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Para Fernanda Doria, diversidade traz mais criatividade e inovação

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Para Fernanda Doria, diversidade traz mais criatividade e inovação

A diretora de negócios para pequenas e médias empresas no Google acredita que ESG deve ser uma prática diária que permeia o negócio


19 de agosto de 2024 - 6h30

Fernanda Doria, diretora de negócios para pequenas e médias empresas no Google, é homenageada do Women to Watch em 2024 (Crédito: Arthur Nobre)

Decidida a, de alguma maneira, lidar com pessoas em seu trabalho, fosse num escritório ou consultório, Fernanda Doria formou-se em administração de empresas pela Universidade de São Paulo (USP), após ficar em dúvida entre essa carreira e medicina. A atual diretora de negócios para pequenas e médias empresas no Google construiu sua trajetória na capital paulista, mas realizou o sonho de morar sozinha pela primeira vez aos 23 anos, fora do Brasil, por meio de uma oportunidade na General Motors (GM), onde trabalhou por quase 12 anos.

Fernanda ficou por quase um ano e meio na Flórida (EUA), ocupando posição de destaque na conexão entre os diferentes mercados, experiência que lhe permitiu conhecer países da América do Sul, África e Oriente Médio. “Tive a oportunidade de viajar e foi uma experiência ótima. Para os Estados Unidos, já fui com o meu marido, ele deixou o trabalho e me deu apoio incondicional. Foi um dos momentos-chave na carreira”, conta.

No Google há mais de 14 anos, assumiu, há cerca de dois, o posto de patrocinadora executiva do AfroGooglers, área que busca estimular ações e o debate sobre inclusão racial na big tech. Fernanda tem como uma de suas maiores inspirações profissionais sua mãe, que trabalhou para pagar seus estudos e, posteriormente, já com mais de 50 anos, voltou a estudar e se formou. Foi a mãe, inclusive, que lhe apresentou o cenário do mundo corporativo e a dedicação entre a família e a carreira.

“Tudo começou ali, daquela influência e de vê-la numa posição de doação para o trabalho e para a família. Nunca senti que ela esteve ausente. Isso também me deu tranquilidade de que posso ter uma família.”

Como tem sido trabalhar com o AfroGooglers e como esse projeto se alinha com a sua carreira?

O AfroGooglers tem sido uma fonte de inspiração e propósito. Estou como patrocinadora executiva há dois anos, mas há quatro anos estou mais ativa no comitê. Não por acaso, me aproximei em 2020, ano da pandemia, em meio aos acontecimentos de George Floyd. Foi um chamado. Sempre estive próxima, mas talvez não num momento tão propício por questões de carreira e maternidade. Quando aquilo eclodiu, senti que precisava ter um papel mais ativo e veio muito pela minha história. Tive lideranças maravilhosas, mas nunca uma que parecesse comigo, que tivesse meus traços, minha cor, meu cabelo. Fui me identificando com histórias das pessoas. Percebi que podia ajudá-las, que poderia ser referência, ou ter conversas que poderiam ter me ajudado lá atrás. Percebi que poderia agregar valor e isso me trouxe um senso de propósito muito grande, porque estava num momento avançado da minha carreira. Percebi que estava em lugares onde, muitas vezes, os demais da comunidade não estavam e que eles precisavam dessa representatividade. Queria ter essa contribuição mais ativa.

Pesquisas mostram que a agenda de diversidade e inclusão desacelerou no mercado. Você enxerga um caminho para que essa pauta ganhe ações efetivas nas empresas?

É fundamental que a pauta ESG não esteja limitada a conversas unicamente de ESG. Deve ser uma prática diária, que permeia o negócio. A diversidade traz mais engajamento, criatividade e inovação. Ser quem você é no trabalho é algo que tento trazer para o meu time. A partir do momento que você pode ser quem é, você traz o seu melhor. A diversidade e a inclusão também trazem questionamentos que são saudáveis. Quando você está num grupo que é diferente, por si só, tem complementariedade, e é daí que vem a inovação, que faz com que as pessoas deem o seu melhor.

É muito importante que empresas tragam isso para a prática por meio de treinamentos, que coloquem em perspectivas vieses inconscientes, que preparem líderes. E a diversidade não para na questão da contratação ou da criação de vagas inclusivas. É preciso promover maior inclusão e equidade no trabalho, uma vez que as pessoas já estejam inseridas nas empresas. Isso também passa por treinamento e capacitação para grupos minorizados, para que as pessoas tenham as mesmas oportunidades para crescer. A progressão é um tema que trago muito para o AfroGooglers. Nós, que já estamos dentro, temos que progredir. Precisamos estar em todos os níveis hierárquicos, inclusive nas lideranças.

Em linha com o slogan da campanha do Women to Watch deste ano, “no more sapos”, qual foi o maior sapo que já engoliu na sua carreira?

Todas nós passamos por isso e não estamos livres de passar novamente. Com o avançar da carreira, nos vemos mais preparadas. Hoje, ao olhar para trás, penso em quantas situações passei e nem sabia do que se tratava. Tinha um recorte de gênero e um recorte racial, tudo misturado, e não soube, muitas vezes, como me colocar. Aquilo doeu. Ainda lembro de situações que aconteceram há anos e vejo que, se fossem hoje, teria uma postura diferente. Precisei de muito autoconhecimento e bagagem para chegar nesse ponto.

De sapos, me lembro de alguns. Uma vez, em que me posicionei um pouco mais firme, um gerente me falou que eu era agressiva. Aquilo me fez pensar, pois nunca tinha me visto daquela forma. Já tive situações de ser preterida para projetos e oportunidades por brancos. Ou situações em que homens falavam mais alto, ou mesmo eram rudes na mesa e que, de novo, não sabia o que estava acontecendo. Hoje, vejo o quanto amadureci e o quanto aquele momento me trouxe insegurança e gerou uma falta de posicionamento. Chegamos num momento em que estamos empoderadas o suficiente para responder, de forma educada, nunca perdendo a nossa postura, mas sabendo respeitar o nosso espaço.

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