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#JulhodasPretas: prazeres, dores e inspirações de jovens mulheres negras no mundo corporativo

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Opinião

#JulhodasPretas: prazeres, dores e inspirações de jovens mulheres negras no mundo corporativo

Conheça a vida e as iniciativas antirracistas de três líderes pretas da L’Oréal Brasil


25 de julho de 2023 - 8h25

Ana Nascimento, Lívia Rodrigues e Vanessa Menezes (Crédito: divulgação)

É Julho Das Pretas, mês em que se celebra o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Por isso, quero que vocês conheçam três jovens e talentosas mulheres negras, colegas de L’Oréal e grandes profissionais. Nas linhas abaixo, elas compartilharam um pouco das suas vivências no mercado corporativo, que, apesar de ter avançado, ainda tem muito a evoluir em termos de diversidade e inclusão.  

Apesar de as mulheres negras serem a maioria da população (28.3% – segundo pesquisa PNADC/IBGE 2022), elas são sub-representadas no mercado de trabalho. 

Reforço que não se trata aqui de dar voz a essas mulheres – porque voz elas têm e são muito potentes. Ouvi-las é um aprendizado, sempre. 

Ana Nascimento, Product Development & Marketing – Colorama & Maybelline, colíder do grupo de afinidade AfroSOU da L’Oréal Brasil e cofundadora do projeto Pretas na Ciência 

Não medi palavras na minha entrevista de trabalho. Quando me perguntaram por que eu gostaria de trabalhar na L’Oréal Brasil, respondi: porque quero encontrar produtos para o meu cabelo e pele nas prateleiras das farmácias, quero ajudar vocês a fazer cosméticos e produtos de beleza para pessoas como eu. Eu sou química, com especialização em Design, e sou fruto de ações públicas afirmativas. Estudei em escola pública, fiz faculdade pública e tive a oportunidade de estudar fora através de iniciativas públicas americanas. Além disso, entrei na L’Oréal através de mais uma iniciativa público-privada, o Inova Talentos, que fomenta projetos de inovação em empresas e capacita jovens talentos por meio de bolsas. 

Eu descreveria a trajetória dentro de uma empresa multinacional como “dias de luta e dias de glória”. Foi nesse lugar que me descobri uma mulher negra, o que para uma pessoa que vem de uma família interracial e de uma cultura que idolatrou a mulher morena por décadas como símbolo sexual e de beleza, foi, a princípio, complexo. Mas, é extremamente libertador quando você consegue compreender o poder da sua ancestralidade por detrás da sua cor e traços.   

Nessa trajetória profissional, aprendi também o poder de um quilombo. Juntamente com minha amiga, colega de trabalho e sócia, Lívia Rodrigues, criamos o “Pretas na Ciência”, uma rede inspiradora de mulheres negras nas áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática), pela qual incentivamos, visibilizamos e fomentamos suas carreiras acadêmicas e corporativas. 

Hoje, tenho a honra de liderar uma jovem aprendiz negra, e é um prazer abrir portas para outras pessoas que, como eu, desejam se sentir capazes e representadas nesse espaço. Meu propósito agora é criar produtos impactantes e inclusivos para os consumidores brasileiros e ajudar as novas gerações de profissionais negros e de classes mais baixas a alcançarem seus sonhos, hackeando o sistema para que mais vozes e talentos diversos possam brilhar em lugares onde ainda não estamos representados. 

Lívia Rodrigues, analista sênior de Pesquisa & Desenvolvimento da L’Oréal Brasil, colíder da AfroSOU e cofundadora do projeto Pretas na Ciência 

Eu venho de uma família negra. Minha mãe era empregada doméstica. Estudei por um ano e meio fora do Brasil e fui a primeira pessoa a iniciar um doutorado na família. Ouvi do meu pai que “pobres não fazem faculdade”. Sei que ele não falou isso para me desanimar, mas porque, para ele, fazer uma faculdade não era mesmo uma possibilidade. 

O conhecimento me trouxe até aqui, e, muito cedo, entendi que meu papel no mercado corporativo não podia ser passivo. Você não vê gente igual a você nem do lado, nem acima, e se questiona se deve estar naquele lugar. Aí lhe restam duas alternativas: pensar que este lugar não é para você ou que vai ser a primeira. Eu escolhi a segunda. 

Ao lado da Ana, co-lidero a AfroSOU, a rede de Afinidade Racial da L’Oréal Brasil. Ali, tive a oportunidade de desenvolver habilidades como liderança, inovação, empreendedorismo- características que sempre vi na minha mãe, minha maior referência. A rede é um grande quilombo que exalta nossa potência preta. Mas nós sabemos que, desde o início da História, o quilombo não é formado só por pessoas negras. Para mudarmos as estruturas, precisamos de pessoas brancas, os aliados, com intencionalidade de mudar a realidade. E aqui na L’Oréal, eu tive a oportunidade de encontrar poderosas aliadas nessa jornada. 

Vanessa Menezes, Coordenadora de Negócios no Varejo e responsável pelo GT de Interseccionalidade na Gaia, Rede de Empoderamento Feminino na L’Oréal Brasil 

Simone de Beauvoir disse que não se nasce mulher, torna-se. E se ela fosse afro-indígena, como eu? A trajetória para este reconhecimento tem outros marcadores. Ora, ver mulheres pretas, negras e indígenas conquistando espaços nas organizações é mais que importante, é fundamental. Avançamos positivamente nas agendas raciais, mas ainda temos a maioria da comunidade nas bases. Ascender ocupando cargos de liderança, também é nosso lugar. Precisamos ir além, transbordar nossas ideias enquanto representantes, mais do que ser apenas representadas. 

Quando fui aprovada no processo seletivo da L’Oréal, hesitei se este lugar era para mim, e meu passo seguro se confirmou na provocação de meu avô, minha grande referência, que disse: “se essa porta está se abrindo, passe, ocupe seu lugar com relevância e honre o que você acredita”. Hoje, consigo olhar para posições de alta liderança e confiar que vou ocupá-las.  

A construção desta autoestima foi um processo nada romântico, bem doloroso, na verdade. Tenho como pilar essencial a segurança psicológica, que viabiliza o exercício da minha máxima potência de ser e empoderar outras. Afinal, nós, afro-indígenas, avançamos coletivamente, operamos transformações, conectamos a integralidade dos nossos corpos e saberes diversos em prol da liberdade e do desenvolvimento plural. 

 

Agradeço à Ana, à Lívia e à Vanessa por serem tão inspiradoras e por me permitir entrar no quilombo delas como aliada. Cada vez que as ouço, entendo mais como é imprescindível criarmos oportunidades igualitárias para todos. E o julho das pretas é exatamente sobre isso. Vamos levantar cada vez mais discussões capazes de quebrar vieses, de empoderar, de fortalecer a diversidade e estabelecer relações de trabalho mais saudáveis, com ambientes corporativos mais justos e acolhedores para todos e todas. 

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