Diversidade e inclusão em risco: o preço do retrocesso
Se queremos um futuro menos díspar, precisamos garantir que alguns avanços sejam estruturais e inegociáveis
Diversidade e inclusão em risco: o preço do retrocesso
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7 de abril de 2025 - 10h41
(Crédito: Shutterstock)
Nos primeiros meses do governo Trump, ficou muito claro para mim que um movimento de retrocesso estava em curso. Em questão de semanas, o presidente assinou ordens executivas que desmontaram políticas progressistas construídas ao longo de anos. Ele baniu cidadãos de países majoritariamente muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos, revogou diretrizes de proteção para pessoas trans em escolas públicas e enfraqueceu regulações ambientais e trabalhistas sob a justificativa de estimular a economia. Essas ações não foram apenas simbólicas – elas sinalizaram ao mundo que pautas de diversidade, inclusão e direitos humanos estavam deixando de ser prioridade para se tornarem alvos de ataque.
O impacto desse movimento não ficou restrito aos EUA. Ondas conservadoras ganharam força em diversas nações, impulsionadas pela retórica trumpista e pela ascensão de líderes com discursos nacionalistas e anti-inclusão. Países como a Inglaterra, que historicamente se posicionaram como líderes da social-democracia, também abraçaram uma agenda política mais conservadora. O Brexit, por exemplo, teve como uma de suas motivações a proteção de “valores tradicionais” e a redução no acolhimento de imigrantes. Outros países da Europa seguiram a mesma linha, enfraquecendo políticas de inclusão, apoio a refugiados e igualdade social.
Portanto, a minha preocupação com as políticas do governo Trump não são apenas com a questão americana, mas sim um reflexo de um movimento global que precisa ser monitorado com atenção.
Devemos ter em mente que, por mais que possamos estar em posições privilegiadas em nossas carreiras, o Brasil ocupa uma posição ainda muito atrás na fila do progresso mundial. O desafio de superar a desigualdade social, melhorar a educação, fortalecer a saúde e criar um ambiente mais justo é gigantesco. A evolução da nossa sociedade depende do fortalecimento das políticas de inclusão, da defesa dos direitos humanos e da garantia de que as vitórias conquistadas não sejam esvaziadas em um momento de crise.
No meio empresarial, a resposta a esse novo cenário revelou uma dura realidade. Acreditava-se que a consciência sobre diversidade e inclusão atravessava todos os níveis de maneira transversal dentro das corporações, que esse era um compromisso genuíno do setor privado. No entanto, ficou evidente que, para muitas companhias, esses valores eram apenas uma estratégia de mercado para maximizar resultados. Assim que o vento mudou e a inclusão deixou de ser uma tendência rentável, muitas empresas recuaram, cortando investimentos e reduzindo seus compromissos.
A verdade é que diminuir a desigualdade beneficia a todos. Parece óbvio, mas diante do cenário atual, esse óbvio precisa ser reafirmado. A violência, uma pauta constante nos noticiários, pode ser significativamente mitigada com mais oportunidades e condições equivalentes para todos.
As big techs, que até então pareciam liderar um novo modelo de negócios socialmente responsável, passaram a desmontar programas de diversidade, eliminar equipes voltadas à inclusão e tratar o ESG como um custo dispensável. Layoffs massivos atingiram desproporcionalmente mulheres, negros e outras minorias, evidenciando que, quando a crise bate à porta, os avanços conquistados são os primeiros a serem sacrificados.
Mas, apesar dessa situação desanimadora, sigo acreditando que ainda existe muita gente com consciência real sobre a importância da diversidade e inclusão. E, mais do que isso, acredito que os espaços conquistados não podem regredir. Uma sociedade desigual não prospera, ela apenas amplia seus conflitos, gera mais violência e deteriora seu tecido social.
A volta do medo, o enfraquecimento das políticas inclusivas e o fim da cooperação internacional para o desenvolvimento de países emergentes criam um ambiente propício para o retrocesso e para a selvageria.
O momento exige resistência e um compromisso real. Diversidade não pode ser apenas marketing, e inclusão não pode ser tratada como um luxo descartável. Se queremos um futuro menos díspar, precisamos garantir que esses avanços sejam estruturais e inegociáveis.
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