Diversidade em queda?
O desafio de manter a agenda, tão quente há poucos anos, no centro das decisões
O desafio de manter a agenda, tão quente há poucos anos, no centro das decisões
19 de novembro de 2024 - 8h53
Tenho ouvido de colegas e em grupos de discussão que o tema diversidade e inclusão, tão quente há poucos anos, estaria perdendo força no ambiente corporativo. Essa percepção levanta uma dúvida importante: o assunto está mesmo esfriando?
Ao longo da minha trajetória como mulher negra em uma posição de liderança, observo com atenção esse tipo de movimento. E, embora seja inegável que a diversidade e a inclusão tenham enfrentado altos e baixos no mercado, essa pauta continua sendo essencial para mim, algo que precisa estar no centro das conversas empresariais, sempre.
A sensação é de que, após acontecimentos de impacto global, como o movimento Black Lives Matter, houve um pico de atenção sobre diversidade, inclusive nas empresas, mas, agora, esse interesse parece ter diminuído. De fato, vez ou outra surgem notícias de empresas dissolvendo áreas dedicadas à diversidade e líderes de grandes corporações fazendo declarações que questionam o valor dessas iniciativas.
Acredito que essa abordagem esporádica é o grande problema. Diversidade não pode ser vista como um projeto com prazo de entrega. Se não for incorporada à cultura organizacional e ao negócio, sua sustentabilidade fica ameaçada.
Para ilustrar a urgência do tema, basta olhar para os dados. O último censo realizado pelo Instituto Ethos com as 1.100 maiores empresas brasileiras mostrou que, apesar do número de mulheres negras trainees chegar a 53,7%, superando o de homens brancos (9%), apenas 3,4% das mulheres negras ocupam cargos executivos.
A mesma situação é observada nos conselhos de administração, responsáveis por tomar as decisões estratégicas das empresas, onde só encontramos 1,8% de mulheres negras, contra 77% de homens brancos.
Esse número é chocante e reflete a necessidade de mantermos o tema vivo e pulsante. Afinal, sabendo que as mulheres compõem a maioria da população brasileira e que as pessoas negras também representam uma grande parcela, qualquer empresa que não seja inclusiva pode estar limitando seu acesso a um vasto grupo de talentos. Assim, continuar falando sobre diversidade e inclusão se apresenta como uma necessidade. Se esses números não forem encarados de frente, jamais conseguiremos avançar para um mercado verdadeiramente inclusivo.
Recentemente, falei sobre como nós incorporamos esses valores nas nossas operações diárias. Não se trata apenas de programas de contratação de profissionais negros ou iniciativas voltadas para grupos sub-representados dentro das organizações. Acreditamos que a inclusão precisa estar enraizada nos nossos princípios de liderança. E é justamente esse engajamento contínuo que impede que a diversidade se torne apenas uma moda passageira. Embora o mercado possa estar emitindo sinais mistos, eu, pessoalmente, vou continuar a usar minha voz para defender a importância da diversidade e inclusão.
Ainda há um longo caminho pela frente. Cada vez que os números, como os do Instituto Ethos, são divulgados, reforça-se a necessidade de manter essa conversa ativa. Não podemos deixar esse assunto ser tratado como uma tendência efêmera. Se não mantivermos a chama acesa, não haverá progresso.
A diversidade, portanto, não é uma agenda que podemos abandonar. Ela deve ser um pilar contínuo de transformação, e eu estarei sempre aqui, usando meu palco e minhas plataformas para manter essa discussão viva. Afinal, o que está em jogo não é apenas representatividade, mas a criação de um mercado mais justo e inclusivo para todas e todos.
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