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Empregabilidade trans: preconceito ainda é maior desafio

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Empregabilidade trans: preconceito ainda é maior desafio

Vaga afirmativa é melhor maneira de mudar demografia de empresa a fim de alcançar uma equipe diversa


16 de junho de 2023 - 8h06

Rapha Pagotto, Secretário Adjunto do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ (Crédito: divulgação)

Pelo 14º ano consecutivo, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, segundo o relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Por outro lado, o número de pessoas trans absorvidas pelo mercado de trabalho formal tem crescido a cada ano no país. De acordo com um dossiê da Transempregos, plataforma que conecta profissionais a vagas de trabalho, em 2022 houve um aumento de 40% das contratações em comparação com o ano anterior, com 1113 profissionais contratados. Ainda assim, há um longo caminho pela frente já que apenas 4% da população trans feminina possui empregos formais no Brasil, de acordo com dados do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021, publicado em 2022 pela Antra. 

Embora seja crime no Brasil, a transfobia é um dos causadores da exclusão de pessoas trans no mercado formal de trabalho. O estigma sofrido por essa comunidade vai desde olhares incômodos na hora da entrevista ao não uso do nome social, mas também passa pela má divulgação da vaga, onde pessoas trans não têm acesso à informação, ou até por níveis de exigências muito altos que excluem a comunidade, como por exemplo a obrigatoriedade de um segundo idioma fluente.  

Para Rapha Pagotto, Secretário Adjunto do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, “se a vaga não for afirmativa especificamente, no sentido de mudar a demografia, de ter representatividade dentro do lugar, a tendência é que as pessoas trans fiquem pra trás, até mesmo pelos vieses conscientes ou inconscientes. O famoso preconceito velado ou a discriminação assumida mesmo”, explica. 

Por isso, a importância da vaga afirmativa que irá garantir a contratação de um profissional trans. “A gente precisa arregaçar as mangas e assumir uma postura ativa no sentido de atrair esses talentos e também apoiar o desenvolvimento dessas pessoas. Então, sim, precisamos de vagas direcionadas”, afirma Gabriela Augusto da consultoria de Diversidade e Inclusão Transcendemos. 

Gabriela Augusto, CEO e fundadora da consultoria Transcendemos (Crédito: Débora Araújo/Araújo Audiovisual)

No entanto, para Gabriela o maior desafio para a contratação de uma pessoa trans passa pela cultura da empresa e por isso é imprescindível promover conscientização. “Acredito que informação e conhecimento são as mais importantes ferramentas no combate ao preconceito. E o preconceito é a principal barreira quando se fala em empregabilidade de pessoas trans. A gente precisa entender que queremos trazer pessoas LGBTs para as nossas empresas porque equipes formadas por pessoas com diferentes visões de mundo, diferentes trajetórias de vida, são equipes mais inovadoras, mais criativas e mais engajadas.” 

Com mais de 23 mil currículos e 2 mil empresas cadastradas, a Transempregos é a maior plataforma de vagas para a comunidade. Fundada por Maitê Schneider, Laerte Coutinho e Márcia Rocha, a Transempregos é definitivamente uma referência para empresas e candidatos e atualmente emprega pessoas em todos os estados brasileiros, sendo a maior parcela em São Paulo. Somente em 2022, o site disponibilizou mais de 4 mil oportunidades de trabalho. 

No entanto, para Rapha Pagotto, oferecer vagas não garante a empregabilidade, já que é um processo que envolve muitos fatores, inclusive uma política de benefícios que inclua o corpo trans em hormonização e a preocupação com o transporte. “Algumas pessoas trans que podem estar em situação de vulnerabilidade vão ter dificuldade nos primeiros meses de trabalho até pra pegar uma condução. Existem também dificuldades com o plano de saúde, como ginecologista pra homem trans por exemplo. Além disso, o sistema precisa estar preparado para que não apareça o nome morto da pessoa”, comenta se referindo ao nome que não é o que a pessoa escolheu para sua identidade de gênero.  

Um dos maiores desafios da empregabilidade trans é expandir a conversa para além dos departamentos de Diversidade & Inclusão e RH. “Se a crença da diversidade e o propósito não estão atrelados ao negócio, é algo só de uma área, é muito complicado que essa pessoa trans permaneça”, afima Rapha Pagotto. 

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