25 de outubro de 2024 - 9h01
(Crédito: Shutterstock)
A construção de um futuro em que todos tenham a oportunidade de crescer depende diretamente de como capacitamos e inserimos os jovens e grupos vulneráveis no cenário econômico. Em um país como o Brasil, no qual as desigualdades sociais ainda moldam o mercado de trabalho, a inclusão produtiva não é apenas uma estratégia de desenvolvimento — é uma necessidade social urgente.
Esse é um tema que considero essencial e que me inspira profundamente. Acredito que seja uma das principais ferramentas para superarmos os ciclos crônicos de exclusão social e promover a mobilidade social das futuras gerações. Mais do que simplesmente oferecer vagas, trata-se de garantir que todos tenham acesso a oportunidades e ferramentas necessárias para ingressar no mercado de trabalho de maneira digna e que tenham a chance de crescer e prosperar seja via empregabilidade ou via empreendedorismo.
Ao falar de inclusão produtiva, estamos abordando a inserção de pessoas que, por diversos motivos, enfrentam mais barreiras no acesso a empregos formais e de qualidade. A solução passa pela criação de políticas e programas que capacitem jovens, mulheres e comunidades periféricas, permitindo que contribuam de forma ativa para a economia. Ao capacitarmos e incluirmos esses grupos no mercado de trabalho formal, não só aumentamos a produtividade, mas também diminuímos as disparidades sociais e regionais que limitam o potencial da nossa nação.
No Brasil, o número alarmante de jovens entre 15 e 29 anos que nem estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”, ultrapassa os 4,6 milhões, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. Essa realidade exige ações coordenadas e efetivas para garantir que a nova geração tenha as ferramentas e o suporte necessários para entrar no mercado de trabalho e construir carreiras sustentáveis.
Embora a taxa de desemprego no Brasil tenha caído recentemente, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a situação é bem diferente entre os jovens. Em quatro estados (Rio de Janeiro, Pernambuco, Amapá e Bahia), a taxa de desemprego para jovens de 18 a 24 anos ainda ultrapassa 20% no segundo trimestre de 2024. Para se ter uma ideia, no total da população, esse número é de 6,9% no período.
Uma das principais soluções para reverter esse cenário é investir em educação e capacitação profissional. Iniciativas como o Movimento Educa 2030, liderado pelo Pacto Global da ONU, propõem metas ambiciosas para educação e empregabilidade até 2030 e mostram como o setor privado pode e deve fazer a sua parte. O Grupo L’Oréal no Brasil, do qual faço parte, por exemplo, recentemente assinou a carta compromisso como uma das ações pelo aniversário de 65 anos no país. Ao aderir ao movimento, as empresas se comprometem a cumprir metas até 2030, como atingir a cota legal de Aprendiz e oferecer desenvolvimento profissional para mulheres, e todas as suas interseccionalidades, em carreira STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Nesse último tópico, especialmente, o recorte de gênero é fundamental: precisamos romper as barreiras que historicamente mantêm as mulheres afastadas dessas profissões e assegurar que elas possam ser protagonistas no futuro do trabalho, além de terem seu poder de escolha ampliado e ganharem mais qualidade de vida.
Com um compromisso global de combate ao desemprego jovem, o Grupo L’Oréal, além de aderir ao movimento Educa 2030 no Brasil, já impactou em todo o mundo mais de 100 mil jovens entre 18 e 24 anos desde 2023 através do programa L’Oréal para Jovens. Esse programa oferece uma gama de oportunidades, desde cursos gratuitos, masterclasses ao vivo com experts do negócio, mentorias com líderes da L’Oréal até a participação em estudos de caso, hackathons e competições de negócios. Visando a ampliar ainda mais o impacto positivo na vida dos jovens, o programa evoluiu de ações pontuais para uma solução completa e integrada. A plataforma “FUTURO” está em desenvolvimento para centralizar e fortalecer estas iniciativas, expandindo o alcance para além do RH e impulsionandoum futuro promissor para milhares de jovens.
O papel do setor da beleza na inclusão produtiva
O país já conta com diversos exemplos positivos de inclusão produtiva. O Programa BIT (Beleza Inclusiva e Tecnológica), desenvolvido pelo Grupo L’Oréal no Brasil em parceria com o projeto Vai na Web e a Fundação Darcy Vargas, capacitou mais de 150 jovens em tecnologia. Além disso, a companhia lançou recentemente a iniciativa Rede Para Elas, com 80 vagas em áreas de STEM para meninas de 16 a 24 anos da rede pública, e firmou parceria com o Senac-DF, oferecendo formação para 300 jovens na área da beleza pelo programa Geração PRO. No ano passado, com a marca Niely, o grupo inaugurou a primeira Escola de Beleza na Fundação Darcy Vargas, impactando cerca de 100 mulheres com curso de capacitação em auxiliar de cabeleireiro na região da Pequena África, no Rio de Janeiro. Também por lá, que foi a zona portuária que mais recebeu escravizados no mundo, o grupo L’Oréal realizou, em setembro, em parceria com 11 empresas, uma feira de emprego e capacitação que ofereceu mais de dez mil oportunidades profissionais.
O setor da beleza é uma área historicamente importante para a inclusão produtiva. Quando olhamos para o segmento de salões de beleza, por exemplo, vemos uma enorme oportunidade, já que hoje 44% dos salões contam que não conseguem encontrar profissionais de qualidade no mercado. Por isso é tão importante que nós, enquanto indústria, façamos investimentos em programas de formação profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade, capacitando-as com as habilidades e conhecimentos específicos do setor.
Esses projetos não apenas capacitam tecnicamente, mas também fortalecem a autoestima e a confiança de jovens que muitas vezes não enxergam um futuro promissor em suas vidas. São também ferramentas para que as pessoas possam estar preparadas para as transformações no mundo do trabalho.
Devemos lembrar que a inclusão produtiva promove um círculo virtuoso ao aumentar o poder de compra de uma parcela significativa da população, gerando novas demandas e oportunidades de negócio.
O caminho para um Brasil mais inclusivo e produtivo exige o comprometimento de todos os setores — público, privado e terceiro setor — para que ninguém fique para trás. Ao promovermos a educação, capacitação e a inclusão social, não estamos apenas criando oportunidades, mas pavimentando o caminho para um país mais justo, equitativo e próspero para todos.