Empreendedorismo feminino é pauta do G20 no Brasil
Para o encontro deste ano, W20 debate como o empreendedorismo feminino pode promover a autonomia das mulheres
Empreendedorismo feminino é pauta do G20 no Brasil
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Lidia Capitani
7 de agosto de 2024 - 15h48
Em 2024, o Brasil é o país-sede do encontro do G20, fórum internacional que reúne as maiores economias do mundo para discutir políticas econômicas globais. Um dos grupos de engajamento é o W20, que pauta as discussões sobre gênero e empoderamento feminino. Este ano, o grupo do W20 definiu cinco pautas prioritárias para debater e propor soluções: mulheres em STEM, enfrentamento da violência contra as mulheres, economia do cuidado, justiça climática e empreendedorismo feminino.
Ana Fontes é a presidente da delegação brasileira do W20 desde 2017, além de liderar o grupo de trabalho sobre empreendedorismo feminino neste ano. A líder não é novata no assunto: ela é fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora, organização que apoia e promove o empreendedorismo entre as mulheres.
A pauta também não é novidade nas discussões do W20: ela já apareceu em anos anteriores, assim como os temas de combate à violência contra as mulheres e mulheres em STEM. Este ano, entretanto, o grupo adicionou duas novas pautas, a de justiça climática e economia do cuidado, e está focado em ser cada vez mais assertivo em suas recomendações.
Na pauta de empreendedorismo feminino, um dos temas debatidos foi o acesso das mulheres a capital, seja crédito, fundos de investimentos, ou investidores-anjos. “As mulheres são menos aprovadas para crédito, menos inseridas no mercado financeiro, e têm participação minúscula em anjos investidores, ventures capital e fundos de investimento”, afirma Ana Fontes.
Por isso, o grupo estabeleceu medidas concretas para que órgãos públicos enderecem essa questão. “No nosso documento, recomendaremos que mecanismos sejam criados para melhorar esse acesso, criando linhas específicas para mulheres, inclusive envolvendo bancos multilaterais como BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento], World Bank e o Banco dos BRICS”.
O segundo ponto debatido diz respeito às compras sensíveis à gênero. “Isso significa que órgãos governamentais e empresas privadas devem destinar parte de suas compras a grupos minorizados, como mulheres em toda a sua pluralidade: negras, indígenas, 50+, quilombolas, entre outras. Acreditamos que isso pode mudar o jogo para elas, permitindo que vendam seus produtos e serviços para grandes empresas e organizações, ajudando seus negócios a prosperarem”, avalia a CEO.
A terceira questão diz respeito à necessidade de conectar mais mulheres ao universo da inovação. “No Brasil, e em muitos outros países, há poucas mulheres no ambiente de startups e tecnologia”, destaca. O grupo recomenda que haja maiores esforços e incentivos para inseri-las nesses ambientes, onde há mais oportunidades de crescimento.
Como o G20 tem uma forte veia econômica, todos os cinco temas do W20 convergem para o objetivo de promover autonomia financeira às mulheres. “Falar da autonomia econômica das mulheres é também enfrentar a violência contra elas. Mulheres que geram e controlam seu próprio dinheiro conseguem sair de situações de violência com menos dificuldade. A violência contra mulheres tem dois grandes fatores: dependência emocional e financeira”, exemplifica a CEO.
Embora haja mais pontos a serem acrescentados, o grupo precisa entregar um documento sucinto de duas páginas. Por isso, seus esforços estão focados em chegar a um consenso sobre as recomendações que entrarão no documento final e que elas sejam validadas para entrarem na pauta da cúpula.
Uma inovação implementada pelo Brasil é a possibilidade de as delegadas apresentarem uma prévia do documento final aos sherpas (em geral, eles têm o cargo de ministro de relações exteriores) e presidentes do Banco Central antes da entrega final. Desde 2017, ano em que Ana Fontes começou a participar do W20, os grupos de engajamento nunca tiveram essa oportunidade. Agora, elas podem avaliar a recepção desses líderes antes do prazo de entrega. Apesar do nervosismo, as recomendações do W20 foram muito bem recebidas e elogiadas pelos outros delegados de grupos de engajamento.
“Na trilha de finanças, focamos em economia do cuidado e empreendedorismo, enquanto na trilha de sherpas focamos em temas mais gerais. A receptividade foi excelente, e ficamos muito felizes ao ver que não só as mulheres, mas também os homens, deputados, chefes e presidentes de bancos centrais, falaram sobre a importância da questão de gênero”, diz a presidente do W20.
De 2017 para cá, Ana Fontes conta que as discussões sobre gênero evoluíram e estão cada vez mais objetivas. “Antes, as recomendações eram mais genéricas, como ‘precisamos mudar a vida das mulheres’. Agora, somos mais pragmáticas”, avalia. Além disso, ela destaca uma mudança na tratativa e na relação entre os países do Norte e do Sul Global. “Anteriormente, parecia uma imposição dos países desenvolvidos, mas agora há um olhar mais empático. As discussões estão mais ricas, com um cuidado maior nas nossas reuniões”, relata.
Este ano, o W20 decidiu estabelecer cinco pautas prioritárias que seriam trabalhadas por grupos de trabalho. Assim, as voluntárias escolhiam o tema com o qual tinham maior afinidade. Apesar dessa divisão, a equipe entende ser necessário incluir uma visão interseccional, transversal a todas as pautas.
“Estamos firmes em incluir a interseccionalidade em nosso documento final, que será concluído em 30 de setembro e apresentado em 1º de outubro no nosso summit no Rio de Janeiro”, aponta Ana Fontes. O documento deve ter até duas páginas e incluir todas as recomendações dos cinco grupos de trabalho de maneira consensual.
“Nesse summit, entregaremos o documento nas mãos do presidente Lula ou de um representante indicado por ele”, explica a presidente do W20. Após a cerimônia e a entrega, o grupo terá um forte trabalho de advocacy para que as recomendações entrem na pauta da cúpula do G20, que será em novembro.
Nesse trabalho, as delegadas destacam como a questão de gênero é importante e transversal aos outros grupos de engajamento do G20, que ao total somam 13. São eles: C20 (sociedade civil); T20 (think tanks); Y20 (juventude); W20 (mulheres); L20 (trabalho); U20 (cidades); B20 (business); S20 (ciências); Startup20 (startups); P20 (parlamentos); SAI20 (tribunais de contas); e os mais novos J20 (cortes supremas) e O20 (oceanos).
Outra inovação do Brasil foram as iniciativas de fomentar diálogos locais. O W20, por exemplo, passou por cidades como Belém, Salvador, Rio de Janeiro, Recife e Brasília. O próximo será em São Paulo, no dia 22 de agosto, na Faculdade Getúlio Vargas.
“Esses eventos são abertos a todos que quiserem participar, o que é muito bacana, porque trazemos as pessoas para o debate. Embora elas não possam participar diretamente dos debates com as delegadas, nesses encontros construímos documentos, geramos inputs e discutimos temas importantes”, diz Ana.
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