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Gabriele Carlos: de executiva de RH a CEO 

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Gabriele Carlos: de executiva de RH a CEO 

A primeira mulher no comando da Zeiss Vision Brasil representa uma tendência corporativa de altas lideranças que vêm da área de recursos humanos 


11 de outubro de 2024 - 14h15

Gabriele Carlos é CEO da Zeiss Vision Brasil (Crédito: Divulgação)

Gabriele Carlos, CEO da Zeiss Vision Brasil, divisão de lentes corretivas e produtos de saúde visual do grupo alemão Zeiss, descobriu que lidar com pessoas era uma de suas grandes competências ainda fora do mundo corporativo. Foi aos 18 anos, quando trabalhou na distribuição de folhetos na rua. 

“Eu conversava muito, mas não deixava de entregar os materiais. Os coordenadores da região pediram para eu mudar de praça, porque era muita conversa. Logo, percebi que não consigo ficar sem falar com os outros”, lembra. 

O equilíbrio entre pessoas, resultados e propósito permeou toda a carreira corporativa da executiva, que não foi linear. Ainda aos 18, depois de alguns trabalhos informais, ela passou a trabalhar em uma agência de turismo, por indicação de uma cliente de sua mãe, dona de um salão de beleza em São Paulo.  

Enquanto conciliava a faculdade de psicologia e o trabalho, rapidamente percebeu que sua paixão por conectar pessoas e promover bem-estar poderia ser traduzida no mundo dos negócios. Em meio à descoberta, começou a trilhar uma jornada bem-sucedida na área de recursos humanos, com passagem por empresas como Sodexo, Carrefour e GVT.

“Sempre olhei para o RH com uma visão muito voltada para o negócio”, comenta. Esse olhar estratégico sobre gestão de pessoas seria um dos grandes diferenciais que a levariam à cadeira de CEO da Zeiss Vision Brasil em julho de 2024, após liderar a área de recursos humanos da companhia por quase 9 anos.  

Por que lideranças de RH tendem a ser boas CEOS?

O movimento de Gabriele tem sido frequentemente apontado em pesquisas como promissor no mundo corporativo. De acordo com o artigo “Por que diretores de recursos humanos são ótimos CEOs”, da Harvard Business Review, se por décadas o departamento de RH foi visto como uma função de back-office, com tarefas administrativas e corriqueiras, nos últimos anos tem sido uma área-chave da estratégia de uma empresa.  

“Em geral, os diretores de RH passaram a se reportar diretamente ao CEO, atuam como consultores-chave da liderança e fazem apresentações frequentes ao conselho. Essa função está ganhando importância como nunca”, diz Ellie Filler, da empresa suíça de recrutamento Korn Ferry.   

De acordo com pesquisa conduzida pela executiva e por Dave Ulrich, professor da Universidade de Michigan e consultor, exceto pelo COO (cuja função e responsabilidades frequentemente se sobrepõem às do CEO), o cargo cujas características são mais semelhantes às do CEO é o CHRO, diretor de recursos humanos. “Essa descoberta é muito contraintuitiva — ninguém teria previsto isso”, diz Ulrich. 

Entre resultados, pessoas e propósito

Filha de pais nordestinos, Gabriele, nascida em São Paulo, carrega valores humanos de disciplina, respeito e verdade, pilares que, desde cedo, foram ensinados para ela em casa e que considera essenciais para sua formação pessoal e profissional.  

“Saíamos da escola para ajudar minha mãe no salão de beleza dela. Isso me ensinou muito sobre a importância de impactar a vida das pessoas de maneira positiva”, lembra. Esse contato precoce com o trabalho e o cuidado com a autoestima das mulheres moldaram sua visão de que o sucesso vai além de metas financeiras: para ela, está profundamente ligado ao impacto que geramos nas vidas ao nosso redor. 

Embora não tenha planejado ocupar o cargo de CEO, Gabriele sempre teve em mente um propósito claro: a transformação de vidas que, por consequência, muda negócios. “Quando começaram a conversar comigo sobre a possibilidade de eu assumir o cargo, perguntei ao meu chefe por que eu teria a competência adequada para a cadeira. Ele me respondeu que a minha inteligência emocional e a capacidade de lidar com pessoas eram o que a posição exigia na essência.” 

Sobre o desafio de liderar as operações da Zeiss Vision Brasil, Gabriele entende que o equilíbrio entre resultados e pessoas é fundamental. “Não cabe mais o estilo de liderança ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’. As pessoas estão questionando modelos de trabalho e de liderança, e precisamos oferecer um ambiente onde elas possam ser quem realmente são. Não dá para trabalhar só por conta do salário.” 

Domínio do problema

A trajetória de Gabriele também é marcada pela atuação em um ambiente majoritariamente masculino. Desde jovem, ela lembra que foi a única mulher em muitas mesas de liderança, o que nunca a intimidou.  

“Talvez tenha sido minha educação, mas sempre tive muita segurança no que fazia”, afirma. Para ela, o segredo está na postura e na crença de que as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos. Essa segurança se consolidou com uma busca constante por conhecimento. Gabriele tinha a meta de realizar, anualmente, cursos complementares para ampliar suas competências. 

Ela também reconhece que teve o privilégio, ao longo da carreira, de passar por lugares e se conectar a pessoas respeitosas e aliadas. “Sempre tive homens – e mulheres — que me empoderaram, e isso facilitou minha caminhada. Não posso negar que tenho uma história que potencializa ainda mais minha atuação.” 

Como a primeira mulher a ocupar a posição de CEO na empresa, Gabriele também traz um compromisso claro com a diversidade e inclusão. “Se tenho consumidores diversos, minha empresa precisa ser diversa. A experiência começa aqui, para que possamos levar essa diversidade para o mercado”, afirma. Hoje, a Zeiss Vision Brasil conta com uma liderança equilibrada em termos de gênero, com 50% de mulheres no comando. 

O compromisso e domínio das dificuldades que enfrenta é outra grande marca da liderança de Gabriele. Quando algo não sai do jeito que ela gostaria, a executiva reflete sobre o que está sob seu controle: ela mesma. Isso contribuiu para que ela abrisse portas.  

“Sempre tive em mente que, se algo não está funcionando, talvez a maneira como estou me expressando, pedindo ou recomendando algo não está sendo entendida. Muitas vezes, puxo essa responsabilidade para mim. Afinal, posso dominar o que está na minha mão, e não o que o outro faz ou sente.” 

Futuro como missão

Gabriele enxerga um papel fundamental para a Zeiss na educação dos consumidores sobre a importância da saúde visual, sobretudo localmente, no Brasil, que ainda carece inclusive de acesso ao uso de óculos.  

“Como equilibrar o acesso para que todos possam enxergar melhor? É um desafio muito grande, especialmente em lugares remotos. E, se você não enxerga direito, como vai estudar ou trabalhar? Em última instância, é uma questão pública.” 

Sua meta é que a Zeiss Vision Brasil continue crescendo e impactando positivamente o país, não apenas no mercado de saúde visual, mas também na inclusão social e na sustentabilidade. Para isso, no entanto, ela entende que a transformação deve ser mais ampla do que apenas na empresa. 

“Não conseguimos, sozinhos, erradicar o problema de saúde visual do país. Precisamos de associações de outras indústrias do mercado. Então, quando olho para minha perspectiva de futuro na carreira, quero equilibrar os papéis de executiva e conselheira. Já estou sentada em duas cadeiras de conselho. Temos que fazer isso, para influenciar outras organizações a fazer o mesmo movimento e, de fato, ver essa mudança na sociedade acontecer.”  

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