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Companhias aéreas invisibilizam os direitos das pessoas com deficiência

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Opinião

Companhias aéreas invisibilizam os direitos das pessoas com deficiência

A falta de preparo e conhecimento, aliada ao capacitismo, pode transformar um direito assegurado em obstáculo na vida de PCDs  


16 de outubro de 2024 - 14h00

(Crédito: Shutterstock)

Viajar de avião é, para muitas pessoas, uma experiência cercada de planejamento e expectativas. No entanto, para pessoas com deficiência, essa jornada pode se transformar em um verdadeiro campo de obstáculos.  

Desde websites de passagens com pouca acessibilidade à falta de preparo dos funcionários das companhias para lidar com os nossos direitos, o capacitismo é evidente. O recente caso de Fabiani Machado, uma mulher paraplégica que utiliza cadeira de rodas e necessita de acompanhante, ilustra esse cenário de desrespeito sistemático. 

Fabiani Machado, uma mulher com deficiência, consultora e palestrante na área de inclusão, viaja frequentemente pelo Brasil para atender clientes e participar de eventos corporativos. Para facilitar suas viagens, ela se cadastrou no Fremec (Frequent Medical Traveler Card), um programa que assegura às pessoas com deficiência a possibilidade de comprar passagens para seus acompanhantes com 80% de desconto.  

Apesar de atender a todas as exigências do programa e renovar seu cadastro anualmente, Fabiani se depara, a cada viagem, com falhas operacionais e falta de conhecimento das companhias aéreas sobre o sistema Fremec. 

Em episódio recente, a companhia aérea Latam impediu a consultora de embarcar em um voo de Vitória para São Paulo, onde ela seria palestrante em um evento. Apesar de ter comprado a passagem com antecedência e respeitado os prazos, ela foi surpreendida no aeroporto pela incapacidade da equipe em processar a compra do bilhete de acompanhante com desconto. A atendente desconhecia o procedimento e, após acionar uma supervisora igualmente despreparada, Fabiani teve seu voo cancelado arbitrariamente. O resultado? A perda de um compromisso de trabalho com mais de 60 participantes à sua espera. 

Embora ela tenha o direito garantido pela lei, a falta de treinamento das equipes de companhias aéreas sobre como lidar com o Fremec e os direitos das pessoas com deficiência acaba transformando suas viagens em uma saga de desgaste emocional e prejuízo financeiro. 

A incapacidade das companhias aéreas em oferecerem um atendimento adequado a nós, clientes com deficiência, reflete uma grave falha nos seus sistemas de inclusão e treinamento. 

Em tempos em que as empresas buscam cumprir metas de ESG (Ambiental, Social e Governança), a situação de Fabiani expõe uma contradição: como podem as companhias se comprometerem com responsabilidade social e, ao mesmo tempo, negligenciar os direitos fundamentais de clientes com deficiência? 

As empresas precisam urgentemente revisar seus procedimentos e investir em treinamento contínuo para equipe. Só assim poderão garantir que pessoas como eu, Fabiani Machado e tantas outras com deficiência que precisam viajar a trabalho ou lazer tenham seus direitos respeitados e possam viajar com dignidade e segurança. 

A experiência de Fabiani é um exemplo de como a falta de preparo e conhecimento, aliada ao capacitismo, pode transformar um direito assegurado em mais obstáculo na vida da pessoa com deficiência.  

Se as empresas não reverterem esse quadro, continuarão perpetuando a exclusão e o capacitismo em seus serviços, prejudicando não apenas indivíduos, mas toda a sociedade que luta por mais equidade e respeito aos direitos humanos. 

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