Como começar – e encarar – as conversas difíceis?
Líderes da Heineken, Publicis Groupe e OLX comentam sobre as formas de lidar com os assuntos desagradáveis que precisam ser abordados nas relações pessoais e profissionais
Como começar – e encarar – as conversas difíceis?
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Bárbara Sacchitiello
27 de março de 2025 - 6h00
Cris Bartis, à esq., modera o debate entre Florence Scappini, Gabriela Onofre e Raquel Zagui (Crédito: Eduardo Lopes/maquinadafoto)
Seja no âmbito da vida pessoal ou na carreira profissional, a vida é repleta de conversas difíceis. Ter que dizer à família, por exemplo, que seu maior desejo na vida não é casar e conseguir um trabalho sólido, mas sim, vivenciar experiências em outro país. Ou, então, ter a missão de dizer a um colega de trabalho ou subordinado, com o qual se tem um relacionamento agradável e boa convivência, que suas entregas estão deixando a desejar.
Conversar sobre assuntos não tão agradáveis pode ser ainda mais complexo para as mulheres, por conta das diversas construções e expectativas da sociedade que, muitas vezes, não as deixam confortáveis em posições que exigem mais contestação e cobrança. Driblar os caminhos para conseguir enfrentar essas situações e, sim, construir os diálogos necessários, foi um dos temas que ocupou a edição de 2025 do WW Summit, realizado nesta quarta-feira, 26, em São Paulo.
O debate reuniu Raquel Zagui, vice-presidente de pessoas e head global de diversidade, equidade e inclusão do Grupo Heineken; Gabriela Onofre, CEO do Publicis Groupe e Florence Scappini, vice-presidente de marketing do Grupo OLX, para responderem a Cris Bartis, fundadora da plataforma Mamilos, a respeito de suas experiências com conversas difíceis em seus respectivos ambiente de trabalho.
Como responsável pelo pilar de diversidade na Heineken, Raquel pontuou que conversas mais sérias – e, muitas vezes, difíceis – são parte de seu dia a dia e que a companhia vem procurando, já há algum tempo, criar um ambiente de segurança psicológica, em que as pessoas sintam-se à vontade para expressar o que realmente sentem e desejam. Porém, isso não se constroi de um dia para outro.
“Criamos a diretoria de felicidade e estamos trabalhando as conversas sobre segurança psicológica, para fortalecer a prática dos feedbacks. Mas o que vejo como importante, de forma geral, é achar o lugar e a postura que tem a ver com a gente. Se uma pessoa é mais introvertida, ela não se sentirá confortável se tiver que levantar a voz. Comunicar-se significa saber transmitir a mensagem dentro da sua verdade”, colocou.
Já Gabriela Onofre dividiu com a plateia o fato de ter chegado à sua atual posição de CEO no Publicis Groupe no Brasil em um momento em que a companhia passava por um grande processo de reestruturação. O desconforto, portanto, era algo presente. “As mudanças já tinham começado, sobretudo fora do Brasil, mas precisávamos dar contexto a esse cenário. Períodos de transformações sempre são difíceis, mas é importante ter conversas que deixem claro para onde se está indo”, declarou.
Florence comentou a respeito de como as diferenças geracionais podem trazer certas dificuldades aos relacionamentos no ambiente corporativo, algo que também acaba gerando a necessidade de várias conversas para aparar arestas. Ela pontuou que as novas gerações idealizam trabalhar em empresas que tenham propósitos para além do lucro e encontrar líderes mais humanos, capazes de imprimir tal significado em seu dia a dia. Porém, ao ingressar no mercado e, muitas vezes, encontrar cenários bem diferentes desse idealizado, acontece a decepção.
“Quando eu entrei no mercado não existia a consciência da importância de uma liderança humanizada. Hoje, como novos líderes, temos a oportunidade de ajudar a capacitar os jovens já com uma consciência diferente e ajudar a prepará-los para enfrentar os desafios do dia a dia. Tenho procurado, sempre que estou lidando com profissionais mais jovens, trocar o julgamento pelo entendimento. E também acredito que as conversas mais difíceis precisam estar livres de emoções. Quando tentamos resolver algo com raiva, frustração, são esses sentimentos que acabam falando por nós”, colocou.
Como exemplo de um tema que sempre acaba gerando conversas difíceis, Gabriela Onofre citou o dinheiro. Tanto em relações pessoais como nas corporativas, mencionar custos e questões financeiras ainda é visto como tabu. A CEO do Publicis Groupe citou um exemplo de uma negociação que fez com uma cliente, que gostaria que o grupo fizesse a contratação de um profissional sênior, dispondo, porém, de uma verba que não seria capaz de remunerar alguém com a qualificação pretendida. Diante dessa situação, ela citou que a transparência e o diálogo francos foram fundamentais para alinhar as expectativas e evitar frustrações posteriores.
Raquel lembrou-se de uma conversa com uma colega de trabalho que dizia almejar uma promoção sendo que, anteriormente, havia dado todas as indicações que não tinha pretensões além de seu cargo atual. Isso a ensinou, segundo ela, a importância de ser o mais explícito possível nas conversas, não deixando espaço para dúvidas ou coisas ditas nas entrelinhas.
E até mesmo elementos considerados por vezes problemáticos podem ser aliados na construção dessas conversas cotidianas. Florence recordou que, por muito tempo, foi atribuído às mulheres o rótulo de vulnerabilidade, o que transmitia a ideia de menos capacidade para tomar decisões ou conduzir situações difíceis. A profissional do Grupo OLX apontou que, quanto mais vulnerável uma pessoa, sobretudo um líder, mostrar-se aos seus pares e funcionários, mais fácil será encontrar soluções em conjunto para questões diárias.
Por fim, Cris Bartis colocou que, ainda que não seja agradável encarar muitas das conversas difíceis, fugir delas não solucionará o problema. “Consciência, coragem e coração. Quando combinamos esses três elementos, somos mais capazes de encarar as conversas difíceis”, resumiu
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