Do Tinder ao topo: como Valentina Bandeira conquistou a internet
A atriz, apresentadora e criadora de conteúdo conquistou o mundo digital com seu humor, personalidade e uma parceria estratégica com o Tinder
Do Tinder ao topo: como Valentina Bandeira conquistou a internet
BuscarA atriz, apresentadora e criadora de conteúdo conquistou o mundo digital com seu humor, personalidade e uma parceria estratégica com o Tinder
Lidia Capitani
17 de outubro de 2023 - 7h46
Criada nas coxias do teatro, Valentina Bandeira começou sua carreira ainda jovem, como atriz em produções teatrais. Filha do bailarino e produtor Ricardo Bandeira, ela conquistou de vez os brasileiros quando resolveu compartilhar suas tiradas satíricas e seus questionamentos profundos nas redes sociais. Desde então, sua vida mudou por completo. Ela assumiu um compromisso com o Tinder, aplicativo de paquera, e passou a ser a personificação da marca em dois projetos de conteúdo. Além de comandar o podcast “Match o Papo”, Valentina virou apresentadora do reboot do programa “Beija Sapo”, um sucesso da MTV nos anos 2000, na época apresentado por Daniella Cicarelli.
Nesta entrevista, Valentina conta como aconteceu sua explosão viral na internet e falou sobre os projetos que pretende levar adiante para seguir na carreira de criadora de conteúdo digital. Além disso, ela manda a real sobre ser uma influenciadora de destaque: autenticidade não basta, é preciso ter conteúdo e parcerias sólidas.
Conte um pouco sobre a sua trajetória profissional.
Minha jornada profissional teve início nos bastidores do teatro, quando ainda era uma criança. Meu pai era coreógrafo e produtor de peças no Tablado (escola de teatro do Rio de Janeiro), o que me permitiu crescer imersa no mundo do teatro na cidade. Desde cedo, parecia natural que eu seguiria esse caminho. Ainda na infância, eu demonstrava interesse pela atuação e era bastante desinibida.
Aos 13 ou 14 anos, tive a oportunidade de atuar em uma peça chamada Cabaré Valentim, onde eu era a única jovem entre homens adultos. Esse papel chamou bastante atenção e foi um marco na minha carreira, colocando-me sob os holofotes da produção. Continuei trabalhando no teatro, até atingir a maioridade, quando finalmente pude me aventurar na produção audiovisual.
Aos 18, participei de uma peça em celebração aos 60 anos do tablado, o que me rendeu diversos convites para testes e projetos. Passei a fazer parte de uma novela da Globo, seguida por outras produções televisivas, incluindo o elenco do “Zorra”, onde permaneci por quatro anos.
Mais tarde, minha carreira deu uma guinada significativa quando ganhei visibilidade na internet. Fui convidada para apresentar um programa e um podcast para o Tinder, o “Match o Papo”. Nos últimos dois anos, minha carreira passou por uma bela metamorfose.
Você começou a fazer sucesso na internet ainda na pandemia. Como foi esse momento para você e por que acha que as pessoas gostaram tanto do seu conteúdo?
Acredito que as pessoas me viram como uma garota engraçada, completamente desprovida de qualquer intenção estética, sabe? Simplesmente era eu mesma, sem me importar com padrões ou convenções, e dizendo coisas loucas e profundas que, para serem compreendidas, exigiam muita lucidez.
Era como se eu estivesse fazendo uma análise livre, e as pessoas se identificaram com essa autenticidade. Ficaram curiosas, e isso deu uma despressurizada. Naquela época, a internet estava saturada de imagens estereotipadas de perfeição e organização, e apareci quebrando todos esses paradigmas. Eu era uma garota engraçada e incrivelmente inteligente, com um senso de humor perspicaz, e acho que as pessoas se conectaram com isso.
Além disso, entrei em um campo predominantemente masculino, no universo da comédia, ao lado de diversos comediantes homens. Foi uma escolha estratégica minha, consciente, que fiz para penetrar nesse território. Acredito que havia uma falta de representatividade feminina nesse meio, e eu queria preencher essa lacuna de propósito.
Você tem construído uma relação de longo prazo com o Tinder. Como aconteceu essa parceria?
Na verdade, o Tinder me presenteou com um podcast, algo que eu rapidamente adotei como meu. E, assim, me tornei a voz da empresa e passei a representá-los, como uma pessoa pensante, cheia de vida, com desejos próprios e falando sobre estilo de vida.
Acho que nesse aspecto, nossa relação foi pioneira. Foi uma parceria genuína entre uma marca e uma pessoa. Eu humanizei o Tinder e trouxe aspectos da minha vida pessoal para o podcast, o que tornou tudo muito confortável e acessível. As pessoas podiam se identificar porque eu estava falando sobre minha vida pessoal. Fui transparente sobre meus relacionamentos, fui franca, honesta e verdadeira. Acredito que isso fez toda a diferença.
Agora, você está à frente do reboot do MTV Beija Sapo, também em parceria com o Tinder. Como tem sido essa experiência e qual é o diferencial desta nova versão do programa?
O que torna o meu trabalho especial é minha abordagem única e diferente para fazer piadas. Percebo que as dinâmicas mudaram muito ao longo dos últimos 20 anos, e nós acompanhamos essas mudanças, seja na forma como interagimos com as pessoas ou no desenvolvimento do roteiro. O programa é muito moderno, tanto na concepção quanto na construção narrativa, e estamos constantemente nos atualizando para que ele esteja sempre relevante para o público atual.
Eu costumava assistir muito ao programa original. Na verdade, era uma fã fervorosa da Cicarelli. É algo completamente surreal para mim estar apresentando esse programa agora. É realmente inacreditável e uma das melhores coisas que poderiam ter acontecido na minha vida, sabe? É uma sensação incrível.
Mais recentemente, você também passou a criar conteúdo para o YouTube. Como você tomou essa decisão e o que pretende oferecer no canal?
A decisão de criar meu próprio canal foi muito pensada. Eu estava em busca de uma plataforma mais estável, pois estou prestes a completar 30 anos. Nessa fase da minha vida, minha relação com a internet mudou. Queria algo mais expansivo, onde pudesse me comunicar melhor, expressar mais ideias e explorar com profundidade diversos temas.
Minha ambição para esse canal é transformá-lo em uma plataforma ampla, onde eu possa realizar todos os meus desejos e projetos. É uma maneira de acompanhar minha jornada, mas também de ter a liberdade de ser independente e ter controle sobre o que faço. Sempre sonhei com essa autonomia.
A internet me deu essa capacidade de inventar, criar e não ser apenas uma figura passiva, como me sentia quando era atriz. Não queria mais esperar por oportunidades, minha vontade era fazer as coisas acontecerem por conta própria. Agora, com esse canal, tenho a oportunidade de investir, ganhar dinheiro e reinvestir na produção, permitindo que as coisas se desenvolvam de forma orgânica. Esse é, atualmente, o meu maior sonho: criar algo que cresça e evolua naturalmente.
Qual conselho daria para uma influenciadora que está começando agora? Como ela pode se destacar?
Cara, meu conselho é algo que todo mundo diz: seja autêntico. Mas, também, seja um consumidor voraz. Consuma tudo, absorva tudo o que puder. Veja o que as pessoas estão fazendo para chegar lá com uma estratégia bem pensada. O que me levou até aqui foi estar completamente imersa em conteúdo, 24 horas por dia. Isso me deu um instinto para fazer as coisas darem certo e entender os timings.
Além disso, é importante buscar trabalhar com pessoas talentosas. Aqui em São Paulo, por exemplo, descobri profissionais incríveis que estão transformando minha vida. Cheguei com muito conhecimento sobre meu público, o tipo de conteúdo que posso criar e o que funciona com minha audiência. Mas quando me juntei com parceiros talentosos, cresci ainda mais. Então, minha dica é encontrar bons colaboradores e estar sempre atento para desenvolver esse instinto aguçado sobre como fazer as coisas funcionarem.
Hoje, você se entende como uma marca?
Sim, me percebo como uma marca e, sinceramente, adoro essa ideia. Gosto de me envolver no mundo pop e tudo o que diz respeito à minha imagem enquanto comunicação. A intimidade que o público tem comigo e como minha imagem se conecta com diversas outras coisas me fascina. Investimos muito em estética, conceitos, roupas e muitos outros elementos para construir uma identidade visual forte. Estamos realmente falando de identidade visual, mas algo que vai além da estética. É sobre construir uma marca com personalidade e significado.
Quais são seus sonhos e projetos para o futuro?
Tenho tantas ideias, tantos sonhos e coisas que adoraria realizar. Um dos meus maiores desejos é fazer o remake de “O Cravo e a Rosa”, assumindo o papel da Adriana Esteves. Seria um sonho na televisão. Tenho também o desejo de investir em pessoas, criar produtos, e com as Olimpíadas chegando a Paris, tenho a esperança de unir meu lado francês ao brasileiro de alguma forma, profissionalmente.
Estou cheia de desejos, incluindo consolidar o Beija Sapo e apresentar ainda mais programas. Quero me tornar uma grande comunicadora e ter um lugar especial na vida dos brasileiros. Há tantos sonhos que me impulsionam, tantos caminhos que ainda quero trilhar.
Por fim, indique três livros, séries e filmes que você consumiu recentemente.
“O Ateliê”, do Chico Felitti, é realmente inspirador, ouvi falar muito bem desse podcast. Também vi a série “Os Outros”, na Globoplay, e é realmente ótima. Quanto ao livro, eu indico “Tudo é Rio”, da Carla Madeira. A maneira como ela descreve as pequenas sensações da vida cotidiana é muito encantadora. A habilidade dela em encontrar analogias brilhantes e seu olhar sensível para o mundo e o amor são admiráveis.
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