Inteligência artificial só ameaça quem produz conteúdo sem significado
ChatGPT pode ser aliado, desde que marcas e creators entendam seus papéis enquanto produtores de conteúdo
Inteligência artificial só ameaça quem produz conteúdo sem significado
BuscarChatGPT pode ser aliado, desde que marcas e creators entendam seus papéis enquanto produtores de conteúdo
27 de março de 2023 - 9h21
Apenas cinco dias após o lançamento, a ferramenta de inteligência artificial da OpenAI, o ChatGPT, alcançou um milhão de usuários. No momento, o recurso já ultrapassou 100 milhões de pessoas ativas na plataforma. Esses números, provavelmente menos conhecidos do que o robô que se tornou uma febre, ressaltam o que especialistas da Web 3 já anunciavam: uma transformação imensa no modo como produzimos, consumimos e creditamos conteúdo.
O alto número de usuários chama ainda mais atenção quando consideramos que redes como Facebook e Instagram, por exemplo, demoraram mais de 10 e 25 meses, respectivamente, para alcançar o mesmo montante de pessoas em suas plataformas. Ou seja, além de estar nas manchetes dos portais de notícias e nas publicações no LinkedIn, o recurso está nos celulares e computadores de consumidores de todo o mundo, que, por sua vez, realizam seus próprios testes e estão, nesse exato momento, descobrindo qual a melhor forma de usar o robô para os fins desejados.
Com toda a popularidade, uma série de perguntas sobre o uso da inteligência artificial vieram à tona, desde como podemos potencializar o uso dela ao nosso favor, até como podemos nos preparar para lidar com a questão da utilização em sala de aula, por exemplo. No entanto, escolhi me debruçar sobre as relacionadas à produção de conteúdo com IAs como o ChatGPT para responder se devemos ou não as temer.
No SXSW 2023, a futurista Amy Webb destacou que o trabalho, em breve, pode ser focado em aprender como escrever os melhores prompts para os robôs – o que exige que os profissionais continuem se atualizando constantemente para acompanhar as mudanças no mercado e aproveitar as possibilidades oferecidas pelas ferramentas.
Ainda no evento, outros palestrantes chamaram a atenção para o fato de que outras tecnologias, a longo prazo, têm o histórico de gerar mais empregos do que eliminá-los. Além disso, há maiores perspectivas para a transformação do nosso entendimento de produtividade quando consideramos a atuação das IAs. Com elas, muitas tarefas se tornam automatizadas e requerem menos tempo dos humanos.
Como jornalista e creator, entendo o caos que a ferramenta pode ter gerado logo de cara, já que, até hoje, não havíamos tido contato com nenhum recurso gratuito e tão avançado nesse sentido – com produções rápidas, sobre diferentes temas e disponível a qualquer momento. Quem é o profissional que consegue reunir todas essas capacidades sem cair em um burnout e, ainda, mantendo a qualidade de todo o material criado?
Por isso, enquanto parte dos especialistas que estudam a geração de conteúdo na Web 3, sei que o novo patamar da comunicação nessa esfera será apoiado por tecnologias como a inteligência artificial, mas não guiado por elas. Sendo assim, o essencial é nos prepararmos para aproveitar ao máximo as possibilidades oferecidas pelas ferramentas e não para sermos substituídos pelo que elas podem desenvolver.
Esse é um tema bastante discutido no campo da comunicação, uma vez que as inteligências artificiais, por enquanto, não conseguem realizar análises e relações complexas entre a realidade – vivida por humanos no dia a dia – e as informações as quais possuem acesso online. Desse modo, como construir um relacionamento efetivo com a audiência, que possui experiências, valores, crenças e visões de mundo diversas exclusivamente a partir dos conteúdos gerados pela IA? Como democratizar o acesso e não desconsiderar também diversidade e inclusão nessa jornada?
Com esses questionamentos, desde que comecei a entender meu papel como comunicadora, notei a importância de criar conteúdo e me comunicar (por mim e pelas marcas) com significado para, então, alcançar a audiência e construir pontes entre o emissor e o público.
O entendimento desse processo me levou a perceber que, mesmo antes das ferramentas de IA, já existiam marcas e veículos que geravam material sem propósito ou potencial de conexão, porque não estavam preocupados em forjar vínculos e atender à realidade. Logo, enquanto não houver esforço em analisar as complexidades da audiência e reforçar o pensamento crítico para se comunicar, não haverá conteúdo significante – nem de robôs, nem de pessoas.
Para se comunicar com seres complexos, utilize toda a sua complexidade a seu favor. Só você pode contar uma história da sua vida que fará o público entender exatamente o que você deseja falar. Isso, no entanto, não significa que as IAs são uma ameaça ou que devemos abandonar o uso delas na geração de conteúdo, mas que podemos aproveitá-las em outros quesitos nesse processo, que vai continuar dependendo de humanos para serem efetivos.
O aproveitamento desses recursos, no entanto, depende do aprendizado contínuo dos profissionais, dentro da comunicação ou não. Mas, quando usamos robôs para conversar com outros humanos, seja em campanhas ou quaisquer outros conteúdos, o esforço e atenção para o que está sendo produzido deve ser dobrado e, ainda, vir de diferentes esferas – não basta conhecimento técnico para se comunicar e esse é um pensamento chave que deve acompanhar todos os especialistas da área.
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