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Como a gestão feminina está fazendo a diferença no esporte

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Opinião

Como a gestão feminina está fazendo a diferença no esporte

Apesar de crescentes exemplos de atletas que vêm quebrando barreiras e mostrando a força da mulher no esporte, o papel delas em cargos de gestão e liderança em instituições esportivas ainda é muito limitado


22 de novembro de 2022 - 9h34

As fundadoras do Angel City (Crédito: Divulgação)

Enquanto cada vez mais mulheres mostram seu potencial dentro das competições esportivas, os exemplos de continuidade de carreira no esporte após a aposentadoria ainda são raros. Enquanto os jogadores do masculino que se aposentam dos campos vislumbram a possibilidade de seguir atuando no esporte como técnicos, membros de comissão técnica, dirigentes de clubes, entre outros, para as mulheres a realidade é muito diferente. A já difícil carreira como atleta feminina se apresenta ainda mais desafiadora quando chega a aposentadoria, e com as possibilidades de seguir em cargos de gestão do esporte.

Uma realidade triste, que não ajuda e limita muito o incentivo à mulher no esporte. Mas a boa notícia é que começam a surgir bons exemplos de como é possível ter a mulher na gestão do esporte e de como esse movimento é extremamente positivo, necessário e urgente para fomentar o esporte feminino.

Para citar um excelente exemplo, Cris Gambaré, ex-jogadora de futebol e de basquete, passou a integrar o conselho do Corinthians em 2006, a convite do presidente do clube na época. Depois de aposentar as chuteiras, foi a aposta do clube paulista para elevar o futebol feminino e vem fazendo um excelente trabalho à frente da equipe. Tanto que seu modelo de gestão e atuação é referência para todos os clubes de futebol, que vêm profissionalizando a sua gestão, inclusive com o pensamento de continuidade das atletas no clube após a aposentadoria dos campos.

E a equidade de gênero dentro e fora do ambiente de competições vem criando alguns movimentos bem interessantes. Paris 2024 será a olimpíada da equidade. A competição já estabeleceu a regra de que serão 50% de atletas masculinos e 50% femininas. Para atingir esse número, há vagas sendo abertas para atletas em diferentes modalidades. Uma chance muito bem-vinda para aqueles que não competem em igualdade quando se trata de patrocínios e condições de treinos.

Ainda falando de Olimpíadas, o time do Brasil para Tóquio 2020 teve 26% da comissão técnica composta por mulheres, quando a recomendação é que sejam ao menos 30%.

Em um sistema esportivo dominado por homens, a representatividade e a expansão do esporte feminino ficam prejudicadas, muitas vezes pela falta de entendimento das necessidades da mulher por seus gestores. Ainda fazendo referência ao exemplo de Cris Gambaré, conhecendo o esporte por dentro, as barreiras e as dificuldades das atletas, fica muito mais fácil construir uma estratégia que mude de fato esse jogo.

E, em mais um exemplo de como a gestão feminina é fundamental e necessária para o esporte, vale citar o Angel City, clube fundado por atrizes de Hollywood, 14 ex-jogadoras da seleção feminina de futebol dos EUA e Serena Williams. O Angel City nasce com o propósito de ser maior que o próprio esporte. A ideia é pensar de maneira diferente em relação a tudo que está envolvido no ambiente esportivo, desde ingressos a proprietários e patrocinadores. O objetivo do clube é causar um impacto positivo na comunidade local em que está inserido, e trazer a influência de Los Angeles para a comunidade mundial de futebol, como um convite a todos para se unirem pela mudança do jogo.

Por aqui, no Brasil, também temos atletas dispostas a mudar o cenário da inclusão feminina, mas muitas vezes sem o apoio necessário. Com a ideia de desenvolver a natação feminina, Poliana Okamoto e Maressa Nogueira criaram um projeto para capacitação de atletas, desde a iniciação na modalidade até a gestão do esporte. Mas, infelizmente, o projeto ficou parado por falta de verba. Não havia recursos disponíveis no COB ou nas leis de incentivo ao esporte para levar a iniciativa adiante. E, para ajudar, a pandemia impediu o projeto de avançar. Ainda hoje, não há verba disponível e, agora, nem as atletas estão. Maressa está trabalhando em uma universidade, e Poliana está afastada do esporte, adivinhem por quê? Licença-maternidade. Mas o ponto é que hoje o projeto só sai do papel com verbas extras, que poderiam vir de patrocínios e do envolvimento ativo das marcas no incentivo às atletas.

Em um cenário em que sabemos e entendemos todas as complexidades que envolvem as atletas e o desenvolvimento de suas carreiras, fica o convite à reflexão. Será que é possível mudarmos de fato a realidade do esporte feminino no Brasil e no mundo se não pensarmos de fato na inclusão da mulher na gestão do esporte? E as marcas que começam a se envolver mais nesse cenário, já pararam para analisar se os investimentos de apoio às atletas encontram realmente a estrutura necessária dentro das instituições para serem refletidos em benefício do esporte?

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