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IA e a dor de cabeça para as áreas de riscos e compliance 

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Opinião

IA e a dor de cabeça para as áreas de riscos e compliance 

O que será de nós quando os riscos de IA e a ausência de compliance começarem a se tangibilizar em impactos operacionais, legais e financeiros?  


28 de agosto de 2024 - 8h07

(Crédito: Shutterstock)

Inteligência artificial (IA) é o tema que todo mundo não aguenta mais falar e que gerou uma das maiores ondas de tudólogos de rede social jamais vista em tão pouco tempo. Os debates desempenhados por estes tudólogos passam por IA, a salvadora do mundo; IA, o inimigo dorme ao lado; IA vai acabar com os empregos; e IA como salvadora de clientes para pequenas e grandes empresas.   

Nesse turbilhão de questionamentos, a pergunta de milhões é: usar ou não usar – ainda que IA esteja entre nós há um bom tempo. Infelizmente, a resposta não é simples. E desconfie dos tudólogos que afirmam ter esta resposta sem conhecer a cultura e os processos da sua empresa, mas um direcionamento para esta resposta já pode ajudar e pode ser resumido em uma palavra: ética. 

IA é o hype, assim como já foi o metaverso e, na época dos antigos maias, as URAs. 99% dos grandes projetos usam IA como o “win-win” do seu produto ou serviço, no entanto, ainda que sua popularidade aponte para um mercado de trabalho ainda mais inovador, tecnológico e otimizado, algumas empresas têm mostrado resistência em aplicar a inteligência artificial nos processos e na execução de projetos, justamente porque não fica claro o que é ética ou não para tal tecnologia.

O uso do ChatGPT foi um grande exemplo desse receio nas corporações, que, alimentado por um grande volume de dados, gerou informações falsas, desconexas e até mesmo preconceituosas. É um medo compreensível, porém a discussão não é somente sobre o ChatGPT e é até mega injusto colocarmos ele como o “vilão” do momento, porque IA vai muito, mais muito além disso…

As questões éticas e legais têm um peso ainda maior em uma tomada de decisão desse nível. Afinal, mesmo com a sua expansão, a IA ainda levanta preocupações sobre a segurança de informação e privacidade, por exemplo, conforme as premissas da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). 

É nessa perspectiva que entra o gerenciamento de riscos e, obviamente, compliance. Se as empresas atuais já ignoram com louvor a importância da correta gestão de riscos e vantagens competitivas para os negócios por meio da área de compliance, o que será de nós quando os riscos de IA e a ausência de compliance começarem a se tangibilizar em impactos operacionais, legais e financeiros?

Governo e grupos já buscam regulamentações, normas e adoção de boas práticas ligadas ao tema, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que exigiu que os governos implementarem as diretrizes reunidas na “Recomendação sobre a Ética da IA” da ONU para evitar um uso indevido da tecnologia.

A tudóloga que habita em mim, aliada com a expertise de mais de 15 anos de atuação em áreas de resiliência corporativa e compliance, me permite dar a seguinte #ficaadica: pense a IA a partir do ponto de vista de “estar em compliance”, e, portanto, sua utilização deve estar intrinsecamente conectada à transparência, ética e à responsabilidade corporativa. E isso vai demandar que a sua empresa revise imediatamente os seus valores inegociáveis, porque serão eles os norteadores de como e por que a IA poderá ou não ser utilizada em sua empresa.

Um estudo produzido pelo Instituto Internacional de Finanças divulgou que as tecnologias de inteligência artificial e aprendizado de máquina possibilitam às empresas alcançarem conformidade regulatória com maior eficiência do que as tecnologias convencionais, ou seja, IA pode te ajudar a mitigar riscos e estar em conformidade.

Hoje, segundo a Microsoft, em um estudo em conjunto com a Edelman Comunicação, 74% das micro, pequenas e médias empresas brasileiras já são adeptas ao uso da inteligência artificial. O mesmo estudo ainda revela que 61% das companhias entrevistadas utilizam a IA como forma de melhorar a experiência do cliente e 54% investem na ferramenta para ganhar eficiência, produtividade e agilidade. IA não é assunto somente para grandes empresas, e precisamos falar com todos que um dia ativaram o seu CNPJ.

Ser ético, transparente e ter regras claras no uso da IA é essencial para as empresas evitarem problemas e estarem em dia com as normas. Isso inclui pensar e repensar suas políticas internas que podem e devem criar regras claras sobre o uso de IA.  

Exemplos de situações nada agradáveis, como o que fazer se um colaborador apresentar uma evidência gerada por IA com alto nível de confiabilidade e depois for identificada como uma fraude, ou problemas-bons como o pagamento do dobro de bônus de vendas de um colaborador que otimizou o seu processo de captação de leads utilizando IA como uma ferramenta extraoficial de aumento de produtividade, precisam ser abordados.

Costumo dizer que sou uma realista esperançosa e, apesar das inseguranças, sou do time que devemos encarar os próximos anos de forma otimista, mas com o pé no chão. Isso quer dizer que precisamos estar preparados, porque a IA já é uma realidade em nosso dia a dia.  

Usar IA de forma responsável não só evita encrenca com a lei, mas também ganha a confiança de todo mundo envolvido e ajuda a criar um ambiente de inovação saudável. Driblar o uso da IA nessa altura do campeonato seria mais ou menos igual à cena tragicômica do Eder Militão batendo o pênalti na Copa América: você vai sorrir com confiança inabalada no caminho e em questões de segundo, vai perceber que chutou a bola fora. 

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