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Monalisa Gomes: visão global e impacto local no agro

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Monalisa Gomes: visão global e impacto local no agro

CEO fala sobre carreira e revela criação de novo hub da Schauer Agrotronic para a América Latina no Brasil


5 de fevereiro de 2025 - 18h12

Monalisa Gomes é country manager da Schauer Agrotronic para Américas, Espanha e Portugal (Crédito: Divulgação)

Monalisa Gomes tem uma trajetória marcada por muitos desafios, mudanças e inovação. Nascida e criada na Vila Clara, zona sul de São Paulo, ela passou por dificuldades desde a infância, mas sempre teve a clareza de que a resiliência seria o caminho para um futuro melhor. “Crescer num ambiente com recursos limitados me ensinou a valorizar cada oportunidade e buscar meus objetivos”, afirma.

Na escola pública onde estudou, localizada na rua da casa da avó, lar em que morou com os primos, ela teve professores que reforçavam a importância da educação como ferramenta de transformação. O esporte também foi um grande aliado na construção da disciplina e espírito de equipe de Monalisa, filha única. “Minha mãe não me dava moleza. Se eu quisesse jogar, tinha que ter notas boas”, conta a executiva, que assume seu lado competitivo.

Hoje, Monalisa aplica os aprendizados que colheu ao longo de sua história na multinacional austríaca Schauer Agrotronic, do segmento de tecnologia para alimentação e criação de animais, onde é country manager para Américas, Espanha e Portugal. Para os próximos anos, a empresa está construindo um hub da América Latina no Brasil, mais um grande e novo desafio para a executiva.

Maternidade precoce e ascensão profissional

Desde o período da faculdade, Monalisa sonhava em estudar fora do Brasil e construir uma carreira internacional. Aos 18 anos, no entanto, sua rota tomou um rumo inesperado: a maternidade solo. “Minha primeira estratégia foi por água abaixo, porque engravidei. Como eu só tinha um plano, fiquei sem plano algum.”

Sem referências de profissionais formados na família, decidiu estudar o que era possível dentro de sua realidade financeira, enquanto contou com a rede de apoio de parentes. O foco inicial era entrar em uma empresa multinacional para praticar o inglês, língua que a mãe se esforçou para oferecer a ela, e crescer profissionalmente. “Era o momento de pagar contas e fazer o que era possível.” Somente após concluir a faculdade de ciências contábeis, começou a pensar estrategicamente na carreira, identificando oportunidades e setores de interesse.

Contudo, apesar do planejamento, o trabalho nas áreas de agronegócio e energias renováveis surgiu de maneira espontânea e fez Monalisa crescer rapidamente. Antes de assumir a posição de CEO da austríaca Fronius [empresa do segmento de tecnologia de soldagem, carregadores de bateria e energia solar], em 2016, aos 33 anos, a executiva participou da criação de uma nova unidade de negócios da companhia no Brasil. Quando passou a ocupar a cadeira de alta liderança, a filial era a 23ª de 30 em faturamento. Em 2020, quando saiu, a Fronius estava na 3ª posição.

Liderança e inovação como diferenciais

A ascensão de Monalisa ao primeiro cargo de CEO foi impulsionada, segundo ela, pela capacidade de inovação e gestão de equipes. “Gostava do novo, mas não apenas gostava: implementava. Também sempre procurei desenvolver pessoas próximas a mim.” Mesmo sem um título formal de liderança, a executiva lembra que já demonstrava habilidade em formar equipes de alto desempenho.

O convite para assumir a liderança da Schauer Agrotronic, que aconteceu em 2021, veio em um momento de transição da empresa. Inicialmente, Monalisa não sabia que seria preparada para a cadeira de CEO, mas seu perfil transparente e centrado em resultados chamou a atenção da alta liderança. “Ganhar a confiança dos meus colegas e das lideranças experientes veio muito da minha abordagem de trabalhar com empatia e construir credibilidade.”

O desafio de ser mulher no agro

Há menos de cinco anos no setor do agronegócio, Monalisa reconhece os desafios de atuar em um ambiente predominantemente masculino. “Nem preciso trazer o aspecto de ser mulher negra. Apenas o fato de ser mulher já é um recorte muito grande nesse setor”, ressalta. No entanto, ela diz que sua experiência anterior com outras indústrias a preparou para esse cenário.

“Quando vim da outra empresa, estava na área de energias renováveis, que tinha mais mulheres, até pelo mote de sustentabilidade e inovação e por ser um setor novo, ao menos no Brasil. Mas as outras duas unidades de negócio eram mais masculinas, porque eram focadas em engenharia e nos setores automotivo, de óleo e gás e de logística, dominados por homens, meus pares. Ali, aprendi a construir uma casca.”

Monalisa avalia a experiência de maneira positiva, pois pôde aprender sobre diplomacia corporativa, algo crucial para sua atual cadeira. “Preciso fazer a ponte entre setores, áreas e empresas. Então, não senti tanta estranheza no agro porque já estava mais consciente de algumas dinâmicas. Antes, entrava em reuniões e algo me incomodava, mas não sabia o quê. Depois, na nova função, já percebia que era porque estava numa sala apenas com homens discutindo assuntos fora da minha especialização.”

A executiva comenta que ser uma mulher estrangeira liderando uma empresa austríaca trouxe desafios adicionais. “Quando cheguei, foi difícil, porque eu não pareço muito austríaca”, brinca. No entanto, com o tempo, ela conseguiu conquistar respeito e abrir espaço para um ambiente mais inclusivo. “O setor está se tornando mais aberto à diversidade, impulsionado pelas novas gerações que estão assumindo cargos de gestão”, observa.

Liderança global, visão estratégica local

Para Monalisa, a experiência internacional demanda muito mais do que domínio do idioma. “Exige flexibilidade, adaptabilidade e disposição para aprender e desaprender”, afirma. Sua vivência profissional no Brasil foi fundamental para moldar sua estratégia de liderança. “No Brasil, lideramos de formas diferentes em cada região. Essa bagagem me ajudou a entender rapidamente o mercado europeu e adaptar minha abordagem.”

Hoje, sua atuação na Schauer Agrotronic exige uma visão global, sem perder o olhar local onde atua. “Não dá para impor uma estratégia goela abaixo para os países. É preciso adaptar-se às nuances de cada mercado”, afirma. Segundo ela, a chave do sucesso é capacitar e empoderar as equipes locais e promover uma comunicação eficaz. “Isso é essencial para garantir eficiência e atingir os resultados que esperamos em cada um dos países.”

Monalisa explica sua atuação. “Primeiro, fechamos a estratégia global, e depois alinhamos o direcionamento macro com as visões locais. Ter a compreensão dos diferentes mercados e das necessidades globais é fundamental. No contexto geral, estamos falando de um mesmo produto, por exemplo, mas ele tem algumas variáveis locais como preço, timing de mercado e uma série de coisas que precisam ser avaliadas de acordo com o país.”

Tecnologia e desafios futuros

A inovação segue como tema central para a executiva. “A inteligência artificial é um divisor de águas em todos os negócios. Discutimos diariamente como equilibrar inovação com responsabilidade social e sustentabilidade”, destaca. Segundo ela, o agronegócio tem um enorme potencial para solucionar crises globais, mas é essencial garantir transparência e boas práticas. 

Ao olhar para a Schauer, o desafio está atrelado ao porte da companhia e a uma nova visão estratégica. “Estamos falando de uma empresa com 75 anos de mercado, que sempre esteve na vanguarda daquilo que faz. Como fazer diferença frente à velocidade dos nossos tempos? O caminho é aprender a fazer de novo, de uma forma diferente, eficiente e mais rápida.

A visão provocativa da executiva é um dos motivos pelos quais chamou atenção da empresa para a posição de CEO. À época em que foi abordada, ela já queria se mudar para a Áustria. Eles buscavam alguém para cuidar da estratégia de internacionalização do negócio, porque a Schauer atuava na Áustria e vendia para o restante do mundo como consequência.

“O objetivo da minha chegada foi olhar para fora e criar uma estratégia. Minha questão era que eu não sabia nada do agro, nunca havia trabalhado no setor. Levei isso para a empresa e eles disseram que era justamente isso que queriam: alguém que não tivesse feito absolutamente nada no segmento, para trazer questionamentos, ideias novas e experiências de outros setores.

Brasil como hub da América Latina

Apesar da atuação global, Monalisa mantém um forte vínculo com o Brasil. Um dos seus principais projetos agora é a construção de uma fábrica da Schauer Agrotronic no País, com início previsto para 2025. “Meu foco é sempre levar oportunidades e reconhecimento para o Brasil. Queremos levar parte da nossa produção para o País, para não tê-la apenas aqui fora. A ideia é começar a montar uma fábrica brasileira e termos um hub da América Latina. Para mim, esse é o grande desafio para os próximos dois, três anos, pois o Brasil não é para amadores.”

Sobre o futuro, Monalisa diz que até considera a possibilidade de voltar para uma cadeira executiva no Brasil, mas tudo dependerá dos próximos passos da fábrica e da empresa. Neste momento, ela diz estar focada na entrega dos projetos atuais e na construção de sua trajetória como líder global. “Olho para o futuro com boas perspectivas. Vamos aguardar.”

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