Daniela Graicar: de jovem empreendedora a liderança global de PR
CEO da Pros e fundadora do Aladas fala sobre sua jornada no empreendedorismo e a importância das relações públicas para a reputação das marcas
Daniela Graicar: de jovem empreendedora a liderança global de PR
BuscarCEO da Pros e fundadora do Aladas fala sobre sua jornada no empreendedorismo e a importância das relações públicas para a reputação das marcas
Lidia Capitani
4 de fevereiro de 2025 - 12h44
Ainda na faculdade de jornalismo, Daniela Graicar decidiu empreender e criar sua primeira agência de relações públicas, há exatos 25 anos. Ao longo da década seguinte, fundou mais cinco agências de comunicação, cada uma com um foco diferente: conteúdo, eventos, endomarketing e brand PR.
Para simplificar, Daniela resolveu fundir suas agências em uma só, e assim nasceu a Pros, agência de PR que recentemente foi vendida para o grupo internacional Stagwell, marcando um novo ciclo nessa jornada.
Com mais de vinte anos no percurso de empreendedora, após erros e acertos, a executiva quis ajudar outras mulheres a empreender e criou o Aladas, em 2020, plataforma que capacita pessoas para o empreendedorismo, com foco no público feminino. Para além dos papeis de líder, empreendedora e mentora, ela é mãe de três, esposa e entusiasta da prática de tênis.
Nesta entrevista, Daniela Graicar fala sobre sua trajetória empreendedora, dos 19 anos ao novo momento da Pros, passando pela criação do Aladas. Ela também reflete sobre a importância das agências de relações públicas na construção da reputação das marcas frente ao contexto atual da indústria de comunicação.
Você começou a empreender jovem, aos 19 anos. O que te levou a começar cedo?
Meu pai era empreendedor, então desde pequena eu já brincava de ter meu próprio negócio. Acho que a ignorância, nesse sentido, é uma dádiva. Quando você tem 19 anos, não sabe tudo o que envolve empreender, e só pensa nas delícias do caminho. Comecei acreditando que estava superpreparada, com muita coragem e otimismo, sem olhar para trás e sem pensar que as coisas poderiam dar errado. Abri meu primeiro negócio aos 19 anos, sentindo que tinha encontrado um jeito de atuar na área de reputação.
Àquela época, eu ainda estava na faculdade, mas já me sentia mais preparada do que talvez fosse de fato. Eu era quase inconsequente, mas tinha uma vontade enorme que cativava meus clientes. Hoje, penso que, se tivesse feito o curso do Aladas, poderia ter evitado alguns erros. Quando criei o curso, pensei justamente na Dani de 19 anos, que estava começando e não tinha referências.
Você teve diferentes negócios ao longo dos anos. O que te levou a empreender repetidas vezes e como foi esse processo?
Hoje [4 de fevereiro], faço 25 anos de empreendedorismo. É inevitável fazer uma retrospectiva. Há exatamente 25 anos, abri minha primeira agência de PR, depois de alguns estágios na área. Queria fazer do meu jeito, acreditava que era possível, e assim nasceu a D&A. Dois anos depois, criei a Coletânea Editorial e surfei na onda dos blogs. Após mais dois anos, abri a Endorfina, focada em endomarketing e cultura organizacional, e, mais tarde, a MT.com Eventos e a Noticeria, uma agência de brand PR.
Ao longo de dez anos, criei e gerenciei essas empresas. Sempre fui apaixonada por negócios e pelo processo de entender as necessidades dos clientes, montar times e adaptar estratégias. Meus negócios surgiram de oportunidades que os próprios clientes me ofereciam. Eles me diziam: “Se você abrir uma empresa oferecendo esse serviço, eu contrato.”
A Pros, minha agência atual, nasceu há dez anos da fusão das cinco empresas que mencionei. Essa fusão não foi simples, pois envolvia sócios e equipes de companhias diferentes, mas não me arrependo. Estou agora em uma nova jornada, após a venda da Pros para o Stagwell, um grupo global, o que me proporciona uma visão muito mais rica sobre comunicação e tendências. Acompanhar o futuro da comunicação e ajudar meus clientes a se conectarem com as novas conversas da sociedade é algo que me motiva.
Como surgiu o Aladas?
Quando completei 20 anos de empreendedorismo, senti o desejo de ajudar outras mulheres a não cometerem os mesmos erros que eu. O empreendedorismo no Brasil já é desafiador, com sua complexidade tributária e trabalhista, mas a situação se agrava para as mulheres, que precisam se provar constantemente.
Isso me levou a criar o Aladas, um projeto focado em mulheres empreendedoras, que se materializou em 104 videoaulas com homens e mulheres que me inspiraram ao longo da minha jornada. O curso abrange desde hard skills, como P&L, estratégias de venda e treinamento de porta-voz, até habilidades como resiliência e coragem. O Aladas foi feito com uma abordagem voltada para o público feminino, mas é útil para qualquer pessoa que queira empreender.
No curso, mostro o caminho para que a pessoa possa pesquisar mais sobre áreas que não são suas fortalezas. A empreendedora não pode se dar ao luxo de ser boa apenas em uma coisa, ele precisa ter uma visão sistêmica do negócio, entender as disciplinas envolvidas, mesmo que não se torne expert em todas elas.
Em agosto do ano passado, o Aladas também se transformou em um clube de alta liderança, com uma programação semanal e encontros presenciais. Nele, oferece conteúdo e aulas com convidadas sobre temas como psicologia positiva, escolhas, amor, perdão e educação dos filhos. Além disso, também desenvolvi a MentorEla, uma plataforma de mentoria para mulheres, conectando quem precisa de apoio com mentoras dispostas a ajudar.
Como as agências de PR podem se manter relevantes e entregar resultados robustos na indústria da comunicação?
Cada vez mais as pessoas têm entendido o valor da reputação, tanto no âmbito pessoal quanto corporativo, além da importância de construir e preservar essa imagem. Vivemos em um mundo polarizado, com crises frequentes e fake news em alta, por isso, construir uma reputação nunca foi tão desafiador e complexo. Afinal, destruir a reputação de alguém se tornou muito fácil, especialmente nas redes sociais.
Para quem trabalha construindo e cuidando da reputação, isso é um grande desafio, mas também uma oportunidade. Nunca foi tão importante para as marcas liderarem suas próprias conversas e construírem uma agenda positiva. Se elas não fizerem isso, alguém fará por elas. E liderar conversas em meio a tantos assuntos não é simples. O PR tem se tornado cada vez mais consultivo, mais relevante e mais próximo das altas lideranças, incluindo CEOs, que são responsáveis pela agenda reputacional das organizações.
As marcas precisam entender quais narrativas fazem parte de sua identidade e quais não fazem. Como especialistas em reputação, ajudamos as organizações a escolher as conversas certas e, mais do que isso, a definir como devem entrar ou não nas discussões.
Por outro lado, a dinâmica mudou. Não são mais apenas cinco veículos que podem formar ou destruir uma reputação. Hoje, qualquer pessoa tem o poder de influenciar a reputação de uma marca, o que torna o monitoramento e a seleção do que é relevante mais complexo do que era no passado. Antes, poucas pessoas eram necessárias para fazer isso. Agora, precisamos de uma equipe muito maior.
Como você descreveria seu estilo de liderança?
Eu me importo com a forma como as coisas são feitas e com as pessoas que estão trabalhando na organização. Tenho a capacidade de sentir o ambiente, perceber quem está bem e quem não está, entender como as coisas estão fluindo. Isso se aplica a todos os aspectos, seja na relação com o cliente ou no relacionamento interno.
Acredito que minha liderança é fundamentada na curiosidade. Tenho curiosidade sobre o que está por vir, sobre como as coisas são feitas, sobre a satisfação do cliente, sobre o que é notícia ou não. Essa curiosidade me impulsiona e é uma das minhas maiores forças. Minha liderança é, portanto, baseada nesse interesse genuíno pelos outros e pela forma como as coisas acontecem. Busco sempre envolver as pessoas nesse processo, pois quanto mais pessoas puderem contribuir com suas perspectivas, mais rica será a solução.
Qual foi o maior desafio da sua carreira e como você lidou com ele?
O maior desafio foi, sem dúvida, vender a empresa. Durante esses anos, a Pros foi como um filho para mim. O principal desafio foi conseguir passar para quem assumiria o que a empresa significa para mim e garantir que ela não perdesse a sua essência. Foi um jogo de xadrez, com dois anos de negociações, mas consegui cercar a Pros de todas as oportunidades que sonhava para ela crescer, sem comprometer nossos valores e a cultura que nos trouxe até aqui. Meu desafio era honrar o legado da empresa, mas também ter uma visão de futuro que fosse estimulante e gratificante. Acho que consegui alcançar isso, mas, sem dúvida, foi o maior desafio.
Qual conselho de carreira você daria para a Daniela do passado?
Acho que diria para não perder a confiança em mim mesma e manter essa chama acesa. Entretanto, também aconselharia a aprender a lidar com o desconhecido de uma forma mais leve. A gente nunca domina tudo, nem todas as variáveis ou as reações dos outros. Nem todo mundo responde positivamente ao que você apresenta ou cria. Eu diria para a Daniela: você não vai agradar a todas as pessoas, porque isso é impossível, então aprenda a lidar com isso.
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