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Gal Costa: Sagrada e profana 

Uma das maiores vozes da música brasileira, a cantora soube acolher os antagonismos de sua arte e romper com o óbvio


9 de novembro de 2022 - 20h49

Em um país ainda muito dividido e repleto de “caretas”, vale honrar Gal e não esquecer do mais importante: o autoacolhimento, a ruptura e a transformação (Crédito: Reprodução/ Arquivo Nacional)

Mulher sagrada, “vaca profana”. Uma artista que se acolhia em seus antagonismos. Essa sempre foi, e sempre será, Gal Costa, ou a baiana Maria da Graça, que, nos anos 1980, encomendou uma canção para Caetano Veloso, parceiro de tantos sucessos. Composta na Europa, “Vaca Profana” trazia referências à Espanha, mas a reverência à cantora estava claramente ali, em cada estrofe da canção. 

Lágrimas, risos, gestos inesperados. Gal se respeita, sabe que os dias tristes existem, mas celebra e honra os momentos felizes como ninguém. “Respeito muito minhas lágrimas / Mas ainda mais minha risada”, celebra a artista, que nos deixou neste 9 de novembro.

Gal era mais que uma intérprete. Para ela, as outras pessoas eram importantes, mas não podiam defini-la. Ela cresceu, se percebeu e deu voz a si mesma: “Escrevo, assim, minhas palavras / Na voz de uma mulher sagrada.” Intensa, forte e avassaladora, foi força capaz de se rebelar e ter uma visão diferente e fora do padrão. Ela enxergou além do que se podia ver, provocou e trouxe uma mensagem de transformação. “Vaca profana, põe teus cornos / Pra fora e acima da manada (…) Dona das divinas tetas / Derrama o leite bom na minha cara / E o leite mau na cara dos caretas.” 

Camaleoa, tinha uma voz doce e forte que se acomodava a diversos gêneros musicais. Mas ela não apenas se adaptava: rompia com o óbvio e inovava. Em 1968, apareceu com um colar de espelhos, black power e um canto agudo, provocativo, que a colocou em terceiro lugar na performance da canção “Divino Maravilhoso”, no Quarto Festival de Música Popular Brasileira da TV Record.  

Em 1970, visitou Caetano e Gil, que viviam no exílio imposto pela ditadura militar, em Londres. De lá, trouxe composições de Caetano sobre o período para gravar o álbum LeGal, que se tornaria um marco do movimento tropicalista. 

A revolta política também foi um importante grito de Gal em outros momentos, como no disco ao vivo “Fa-tal – Gal a Todo Vapor”, de 1971, em que ela literalmente gritou para evocar seu descontentamento com o cenário político da época. Depois, em 1973, ela deu um close em sua virilha para o álbum “Índia”, vestida de biquini e, na contracapa, mostrou seus peitos. Em 2011, ela se reinventou completamente no álbum Recanto, que dialoga com a música eletrônica e o funk carioca. 

Mulher e artista da Bahia, do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, Gal unia todas as culturas e trazia o melhor de cada uma delas, numa junção de rock e canto popular admirada por artistas de todo o mundo. 

Em um país ainda muito dividido e repleto de “caretas”, vale honrar Gal e não esquecer do mais importante: o autoacolhimento, a ruptura e a transformação.  

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