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Opinião

Desigualdade, juventude e gênero

Um futuro menos desigual passa por ações concretas, agora, de inclusão, respeito e valorização dos jovens


8 de novembro de 2024 - 14h27

(Crédito: Shutterstock)

Não levo muito jeito para o pessimismo, mas ultimamente tenho refletido muito sobre o que estamos chamando de “desafios do futuro”. Na verdade, eles já estão aqui hoje. Um futuro menos desigual passa por ações concretas, agora, de inclusão, respeito e valorização dos jovens.  

Ainda nessa lista, eu ousaria destacar a interseccionalidade com o tema de gênero. As mulheres precisam ser consideradas em todas as esferas de plano de desenvolvimento. Convido você a refletir sobre o futuro dos jovens e das mulheres. 

Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que utilizou dados da Pnad Contínua, revelou que o Brasil é o segundo, entre 37 países, com maior número de jovens que não estudam, nem trabalham, um total aproximado de 10 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos.  

Em entrevista ao CI&T Podcast, o Programme Officer da iniciativa Um Milhão de Oportunidades (1MiO) na Unicef Brasil, Felipe Gonzalez, revelou que, em 2022, o Brasil tinha a maior geração de jovens da história, aproximadamente 48 milhões de pessoas com idades entre 18 e 24 anos, o que representava 23% da população brasileira. À época, o país contava com 14,8 milhões de desempregados e 76% deles eram jovens entre 18 e 24 anos. 

Os dados apresentam dois lados da mesma moeda. Por um lado, temos um potencial imenso de talentos desperdiçados. Por outro, corremos o risco de perpetuar um ciclo de desigualdade e exclusão social. 

De acordo com o Itaú Educação e Trabalho, em uma pesquisa publicada no ano passado, o aumento da oferta de Ensino Médio Técnico pode ampliar em até 2,3% o PIB brasileiro. Não que ampliar o PIB esteja diretamente relacionado à redução das desigualdades, porém, a inserção de mais pessoas no mercado de trabalho promove a geração de renda. 

Ao investir em educação de qualidade e em programas de capacitação profissional para a juventude, gera-se a oportunidade de um “agora” melhor. Jovens bem-preparados impulsionam a inovação e a transformação social. Abrir as portas para juventude é fundamental, mas as empresas precisam estar atentas a qual tipo de contratação estão fazendo: diversidade e equidade precisam estar na pauta. E, sempre, sem exceção, os desafios serão maiores para as mulheres. 

Não basta apenas oferecer oportunidades, é preciso garantir que elas sejam acessíveis a todos e todas. Diversidade e inclusão devem ser pilares fundamentais em qualquer estratégia de desenvolvimento. Falei um pouco sobre a importância da diversidade na formação de equipes (e sobre caruru) na minha última coluna, vale a pena a leitura. 

Nela, trouxe dados que provam que equipes diversas são mais efetivas. Uma pesquisa de 2019, realizada pela consultoria Accenture, já revelava que companhias inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras e têm funcionários seis vezes mais criativos. 

No início de outubro, estive com tantas outras colegas, no Summit Internacional, no Rio de Janeiro. Um evento realizado pelo W20, grupo de engajamento que visa promover a equidade de gênero que faz parte do G20. Nele, foi entregue ao governo brasileiro, que está na presidência do grupo que reúne as maiores economias do mundo, uma carta com recomendações para a equidade de gênero e empoderamento econômico das mulheres.  

O documento aponta caminhos para avanço em cinco pontos, considerados prioritários: empreendedorismo feminino, economia do cuidado, justiça climática e mulheres, violência contra mulher, e desenvolvimento e promoção das mulheres no STEAM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). 

Todos os temas são extremamente relevantes, mas um me chamou mais atenção, já que tenho conhecido mais sobre a abordagem STEAM no meu trabalho na Fundação ArcelorMittal. Lembrei-me de um relatório publicado pela Unesco, em 2021, que apontava para os desafios da representatividade feminina, especialmente nessas áreas exatas e científicas.  

Apesar dos empregos nas áreas STEAM serem considerados os “empregos do futuro”, estima-se que apenas uma mulher, para quatro homens, consiga emprego nelas. Esta lacuna ainda é reforçada por estruturas sociais machistas e pouco inclusivas.  

É preciso estimular a participação de mulheres nas carreiras STEAM e romper com estereótipos de gênero associados à economia do cuidado, outro ponto listado pelo W20, tão limitada às mulheres ainda nos dias de hoje. 

O futuro é moldado pelas ações que realizamos hoje. Se não colocarmos a lupa nas questões que já são desafios, como a empregabilidade da juventude, especialmente das mulheres, quando iremos mudar a realidade?  

Recentemente, trouxe essa provocação para minha equipe, o que resultou em um programa de inclusão produtiva para as jovens mulheres em carreiras STEAM. Penso que diariamente devemos estar atentos e atentas às decisões que estamos tomando e às contribuições que estamos dando com a nossa força de trabalho.  

É um desafio estrutural, mas também um trabalho de formiguinha, nas pequenas decisões, olhares e direcionamento de esforços. Temos muito a fazer e podemos fazer mais, concorda? 

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