Conseguimos
Comemoramos não porque tudo deu certo, mas porque conseguimos, apesar de tudo
Comemoramos não porque tudo deu certo, mas porque conseguimos, apesar de tudo
18 de dezembro de 2024 - 7h04
Fim de ano é sempre uma época de balanço. A gente olha para trás, pensa no que deu certo, no que ficou pelo caminho, no que queremos levar adiante. E, ao refletir sobre 2024, não pude deixar de lembrar de um tweet da @kremerbia que viralizou há um tempo:
“Às vezes você vai realizar seus sonhos em momentos horríveis da sua vida. Conhecer lugares incríveis quando o seu emocional está uma paçoca. Conquistas profissionais gigantes com a autoestima no pé. Viver vitórias com sabor de cabo de guarda-chuva.”
E, sabe, eu não podia concordar mais com isso.
2024 foi um ano de extremos. Na minha vida pessoal e familiar, foi um dos anos mais difíceis que já vivi. Mas, no lado profissional, foi um dos mais marcantes e gratificantes.
Olhando para as redes sociais, sempre dá um FOMO de que estão todos vivendo vidas instagramáveis. Mas por trás das lentes perfeitas dos stories, todos estamos lidando com algo.
Pode ser um conflito interno, ansiedade (quem nunca?), uma perda familiar, algo pessoal. É raro ver nossas vulnerabilidades expostas. E tudo bem, nem tudo precisa ser compartilhado.
Mas hoje eu decidi falar. Por quê? Porque nós, publicitários — criadores por essência —, acabamos criando um storytelling de perfeição nas redes sociais corporativas. Não que isso seja errado. Inclusive, só nós sabemos o quanto investimos de energia, tempo, carinho e pedaços de nós mesmos para que uma ideia veja a luz do dia.
Mas, ao mesmo tempo, precisamos desconstruir os mitos que ajudamos a construir.
Porque, na prática, a vida nunca é tão simples quanto parece no feed.
Esse ano, precisei me despedir de muita coisa. Um dos momentos mais difíceis foi quando minha mãe, após um mês internada, precisou fazer uma cirurgia arriscada. O médico nos disse que era melhor nos despedirmos dela antes da cirurgia. E eu me despedi. Foram 12 horas até a cirurgia acabar, enquanto prendia a respiração.
Ela sobreviveu. Mas, alguns meses depois, foi a vez do meu avô ser internado. Mais uma quase-despedida.
E, enquanto isso tudo acontecia, meus stories mostravam conquistas, palestras, trabalhos indo pra rua. E isso não era mentira. Mas também não era toda a verdade.
Enquanto lidava com as quase-despedidas na vida pessoal. No lado profissional, 2024 foi um ano muito muito bom. Tenho muito orgulho do que estamos construindo na Druid como time. Foi um ano em que crescemos, cheio de momentos que me senti feliz por trabalhar com o que eu amo.
E esse ano, foi marcado por esses extremos. Não pude não pensar como a vida é cheia de camadas que não vão para o feed, e guardamos pra nós mesmos para não demonstrar vulnerabilidade.
Mas, toda vez que compartilho algo mais vulnerável, recebo mensagens de pessoas dizendo: ‘Obrigado por compartilhar, me sinto menos sozinho, achei que só eu passava por esse conflito.’ E talvez seja por isso que eu escrevo este texto hoje. Porque as redes sociais, apesar de tantas coisas boas, também podem ser uma fonte constante de comparação e ansiedade. E nessa época do ano, essa sensação só se intensifica.
Mas para cada conquista que postamos no feed, há sempre algo que ficou pelo caminho.
Um hobby esquecido. Uma pilha de livros não lidos. A carinha do seu cachorro esperando pelo passeio atrasado.
A verdade é que nem sempre a vitória tem só gosto de vitória. Às vezes, ela vem misturada com perdas, renúncias e até um pouco de dor. Mas falamos pouco sobre isso.
Não estou aqui para romantizar ou desromantizar nem a vitória, nem a derrota. Mas acho que precisamos desconstruir a visão idealizada de sucesso — essa ideia de que, em algum momento, tudo vai mágicamente se alinhar. E valorizar o processo e aqueles que estão com a gente no caminho. Afinal, só você sabe pelo que passou, do que abriu mão, o que sentiu, o que deu certo, o que deu errado.
E, se você teve um ano caótico, de perdas e conflitos, e entra nas redes sociais para ser bombardeado por retrospectivas que fazem parecer que todo mundo viveu o melhor ano de suas vidas, eu só quero dizer: não se sinta sozinho. Não se cobre tanto.
Também nem sempre falamos como não vivemos a plenitude em todas as esferas ao mesmo tempo. Suas maiores conquistas profissionais podem acontecer nos momentos mais difíceis da sua vida pessoal. Ou o contrário. A vida é realmente complicated, como diria Avril Lavigne. Caótica, imprevisível, cheia de camadas e nuances.
E acho que essas histórias reais — nem sempre felizes e perfeitas, mas sempre humanas — são a razão pela qual valorizamos as conquistas. Não é o achievement em si, mas o que ele representa. É o que foi superado para chegar até ali. É o fato de que, mesmo no meio do caos, conseguimos.
Pode ser um prêmio, um job na rua, a semana em que você conseguiu ir três vezes na academia, ou o tempo que dedicou a quem ama. Pode ser um sonho profissional que se realizou, ou apenas a sensação de estar, de alguma forma, avançando.
Talvez esse seja o verdadeiro valor de comemorar. Um ato de autoamor. Comemoramos não porque tudo deu certo, mas porque conseguimos, apesar de tudo.
Esse ano eu posso dizer que consegui! E você também conseguiu. Conseguimos. E seguimos!
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