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Dia da mulher: que machismo estamos desconstruindo de fato?

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Opinião

Dia da mulher: que machismo estamos desconstruindo de fato?

Como é possível discutir questões de desigualdade salarial entre mulheres e homens e continuar normalizando a tarefa de lavar a louça, mesmo que seja em um churrasco entre amigos ou família?


8 de março de 2024 - 17h19

(Crédito: Adobe Stock)

No Dia da Mulher, é impossível não refletir sobre o quanto o machismo está estruturado em nossas ações. Já parou para refletir sobre quantas atitudes machistas estão normalizadas no nosso dia a dia? Atitudes básicas como a responsabilidade pela economia doméstica, pela educação dos filhos, pela organização da casa (e esse é um item recheado de machismo), além das complexidades relacionadas à desigualdade entre mulheres e homens no campo profissional. Diante disso, que machismo de fato estamos desconstruindo?

A pandemia, que mudou muitos paradigmas na sociedade, parece não ter trazido mudanças para diminuir as atitudes machistas. Ao contrário, piorou. Na reclusão de nossos lares, assistimos os índices de feminicídio aumentarem, assim como a piora no desemprego e na desigualdade entre homens e mulheres. Ainda trouxe ingredientes a mais na jornada da mulher, na rotina doméstica.

Com a consolidação do trabalho remoto, nossa jornada de trabalho é tripla. Hoje, um homem consegue respirar, tirar um cochilo e até fazer uma atividade física no horário de almoço, antes ou ao fim do seu expediente remoto. Para nós, esse tempo não é nosso. Nunca é. Qualquer minuto de folga é o bastante para estender uma roupa no varal, cuidar da lista ou ir ao supermercado, acompanhar a tarefa das crianças, pensar no médico, nos exames de rotina, no remédio, enfim, na saúde de toda a família.

A mulher sempre tem tarefas a fazer. Como é possível discutir questões de desigualdade salarial entre mulheres e homens e continuar normalizando a tarefa de lavar a louça, mesmo que seja em um churrasco entre amigos ou família? É dela que é cobrada a organização e a limpeza da casa. Como podem as pessoas em seu entorno não se assustarem com a quantidade de atividades que alguém determina que ainda sejam de responsabilidade da mulher realizar?

Assim vamos cometendo essas microagressões, perpetuando comportamentos machistas, quando dizemos frases que depositam na mulher uma responsabilidade que não deveria ser apenas dela, como: “Nossa, a mãe não viu que ele saiu de casa com essa roupa?”, “Sua mãe não te dá educação?”, “Sua mãe não arrumou a casa?”, “O que vamos comer hoje?”.

O quanto atuamos como colaboradores dessas opressões do dia a dia da mulher? O fato é que todas as injustiças que não podem mais ser toleradas no mundo do trabalho deixamos passar dentro de casa, contra as mulheres com quem mais convivemos e amamos.

Estar calado diante de situações opressoras e machistas é contribuir para estender esse machismo desde a educação dos nossos filhos, a convivência em família e até a vida profissional. Isso colabora para que as mulheres tenham de aceitar ainda mais abusos no trabalho, em casa, nas ruas. É banalizar nossos direitos.

Precisamos começar cedo essa desconstrução. Aprender e ensinar que não existem tarefas de meninos e de meninas. Não existe cor, gosto, comida, bebida, roupa, credo, esporte ou qualquer outra coisa que seja específica para um gênero e não para outro.

Aceitamos conviver com o fato de que o rendimento médio real das trabalhadoras do país é 20,8% menor que o dos homens, segundo dados da Pnad Contínua divulgados pelo IBGE no último trimestre de 2023. Enquanto eles recebem em média R$ 3.233, nosso rendimento fica em torno de R$ 2.562. E seguimos calados diante de mais essa injustiça, apoiando a opressão e os opressores, o que diminui melhores expectativas de um futuro mais justo para as mulheres.

Entre as pessoas com deficiência no mundo do trabalho, a desigualdade também se reflete. As mulheres com deficiência ocupam menos cotas nas empresas que os homens. Apenas 32% de mulheres com deficiência estão ocupando as cotas previstas na lei.

Quem trabalha com inclusão, diversidade e equidade se dá conta de que essa atividade é muito mais sobre acabar com as opressões e ajudar a tratar os efeitos das microagressões do que os marcadores sociais que são expostos todos os dias. Mais que atuar por um marcador em especial, quem trabalha com causas foca no fim das opressões. Todo o restante é consequência.

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