Como os homens podem contribuir para um futuro mais igualitário?
Lideranças das agências AlmapBBDO, Memoh e Eldeman compartilharam suas experiências e perspectivas sobre como os homens podem se tornar aliados na luta contra a desigualdade de gênero
Como os homens podem contribuir para um futuro mais igualitário?
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Larissa Santiago
26 de março de 2025 - 17h06
Gabriela Augusto, Rafael Camilo, Filipe Bartholomeu e Pedro Figueiredo (Créditos: Eduardo Lopes/maquinadafoto)
O painel “Imagem e semelhança: homens e seu papel na construção de futuros possíveis”, moderado por Gabriela Augusto, diretora e fundadora da Transcendemos Consultoria, reuniu no palco do WW Summit, lideranças masculinas para discutir o papel dos homens na construção de um futuro mais igualitário, com foco na masculinidade tóxica e importância da inclusão.
Gabriela Augusto, mulher trans negra, compartilhou sua experiência pessoal e como a socialização masculina a impactou.
Ela destacou a importância de ter referências positivas de masculinidade para os meninos, citando um estudo do Instituto Papo de Homem, que revelou que seis em cada dez meninos não têm esse exemplo.
Filipe Bartholomeu, sócio, presidente e CEO da AlmapBBDO, abordou a importância do reconhecimento do próprio lugar de influência e da escuta ativa. O porta-voz mencionou a necessidade de enfrentar o debate mesmo que seja desconfortável e de se posicionar como aliado.
“O primeiro passo, obviamente, é o reconhecimento. Acho que essa questão está implicitamente colocada. Algo que aprendi há cerca de dois anos e que levo como um aprendizado pessoal é que, como líderes, temos a responsabilidade moral de criar e perpetuar organizações inclusivas. Isso porque as pessoas falham, e é a própria organização, a instituição, que deve ajudar a resolver essas questões. É um dever, uma obrigação”, ressaltou.
“Enfrentar esse debate como homem, muitas vezes personificando a figura do opressor, não é fácil. Fui convidado a participar de um painel com outros colegas aqui e, de fato, não é um lugar confortável. Mas temos que estar abertos para isso, para poder acompanhar a mudança. Vejo cada vez mais homens se engajando nesse tema, o que é um sinal positivo”, sequenciou.
Bartholomeu também alertou sobre a necessidade de ações práticas e da retomada do poder da narrativa, mencionando o retrocesso nas políticas afirmativas nos Estados Unidos – que em 2023 passou a criminalizar políticas afirmativas nas universidades, o que desencadeou uma série de retrocessos.
“Cerca de 60% das empresas de capital aberto nos EUA, por exemplo, retiraram as palavras equidade, diversidade e inclusão de seus relatórios, simplesmente apagando essas questões. Isso é um grande retrocesso”, pontuou.
“Acredito que, para 2025, não basta apenas o que já foi dito até agora. Precisamos ser mais locais, precisamos retomar o controle da narrativa. Tenho falado com meus sócios americanos sobre isso, e disse a eles: ‘Este é um problema global, não é algo restrito de vocês’. O impacto dessa situação vai além das fronteiras”, continuou.
“Por fim, acredito que, como líderes de agências de publicidade, temos uma responsabilidade significativa. Não se trata apenas de gerar demanda, mas de gerar acesso, de formar opinião e de garantir que o que colocamos nas ruas tenha um impacto positivo. Devemos sair daqui com a consciência dessa responsabilidade coletiva”, completou.
Rafael Camilo, Filipe Bartholomeu e Pedro Figueiredo (Créditos: Eduardo Lopes/maquinadafoto)
Já Pedro Figueiredo, diretor-executivo do Memoh, reconheceu o medo de muitos homens de serem mal interpretados e de não fazer o certo, defendendo que a mudança comportamental deve estar atrelada a uma compreensão do seu porquê.
“Muitas vezes nos deparamos com homens, inclusive líderes, que dizem ter medo de ser mal interpretados. Existe esse receio de errar, de falar algo e ser cancelado ou até mesmo demitido. Acho que esse medo é genuíno. Por outro lado, acredito que isso também acaba sendo uma desculpa. Nesse caso, a pessoa se exime de qualquer responsabilidade e muitas vezes se omite do debate por acreditar que precisa saber tudo antes de se posicionar. Eu vejo isso de forma diferente: saber das coisas e se importar com elas são duas coisas distintas”, pontuou.
“O letramento, o entendimento dos novos termos, é importante, mas não pode ser a prioridade. O compromisso genuíno com a mudança é o que importa. Caso contrário, você acaba apenas performando, querendo parecer engajado, mas sem ter de fato uma mudança real”, completou.
Rafael Camilo, vice-presidente de inovação e integração da Edelman, compartilhou sua experiência de ter que articular duas forças opostas: a masculinidade e a negritude.
Ele destacou a importância de encontrar sua própria força na intersecção dessas identidades e de exercer um tipo de masculinidade mais acolhedora e gentil.
“Esse tema, muitas vezes, é construído a partir do olhar do outro. Por um lado, ser uma liderança gay nesse ambiente trouxe uma preocupação constante sobre como me comportar, como ser mais assertivo, como criar as alianças certas para não ser hostilizado ou conhecido como ‘o viadinho do planejamento’. Isso ficou marcado por muito tempo. Então, essas questões estruturais da infância e da adolescência acabam voltando nesse momento”, falou.
“Por outro lado, a questão da negritude traz uma expectativa quase contrária. Sabemos que vivemos em uma sociedade que passou por mais de três séculos de escravidão, e as cicatrizes disso ainda estão presentes até hoje. Não é só a obediência, mas também um certo temperamento associado aos homens negros”, explicou.
Camilo também enfatizou a necessidade de olhar para a representatividade de grupos minorizados nas organizações, incluindo mulheres negras e trans.
“O que significa masculinidade no nosso mercado? Sabemos que, geralmente, ela é mais associada a um modelo branco e heterossexual. Pude condicionar e exercer essa outra masculinidade, entendendo que está tudo bem ser acolhedor, acreditar em uma liderança gentil, e que, mesmo assim, conseguimos atingir resultados. Afinal, quando há um espaço seguro para as pessoas e para nossas equipes, é ali que elas conseguem se comportar melhor”, refletiu.
“Isso me fez olhar mais atentamente para os outros grupos marginalizados, especialmente as mulheres – não só as mulheres brancas, mas as mulheres negras e as mulheres trans. Onde estão essas pessoas nos cargos de liderança? Esse olhar mais atento me ajuda a calibrar minha percepção e a buscar a representatividade que tanto falamos no País, sabendo que ela não está apenas em um único grupo, mas é plural”, completou.
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