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Fátima Pissara: “Nossa luta é para que as marcas invistam em diversidade”

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Fátima Pissara: “Nossa luta é para que as marcas invistam em diversidade”

A sócia e CEO da Music2/Mynd, homenageada do Women to Watch 2022, fala sobre profissionalização do marketing de influência e seu compromisso com a diversidade


29 de agosto de 2022 - 10h03

Por Caio Fulgêncio

Fátima Pissarra, sócia e CEO da Music2/Mynd, é homenageada do Women to Watch em 2022 (Crédito: Kiko F)

Formada em jornalismo e em psicologia, a curitibana Fátima Pissarra decidiu investir na internet nos primeiros momentos da vida acadêmica, antes mesmo da chegada da banda larga e das infinitas possibilidades que a tecnologia ainda proporcionaria para os usuários. A universidade em que cursou comunicação, no estado de Santa Catarina, iniciou testes de internet no País e, logo no início de sua graduação, por volta de 1996, ela topou a experiência.

O trabalho de conclusão de curso foi o desenvolvimento de um site para o jornal da faculdade, programado pela própria Fátima. “Decidi que iria investir em internet, porque seria uma das primeiras. Sempre pensei em me especializar onde sabia que não tinha muita gente”, lembra.

Com a nova demanda que crescia no Brasil, depois da graduação, a futura sócia e CEO da Music2/Mynd, começou a ser requisitada por diversas empresas que queriam criar as próprias páginas na internet e, com o passar do tempo, aumentar o escopo de serviços digitais. Nessa trajetória profissional, Fátima passou pela Coelba, Telemar, BCP, Terra, Nokia e Vevo, da qual chegou a ser representante oficial no Brasil, com projetos de música para marcas.

Em 2017, em sociedade com a cantora Preta Gil, criou a Mynd, especializada em marketing de influência e entretenimento, que agencia nomes como Pabllo Vittar, Pequena Lo e Luísa Sonza. Seguindo a vontade de ser pioneira no mercado – e mesmo ouvindo críticas – decidiu pela construção de uma empresa marcada pela equidade, com metade das vagas destinadas a pessoas pretas e com contratações por skill – não por experiência, como culturalmente são feitas.

“Precisávamos de representatividade de raça, gênero e de região em todos os níveis hierárquicos. Foi um dos maiores desafios da minha vida por conta dos entraves que tivemos, mas isso fez toda a diferença para onde estamos hoje, porque nos tornamos uma empresa que enxerga a diversidade em tudo o que é realizado”, complementa.

 

O marketing de influência cresceu de forma significativa na comunicação e você é um dos principais nomes desse ramo. De que forma a sua carreira colabora para a profissionalização desse setor?

Na Mynd nós viemos do marketing, entendemos as marcas, o que ajuda muito na explicação para o influenciador porque, no dia a dia, ele só precisa entender qual a melhor forma para falar com o público dele e de engajar os seguidores. Eu, por outro lado, tenho que ser uma interlocutora que entende sobre a importância da marca e da campanha. Isso sempre foi muito importante para desenvolver o mercado de influência e promover a profissionalização dos influenciadores, para que o ramo deixasse de ser uma coisa familiar e passasse a ter uma estrutura de trabalho que, de fato, entendesse de publicidade. Por outro lado, nos últimos cinco anos, ouvi tanta coisa de influenciadores, acabei sistematizando tudo e conectando isso com as marcas.

Você montou a Mynd a partir de um olhar atento voltado para a diversidade. Como empresária, qual é a importância de propor discussões, como a falta de representatividade e a luta contra o racismo estrutural, ao mercado?

Aprendi muita coisa com o mundo da música. O cantor viaja para todas as regiões e, ao fazer uma música, ele se conecta com diferentes tipos de pessoas. Era muito comum ouvir os agenciados falarem do quanto o Brasil é diverso e isso me fez querer ter essa diversidade na minha empresa, porque precisava enxergar esse Brasil. Tentei descobrir como colocar essa amplitude dentro do escritório e vi que o único jeito era tendo representatividade, com pessoas que mostrassem como funciona cada região. Acredito que isso nos modifica como empresa, nos ajuda a ter uma oferta melhor no mercado, minimizando erros, maximizando acertos e conseguindo argumentar muito melhor. Queria ter uma empresa real.

Como você enxerga o espaço que a diversidade ocupa entre as agências e as marcas? Quais os avanços, os desafios e de que forma você considera que pode contribuir nessa temática?

Sinceramente, as empresas ainda estão bem fechadas para isso. Executivos já me disseram que gostariam de fazer essa mudança e eu falava que eles poderiam me chamar, afinal, a Mynd já percorreu esse caminho, mas muitos correram. Existem agências que estão mais evoluídas, mas as marcas ainda estão paradas. O bom é que esse movimento só vai crescer, mas precisamos acelerar. A parte de contratação está mais aberta, porém, ainda são cotas, não uma diversidade natural. Por exemplo, as marcas já estão mais acostumadas com a contratação de pessoas pretas, mas ainda existem problemas em relação à comunidade LGBTQIAP+, principalmente, em relação à população trans. A nossa luta é para que, cada vez mais, as marcas invistam nisso e, por isso, compartilhamos as nossas experiências. A diversidade é muito importante, porque ela muda a cultura do País inteiro, transforma muita dor em felicidade e em esperança.

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