Como podemos fazer a diferença na inclusão das mulheres no futebol?
Ver mulheres ocupando lugares tão reconhecidamente masculinos abre cada vez mais espaço para o interesse da audiência feminina
Como podemos fazer a diferença na inclusão das mulheres no futebol?
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7 de junho de 2022 - 9h26
Na minha coluna do mês passado falei sobre a audiência feminina no futebol, especialmente na Copa do Mundo. Vou seguir nesse tema e mostrar como o mundial tem um enorme poder de influência e como a FIFA, maior entidade do futebol mundial, vem procurando mudar a realidade feminina do esporte. E esse movimento vem sendo acompanhados por outras federações e clubes, contribuindo para deixar esse jogo cada vez mais equilibrado.
A Copa do Qatar, que já é pioneira em tantos aspectos, como o fato de ser a primeira no mundo árabe e também a primeira ser realizada em novembro, e não em julho, tem mais um ineditismo muito bem-vindo: semanas atrás, a FIFA liberou a lista dos árbitros selecionados para o mundial e, pela primeira vez, escalou três mulheres para apitar os jogos da Copa do Mundo masculina. E a lista não para por aí: haverá também três bandeirinhas mulheres, entre elas a brasileira Neuza Back. Pela primeira vez, veremos uma mulher apitar um jogo de Copa do Mundo, em um país onde o papel da mulher fica claramente em segundo plano.
Em um claro esforço de inclusão, a FIFA busca a equidade de gênero em um momento de crescente interesse pelo futebol feminino e pela presença da mulher dentro e fora dos campos. Que recado importante para o mundo.
Ver mulheres ocupando lugares tão reconhecidamente masculinos abre cada vez mais espaço para o interesse da audiência feminina. O tão famoso sentir-se representada.
Em mais um feito inédito que virou notícia nos últimos dias, a Federação Americana de Futebol anunciou a igualdade de pagamentos entre as jogadoras da seleção feminina e os jogadores da seleção masculina. De agora em diante, todo dinheiro recebido nos mundiais entrará no mesmo caixa e será dividido igualmente entre as duas seleções. Todos os atletas receberão o mesmo valor, independente de gênero. Como base para explicar a grandeza desse anúncio, a participação da seleção masculina em um torneio rende valores 15 vezes maiores aos recebidos pelo time feminino. Que por sinal, é muito mais vencedor que o masculino. Chega a ser uma injustiça que, ainda que tardiamente, foi reparada.
No Brasil, ainda engatinhamos no quesito remuneração e inclusão. Em um caso recente, tivemos uma bandeirinha agredida seriamente por um jogador e casos explícitos de discriminação a árbitros e bandeirinhas mulheres. E nas remunerações ainda temos valores bem diferentes, tanto de premiações como de salários. Em um esforço para diminuir essa desigualdade, a Conmebol – entidade que regulamenta o futebol na América do Sul e organizadora da Copa Libertadores – anunciou um aumento na premiação do torneio feminino: 1,5 milhões de dólares, bem acima dos 85 mil dólares pagos anteriormente, mas ainda dez vezes menor que os 16 milhões de dólares a serem pagos ao time masculino que vencer o torneio. Ainda há muito caminho pela frente para diminuir a desigualdade.
Mas a boa notícia é que os bons exemplos vindos do futebol feminino seguem surgindo com força, e com marcas envolvidas:
A Heineken vem dando um ótimo exemplo, em um movimento para tratar torcedores, competições e jogadores com igualdade.
A Visa, primeira marca patrocinadora da Copa do Mundo masculina a apoiar também a Copa do Mundo feminina, que será realizada no ano que vem.
Já a Mastercard será a primeira patrocinadora oficial da Copa América feminina, que acontece esse ano e será transmitida pelo SBT, com lugar de destaque.
As oportunidades para abrir caminho passam muito pelas marcas, que com o crescente interesse pelas modalidades femininas trazem os investimentos necessários para a mídia. Com essa verba, há a possibilidade de transmitir e criar cada vez mais uma cobertura perene do futebol feminino. Além, claro, dos patrocínios aos times, atletas e competições, que permitem termos um esporte de alto nível.
É difícil falarmos e consumirmos o que não temos informação, por isso esses investimentos e o interesse das marcas é tão relevante e fundamental para fomentar o esporte feminino. Que possamos cada vez mais trazer o discurso de inclusão da teoria para a prática.
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