Fear of ou Bom dia, Sr. Medo
Em tempos globalizados, nos acostumamos com os acrônimos em inglês, mas os que me chama a atenção são os Fear Of alguma coisa
Em tempos globalizados, nos acostumamos com os acrônimos em inglês, mas os que me chama a atenção são os Fear Of alguma coisa
25 de maio de 2023 - 8h56
(Crédito: shutterstock)
Na era digital, globalizada e americanizada daqui do lado ocidental do nosso querido planeta, nos acostumamos com os acrônimos, as siglas em caixa alta que resumem conceitos, frases, e muitas histórias.
Entre tantas dessas abreviaturas, tem uma que me chama muita atenção, são os Fear Of alguma coisa. Talvez vocês já tenham se esbarrado com algum deles.
Tem um que está famosinho, eu ouvi pela primeira vez no discurso do ator vietnamita-americano, ganhador do Oscar de ator coadjuvante Ke Huy Quan, é o F.O.M.O.( Fear of Missing Out). Ele contou que voltou a atuar depois de décadas porque não conseguiu se sentir fora de tudo que estava rolando nesse mundo do entretenimento que era o mundo dele. Bateu direto em mim. Bateu no meu medo.
E ai, quando você pensa que se acostumou com o primeiro Fear Of, já até levou para terapia porque claramente se identificou, você se depara com o segundo Fear Of, nesse momento acende uma luz amarela, opa, opa, opa. Têm mais de um? Têm vários!!! Seguem alguns deles aqui: F.O.M.O. – Fear of Missing Out; F.O.L.O. – Fear of Logging Off, Fear of Living Offline, Fear of Losing Out; F.O.B.O. – Fear of Better Option; F.O.D.A. – Fear of Dating Again; F.O.N.K. – Fear of Not Knowing;
Bem, veja, WTF?? Para não perder a viagem de mais um acrônimo americanizado.
Lendo sobre cada um deles, podemos ver pelo menos dois pontos em comum, um desses pontos ou esse bit, é claro, é a internet. Esse fio condutor invisível e ao mesmo tempo escravizador que nos esconde numa gruta escura, fria e solitária.
Tenho impressão de que Marie-Louise von Franz, psicoterapeuta analítica seguidora de Jung, teria um poço infinito de elementos dada toda a ansiedade que essas teias nos cobram em troca dessa dita conexão que mais nos afasta que nos une. Já entramos num descompasso tal, que ninguém quer mais sincronizar no tempo de ninguém, cada um de nós quer ter o seu próprio tempo, por isso a mensagem que é assíncrona já faz muito, mas muito mais sucesso que uma ligação. É como um conjunto de pontes que tem sempre um degrau gigantesco entre cada uma delas. Ui.
E esses medos, hein?! Como Freud, Jung, Marie-Louise von Franz e Melanie Klein analisariam isso? Nossa. Dá pavor só de olhar para esses medos, e claro, dá para sentir a pressão da identificação com vários só pelo nome.
O outro ponto em comum, é o que eles todos causam Ansiedade, assim mesmo, Maiúscula. Como lidar com essa Senhora pesada, velha, grande e forte? Em tese, um outro acrônimo vem para nos salvar. Parece piada, mas ele tá lá na lista desses novos conceitos, é o J.O.M.O. oposto do F.O.M.O., Joy Of Missing Out. Gostar, celebrar a vida real. Ao pé da letra seria gostar de perder algo, então, abrir mão.
Desse fio da meada podemos puxar o Joy, o Enjoying, o Desfrutar, o Gostar, o Prazer, a Deliciosiade de apreciar algo. Algo para além do vicio no medo, do vicio de temer e no final reconhecer que esse medo acaba nos abraçando fortemente. Esse medo nos aterroriza, porém nos amarra conformados, resignados.
Será que o fato deles terem nome, estarem lá listados, eles assustam menos? Mas pera, no que ajuda eles terem nome? Talvez eles se somem a muitos de nossos medos anônimos.
Não sei, não tenho nenhuma convicção disso, mas eu gostaria muito de trocar o Bom dia, Sr. Medo, pelo Bom dia, Sra. Vida. Apesar de ser uma mexidinha de pescoço para mudar o ângulo de visão, os tentáculos imperceptíveis tentam nos sugar de volta.
Tomara que a gente consiga!
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