Assinar
Publicidade
Opinião

Maternidade, parceria e sucesso

Criar mulheres empoderadas para o futuro é uma alegria, mas a responsabilidade das mães com os desafios digitais é crescente


7 de março de 2025 - 8h57

(Crédito: Shutterstock)

A primeira coisa a dizer é que a maternidade é inerente à mulher. Mesmo quem não tem filhos exerce esse impulso de alguma forma. Cuidamos com carinho dos amigos, da família, do time de trabalho… Somos todas mães e em algum momento estamos amparando alguém e dando colo. A concepção da maternidade está muito ligada ao “cuidar”, dar atenção para os que queremos ter por perto e aos que queremos bem.

O mundo é um lugar maravilhoso, cheio de aventuras e possibilidades, mas tem lá suas ciladas e a gente, de forma maternal, tenta preparar nossos rebentos para ele, por meio da nossa experiência, dos nossos erros e dos nossos acertos. Só que muitas fórmulas antigas não funcionam mais. Não adianta proteger trancando as crianças em torres de condomínio porque, na nossa era digital, os perigos podem estar a um clique de distância.

Meus filhos me veem trabalhando (online e offline) o tempo todo. E sabem que eu nunca temi atuar em áreas que ainda eram desconhecidas para a maioria das pessoas. Eu vi a internet nascer e desde o começo defendi o quanto era um espaço democrático. Minha atuação no mercado digital desde os primórdios, da música, entretenimento e marketing de influência tem a ver com isso. Hoje sou CEO da Mynd, a maior agência de marketing de influência da América Latina. Também escrevi o livro Profissão Influencer, para mostrar que o sucesso dos influencers é sempre resultado de muito trabalho.

Acredito que as redes sociais dão voz a quem tem conteúdo sem distinção de gênero, raça, origem, religião, crença ou tendência política. Justamente por isso, desde sempre, explico para os meus filhos que o universo digital reflete o mundo real: tem muita coisa interessante, mas tem grandes perigos. Dos quais certamente os discursos de ódio e as fake news são os piores. Aí, quando o Mark Zuckerberg anuncia que vai dissolver o departamento que faz a checagem de fatos nas redes sociais da sua empresa, a Meta, dona do Facebook, Instagram e Threads, o mundo fica em choque, os governos reagem e as pessoas se preocupam.

Diante desta notícia, minha primeira reação é pensar que educar as pessoas, especialmente as crianças, a perceber os perigos da internet faz parte da função de mãe tanto quanto ensinar a atravessar a rua olhando para os dois lados, andar de bicicleta sem rodinhas ou olhar a data de validade de um alimento. Sim, o consumo de conteúdo digital pode atropelar alguém, gerar desequilíbrio ou provocar uma intoxicação. Por isso, é preciso ensinar dentro de casa a importância do consumo consciente de informações, mostrar para os filhos que existem muitas visões de mundo e que algumas são equivocadas, nocivas ou mesmo destruidoras.

Ensinar a “direção defensiva” nas redes sociais é fundamental para a paz de uma mãe. Minha filha mais velha, que tem 17 anos, pediu para estudar no exterior. Apoiei a decisão dela porque acho que a experiência vai ser importante em todos os sentidos: da familiaridade com um idioma estrangeiro até o ganho de independência, tudo faz bem. A certeza de que sempre alertei contra os perigos do mundo real e do virtual me ajuda a manter minha preocupação em níveis suportáveis.

Incluir os filhos nas discussões sobre o que acontece no mundo é fundamental para que a família seja a principal influência na vida deles. Um exemplo de exercício inspirador de maternidade é Eunice Paiva, interpretada brilhantemente por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro no filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. A interpretação contida e densa de Fernandinha vem sendo premiada por vários festivais e associações ligadas ao cinema. Ao vencer atrizes da lista A de Hollywood no Globo de Ouro, Fernandinha homenageou a mãe que, em 1999, também concorreu ao prêmio pelo filme Central do Brasil. E isso foi inspirador em vários aspectos.

Fernandinha é filha de atores, cresceu nas coxias e camarins de teatro, assistia os pais ensaiando em casa, muitas vezes até na mesa de jantar. Desde cedo entendeu os desafios e as alegrias da profissão dos pais e, com todas as informações diante dela, decidiu seguir o mesmo caminho. A lição que vem dessa dinâmica é que cabe aos pais mostrar o mundo aos filhos com suas alegrias e ciladas, oferecer exemplos e dar a eles o espaço necessário para fazer as suas escolhas.

Por mais poderosas que as telas sejam, a presença das pessoas sempre será mais definitiva para a formação de uma criança. Por isso, com ou sem a checagem de fatos do Zuckerberg, acredito que nossos filhos terão mais cuidado em acreditar no conteúdo da internet do que os nossos pais têm. Já notaram que quem mais cai em fake news são as pessoas mais velhas? Sim, os nativos digitais costumam ter mais malícia do que os mais velhos.

O avanço da tecnologia em inteligência artificial, a digitalização das relações, a exposição às realidades que os algoritmos nos mostram são algumas das questões que precisam ser discutidas em família. Só assim poderemos preparar nossos filhos para o mundo em que eles viverão.

A maternidade é uma condição que exige que a gente enxergue longe e, jamais, se esconda da realidade — seja na vida real ou digital. O “cuidar” nunca vai deixar de fazer parte da nossa rotina, do acordar ao fechar os olhos para dormir.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Como executivas da indústria nutrem a criatividade

    Como executivas da indústria nutrem a criatividade

    Lideranças de publicidade e marketing falam sobre o que fazem nas horas vagas para se inspirar e manter o olhar criativo

  • A repercussão – e os números – do Dia da Mulher nas redes sociais

    A repercussão – e os números – do Dia da Mulher nas redes sociais

    Monitoramento da Stilingue by Blip aponta que a data rendeu mais de 37,3 mil menções nas plataformas digitais