, assim como a ousadia da marca, foram essenciais para o sucesso da campanha. O case veio de um insight verdadeiro, de que jogo online não tem pausa, e a mídia (os games) foi o ponto central. Outro exemplo recente foi a ativação com o Casimiro. Em uma live, o rei dos reacts liderou a elaboração de três receitas de hambúrgueres de um jeito bem descontraído por cerca de uma hora, com uma grande interação do público. E não paramos por aí: os consumidores paulistanos e fluminenses puderam experimentar as criações no Heinz IA Dentro Food Truck, trazendo a experiência digital para uma vivência física. 

Você já teve algum tipo de sentimento de autossabotagem? Como lida com essa situação e quais dicas dá para as mulheres que se sentem assim nos projetos, áreas e lugares em que atuam?

Estaria mentindo se não assumisse que já achei que não era capaz e que era uma grande farsa. Ainda mais no mundo em que as pessoas demonstram apenas os sucessos constantes nas redes sociais. Porém, já refleti muito a respeito e faço um processo de coaching que me ajuda no meu autoconhecimento, podendo assim reconhecer e explorar as minhas fortalezas. E esta é a maior dica: todos temos pontos a desenvolver, ainda bem, pois evoluiremos sempre. Mas, olhando o copo meio cheio, certamente temos pontos fortes que nos potencializam e nos diferenciam. Um exercício interessante é perceber como as pessoas nos enxergam e ver como elas têm uma imagem melhor de você do que tem de si mesma. Ou seja, precisamos olhar mais para o que somos e confiar em nós mesmas. Não é fácil, nem todos os dias funciona, mas é um exercício diário. E claro, acredito muito em uma rede de apoio de mulheres. Tenho grandes amigas, colegas com quem posso trocar e que vivem situações semelhantes. Quando nos falamos, acabamos ajudando umas às outras.   

Quais mulheres inspiradoras você segue, lê e observa? Como elas te inspiram?

Recentemente tive o privilégio de participar do FourSummit e escutar a Ana Fontes da primeira fileira. A história, a clareza, a resiliência e a leveza dela me inspiram. A luta pela equidade, pela justiça social que ela lidera me tocam profundamente. Outra mulher que gostaria de destacar é a Tatiana Monteiro de Barros, uma pessoa que não fica sentada à frente da TV olhando os problemas sociais. Ela parte para a luta. Lidera o Movimento União Brasil e está sempre fazendo a diferença em momentos importantes. Coordenou o envio de cilindros de oxigênio para Manaus no ponto alto da pandemia, além de ações contínuas para a melhoria social. O exemplo dela de perseverança e a certeza de que vai dar certo e que temos que fazer nossa parte me inspiram muito. 

Por fim, tem alguma dica de séries, filmes, livros e/ou músicas que consumiu recentemente e te fizeram refletir sobre a condição e o papel das mulheres na sociedade?

Certamente a biografia da Michelle Obama. A visão dela como filha, namorada e esposa de um homem brilhante, como profissional que passou por grandes desafios, como mãe e como primeira-dama são exemplos para as mulheres da nossa sociedade. A maneira como ela transitou e age em todos esses papéis da sua vida retratam as dúvidas que viveu, mas como conseguiu impulsionar e tirar sempre o melhor de si. Um livro para ler e reler.  

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