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Da monarquia da TV Globo ao império das big techs

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Opinião

Da monarquia da TV Globo ao império das big techs

A comunicação não está apenas em como consumimos o conteúdo, mas em quem controla a exibição e o regulamenta


29 de novembro de 2024 - 14h38

(Crédito: Shutterstock)

Com dados recentes do Ibope indicando que o YouTube superou a audiência das maiores emissoras de TV aberta no Brasil, estamos testemunhando o novo elo perdido, uma transição histórica.

A TV Globo, que durante décadas foi central no Brasil, e que inegavelmente, pela sua qualidade de produção e penetração, construiu uma identidade para o País, agora perde terreno para plataformas como o YouTube.

Essa mudança, longe de ser uma democratização completa, coloca o controle nas mãos das big techs, que regulam o consumo por meio de algoritmos, e criam desafios, como, por exemplo, a falta de transparência e o vício em telas.

Embora a TV tenha contribuído para essa identidade nacional unificada, é indiscutível que ela também ofereceu uma visão limitada, especialmente sobre temas como as periferias e favelas brasileiras.

A ascensão do YouTube traz consigo o potencial de democratizar essas representações, mas agora o controle da mídia se tornou global, distante de qualquer regulação local, e as big techs moldam o que vemos, como vemos e por quanto tempo.

As plataformas digitais assumiram o papel de liderar a audiência porque popularizaram a exibição de conteúdos. Porta dos Fundos e recentemente a CazéTV são dois “blockbusters” que exemplificam bem esse movimento de engajamento e consumo: deixam de ser lineares para ser em rede.

E esse consumo personalizável e moldado por interesses individuais é uma característica poderosa do digital, que também aumenta a dependência dos algoritmos. Por sua vez, isso dificulta o surgimento de conteúdos locais e mais representativos, já que o que circula online é decidido por empresas de tecnologia fora do Brasil, sem consideração pelas realidades nacionais.

Em contrapartida, a Globo argumenta que, apesar do crescimento das plataformas digitais, a TV aberta ainda lidera a audiência nacional. Em uma pesquisa recente, ela contestou a predominância do YouTube, destacando que seu conteúdo ao vivo e alcance diário, especialmente no horário nobre, ainda são fatores que impactam os telespectadores brasileiros. Para a emissora, sua programação continua a desempenhar um papel central e abrangente, desafiando as métricas digitais que priorizam visualizações rápidas e fragmentadas.

Esse debate está longe de acabar, mas tal como a televisão não acabou com o rádio, o YouTube não acabará com a televisão. O que quero deixar registrado é que a comunicação, portanto, não está apenas em como consumimos o conteúdo, mas em quem controla a exibição e o regulamenta.

Diante desse cenário, reforço a necessidade de iniciativas tecnológicas que criem ecossistemas mais independentes e que garantam a pluralidade de vozes e representações. E, ainda nesse contexto, as iniciativas de código aberto, como o PeerTube, MediaGoblin ou o Odysee, surgem como uma esperança para uma mídia verdadeiramente democrática, onde o conteúdo possa fluir de maneira transparente e acessível, livre do controle das grandes corporações digitais ou analógicas.

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