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COP29 e G20: Um mundo de contradições

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Opinião

COP29 e G20: Um mundo de contradições

O Brasil ainda está tentando servir a dois deuses: os combustíveis fósseis e a natureza; mas é impossível seguir nessa corda bamba sem cair


19 de novembro de 2024 - 15h41

Foto do G20 no Rio de Janeiro, em novembro de 2024 (Crédito: Reprodução/Instagram)

Tivemos dias agitados com a COP29 acontecendo e os motores sendo ligados para o G20 aqui no Rio de Janeiro.

O anúncio da Coalizão Brasil para o Financiamento da Restauração e da Bioeconomia foi lançado neste domingo, diretamente de Manaus, gerando esperança. A expectativa é que a Coalizão BRB apoie projetos que tenham o objetivo de conservar e restaurar pelo menos 5 milhões de hectares de florestas no Brasil, contribuindo para os esforços brasileiros de deter e reverter o desmatamento.

As metas da coalizão também incluem lançar até 2030, projetos que ajudem a sequestrar pelo menos 1 gigatonelada de emissões de CO2 e investir US$ 500 milhões em iniciativas que beneficiem povos indígenas e comunidades locais, com foco na região amazônica.

Por outro lado, o primeiro ato do Trump deve ser sair do Acordo de Paris. O novo presidente é declaradamente negacionista. Nesse meio tempo, a primeira-dama Janja Silva provoca Elon Musk, que ameaça: “Não vão ganhar a eleição”. Mais uma vez, assistimos à queda de braço de narrativas. E isso toma as conversas na internet e pelo mundo, infelizmente tirando um pouco o foco das negociações em curso.

Outro ponto de destaque e de contradição foi a presença de Ronaldinho Gaúcho na COP29. Foi a primeira vez que uma celebridade tão distante da pauta climática participa do evento. Pensando de maneira positiva, isso traz holofotes para o evento em páginas de fofoca, esportes e outras editorias além de meio ambiente. Porém, por outro lado, levanta um alerta: são os lobistas petroleiros que estão dando o tom do evento e pagando por ele, enquanto o governo do Azerbaijão usa o atleta brasileiro como cortina de fumaça.

A COP27, no Egito, teve 603 lobistas da indústria de combustíveis fósseis. Na COP28, nos Emirados Árabes, o número subiu para 2.456. Este ano, na COP29, o número de lobistas da indústria petroleira chegou a 1.773 representantes, perdendo apenas para as delegações do Azerbaijão e do Brasil. O nosso “bruxo” inaugurou o encontro entre o greenwashing e o sportswashing, inovando na maneira de camuflar práticas prejudiciais ao meio ambiente.

Essa deveria ser a COP do financiamento, mas infelizmente não é o que estamos assistindo. A sensação é de pouca confiança. O texto ficou em 200 bilhões de dólares, dobrando a última meta. Mas, para se ter uma ideia, os primeiros 100 bilhões de dólares demoraram 10 anos para serem pagos — e não foram pagos em forma de investimento, mas como empréstimos. Isso faz com que as economias em desenvolvimento se endividem mais.

Estamos financiando o endividamento, e não a resiliência climática. Não é uma ajuda real; é, na verdade, um “FMI Verde”. Os países acabam arcando com a conta, pois, se não pagarem suas dívidas externas, enfrentam diversos prejuízos econômicos. Em Dubai, tivemos grandes saltos em termos de promessa de financiamento, mas não entrega concreta, e observo que estamos indo por um caminho ainda mais lento agora em Baku. Isso aumenta a responsabilidade para o Brasil em 2025, na COP de Belém.

Outro desafio que caiu em nossas mãos esta semana foi a saída da Argentina da COP e seus bloqueios em questões de gênero e clima no G20. Nosso vizinho pode desestruturar muita coisa, já que as decisões da cúpula precisam ser unânimes.

O Brasil ainda está tentando servir a dois deuses: os combustíveis fósseis e a natureza. Mas é impossível seguir nessa corda bamba sem cair. O Brasil precisa deixar de ser uma potência verde em potencial e se tornar, de fato, uma liderança ativa e responsável, que lidera pelo exemplo. Não queremos um “Lulapalooza”, queremos proteção para os povos da floresta. O discurso é importante, mas é a prática que realmente move montanhas. Ou melhor, no nosso caso, as deixa no lugar.

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