É triste presenciar a eliminação do Brasil na Copa, mas o jogo continua
Resta acompanharmos de longe e continuar na torcida por mais emancipação e conquistas femininas no Catar
É triste presenciar a eliminação do Brasil na Copa, mas o jogo continua
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14 de dezembro de 2022 - 17h08
Agora já são 30 dias longe do Brasil. Ainda faltam oito e seguimos por aqui cobrindo o maior evento esportivo do futebol do mundo. Doha já está bem mais vazia, apesar da sensação de que durante todo o campeonato vimos poucos lugares completamente cheios. Falta pouco para sabermos quem será o grande campeão desta edição. Sigo contemplando a paisagem bege, com grandes vias, prédios modernos e antigos compondo um cenário muito diferente do que vemos no Brasil.
Nessa última semana, tivemos algumas reviravoltas com os jogos que deixaram os brasileiros desiludidos. Não veremos mais o Brasil, a Alemanha ou a Espanha. Mas, ao mesmo tempo, foi lindo testemunhar Marrocos chegar à semifinal pela primeira vez na história, abrindo caminhos vitoriosos para as seleções africanas. Eu estive no estádio e foi emocionante estar no meio deles, que não param de cantar nem por um minuto sequer. Presenciei mulheres, crianças, famílias inteiras comemorando, chorando e agradecendo pelo feito inédito.
Não tinha quem não se emocionasse vendo aquilo tudo acontecer. Afinal, não é todo dia que vemos uma seleção europeia perder e dar lugar a uma seleção africana. Era inimaginável que isso fosse acontecer frente a tudo que a seleção portuguesa representa. E como dizem na linguagem do futebol, o jogo nunca está ganho e Marrocos conseguiu surpreender o mundo. E, apesar da tristeza pela eliminação brasileira, o coração está quentinho e feliz ao ver tantas coisas imprevisíveis acontecerem. Que campeonato!
Fora dos campos
Durante a semana, fomos à praia pela primeira vez e encontramos mulheres muçulmanas e turistas convivendo. Esse lugar, que fica ao lado do estádio 974, e que já está em processo de desmontagem, pode-se frequentar com roupas de banho mais ocidentais, mas mesmo assim havia pessoas vestidas de maneiras bem diferentes. Cada uma com sua cultura e seus costumes. Mas uma coisa que não muda nunca, em lugar nenhum por aqui, é a presença majoritária dos homens. As mulheres seguem sendo minoria nos espaços catares.
Apesar disso, demos um mergulho no mar usando nossas roupas de banho que costumamos vestir no Brasil. Claro que alguns olhares incomodam, mas tinham outras mulheres europeias fazendo o mesmo, o que nos deixou mais à vontade. Assim como, quando frequentamos os restaurantes ou bares dos hotéis, presenciamos muitas mulheres comendo, bebendo e se divertindo, como fazemos no Brasil.
Após todo esse tempo por aqui, deu pra entender e sentir na pele que o Catar não é um país que dá protagonismo às mulheres de nenhuma maneira. E aí, fica a pergunta: mas e as mulheres que vivem aqui? Será que elas são felizes vivendo dessa forma? Na minha visão, esse é o ponto paradoxal, pois quando questionadas, a maioria diz que essa é a cultura delas, a forma que estão acostumadas a viver. E, quando andamos pelo shopping, por exemplo, uma curiosidade que notamos na região é a quantidade de lojas de lingerie. São muitas, e de marcas ocidentais. Pudemos perceber muitas dessas mulheres consumindo esses produtos.
Agora, quando conversamos com mulheres que vieram de países ocidentais para viver aqui no Catar com suas famílias, os pontos positivos mais destacados são sempre sobre a segurança, a qualidade de vida e o poder aquisitivo. No entanto, muitas mandam seus filhos para faculdade em países próximos, como Austrália ou outros da Europa.
De qualquer forma, mudanças culturais vêm acontecendo no país nos últimos anos. Resta acompanharmos de longe e continuar na torcida por mais emancipação e conquistas femininas por aqui.
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