Assinar
Publicidade
Opinião

Mulher preta inovadora & caborável

A indicação ao prêmio Caboré representa muito, principalmente para todas as pessoas negras que ainda lutam por reconhecimento no mercado


5 de novembro de 2024 - 9h30

Me sinto honrada em ser indicada ao prêmio Caboré como profissional de inovação em 2024. 

E, antes de discorrer esse texto, preciso dizer que inovação, para mim, significa criar soluções disruptivas que impulsionam o progresso e geram valor. É a busca constante por novas tecnologias, ideias e modelos de negócio que transformem a sociedade e melhorem a vida das pessoas.  

Inovação é sinônimo de ousadia, criatividade e visão de futuro. É desafiar o status quo e acreditar no potencial do ser humano para moldar o futuro. É ter a liberdade e os recursos para perseguir seus sonhos e transformá-los em realidade. 

Essa indicação é uma conquista não apenas para mim, mas para todos que trabalham na Creators Platform LLC, startup que sou co-fundadora e líder já há 5 anos, para os criadores que monetizamos, e os clientes que sempre acreditaram em nosso potencial. Mas representa muito, principalmente para todas as pessoas negras que ainda lutam por reconhecimento em um mercado que precisamos, e estamos transformando. 

Minha jornada no mercado de marketing e tecnologia foi construída em meio a desafios que, por muito tempo, pareciam impossíveis de superar. 

Venho de uma trajetória de grandes corporações antes de ser picada pelo bichinho de startup. Como mulher preta nesse ecossistema, aprendi a navegar por ambientes onde, muitas vezes, não havia espaço para pessoas como eu.  

Dados do IBGE apontam que apenas 20% dos profissionais da área de tecnologia são mulheres, e a participação de mulheres negras nesse percentual é ainda mais alarmante, correspondendo a apenas 5%, segundo levantamento da PretaLab. No mercado da comunicação, a realidade não é muito diferente. Segundo pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, apenas 3% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres negras. 

Mesmo diante dessa realidade desafiadora, consegui construir uma carreira sólida e inovadora, impulsionada pela paixão por tecnologia e marketing. Minha trajetória se entrelaça com a ascensão da minha startup, que me proporcionou um ambiente fértil para o desenvolvimento de ideias e estratégias inovadoras, que me levaram a ser reconhecida como uma profissional de destaque no setor. 

O Google for Startups também teve um papel fundamental na minha jornada, oferecendo mentoria, networking e recursos valiosos para o meu crescimento como fundadora. A iniciativa do Google em apoiar startups lideradas por mulheres e pessoas black founders tem sido fundamental para a construção de um ecossistema mais diverso e inclusivo. 

Vim de uma família simples que, apesar das dificuldades, sempre priorizou a educação. Acreditavam que o conhecimento era a chave para abrir portas e construir um futuro melhor, incluindo falar outras línguas como o inglês, tão essencial em minha posição de hoje.  

Dados do IBGE comprovam essa disparidade: apenas 55,6% dos brasileiros negros têm acesso ao ensino superior, em contraste com 79,2% dos brancos. E esse incentivo dos meus pais me ajudou a chegar nesse patamar, de liderança feminina, preta e inovadora.  

Mas, é crucial acrescentar que grandes poderes geram grandes responsabilidades. A liberdade e os recursos para inovar devem vir acompanhados da consciência do impacto dessas inovações na sociedade. É preciso questionar se as soluções beneficiam a todos ou apenas perpetuam privilégios. 

A inovação deve ser utilizada para promover a inclusão, a equidade e a justiça social, e não para aprofundar as desigualdades existentes. É essencial usar o privilégio para abrir portas e criar oportunidades para aqueles que historicamente foram marginalizados. Somente assim a inovação poderá cumprir seu papel de construir um futuro melhor para todos. 

A indicação ao Prêmio Caboré é um marco na minha carreira e um incentivo para continuar trilhando um caminho de inovação e impacto. É também um símbolo de esperança para outras mulheres negras que sonham em ocupar espaços de destaque no mercado da comunicação e da tecnologia. 

Tenho clara minha missão de inspirar outras mulheres e pessoas negras a quebrarem barreiras e a conquistarem seus objetivos. Afinal, a inovação não tem cor, gênero ou raça. A inovação é e deve estar disponível para todos. 

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Adriana Barbosa: do ativismo à expansão internacional da Feira Preta

    Adriana Barbosa: do ativismo à expansão internacional da Feira Preta

    CEO da PretaHub e presidente do Instituto Feira Preta é a nova entrevistada do videocast Falas Women to Watch

  • Mais de 90% dos brasileiros aprovam ampliação da licença-paternidade

    Mais de 90% dos brasileiros aprovam ampliação da licença-paternidade

    Apesar da aprovação, poucas empresas aderem ao programa que permite extensão da licença ao pai