Mulheres, economia e criatividade
Mais uma vez, os temas dos projetos sobre empoderamento feminino no festival Cannes Lions são praticamente os mesmos -- falta explorar assuntos como a relação da mulher com economia
Mais uma vez, os temas dos projetos sobre empoderamento feminino no festival Cannes Lions são praticamente os mesmos -- falta explorar assuntos como a relação da mulher com economia
12 de junho de 2024 - 9h09
O festival Cannes Lions se aproxima e mais uma vez os projetos sobre empoderamento feminino vão se multiplicar pelas nossas timelines. Além da sempre óbvia maioria masculina nas fichas técnicas, uma outra questão que sempre me chama atenção é como os temas são praticamente os mesmos. Projetos de empoderamento feminino são quase sempre sobre esporte, menstruação, maternidade e violência doméstica. Essas são as nossas pautas, segundo o mercado de criatividade global.
Não que esses sejam problemas pequenos, definitivamente não são, mas são os problemas mais palatáveis para a indústria, os que resultam em filmes mais bonitos, acaba ficando mais fácil…
Mas uma questão pouquíssimo explorada pelas marcas e que faria imensa diferença na vida de cada uma de nós é a relação da mulher com economia, e sobre isso acabou de sair a edição 2024 de um relatório muito importante para mulheres no mundo inteiro: o “Mulheres, Empresas e o Direito” do Banco Mundial. Nele, uma conclusão assustadora: nenhum país oferece oportunidades econômicas e legais iguais para homens e mulheres, nenhum.
Atualmente, apenas metade das mulheres faz parte da força de trabalho global, e 3,9 bilhões de mulheres (o que é metade da humanidade) encontram barreiras legais que afetam sua participação na economia. E o que são essas barreiras? A proibição ao trabalho, ao estudo, ao transporte público desacompanhada e por aí vai… A estimativa é que a igualdade de oportunidades aumentaria o produto interno bruto global em mais de 20%, duplicando a taxa de crescimento global durante a próxima década.
Esses números revelam a urgência de uma transformação que explore com mais profundidade as diversas facetas da desigualdade de gênero. Claro que a publicidade não vai salvar o mundo e que o mercado da criatividade é apenas um reflexo da sociedade. De qualquer maneira, vale destacar pelo menos três projetos que tratam da condição feminina sobre outros prismas, são eles: “Data Tienda”, sobre crédito para mulheres de baixa renda; “The Most Illegal Beer”, sobre como as leis proíbem mulheres de atividades banais no mundo todo; e “The Value of Time”, sobre como uma marca se posicionou contra o etarismo, escolhendo um ícone feminino 60+ para celebrar seu centenário.
Enfim, na publicidade e na sociedade precisamos ampliar o olhar e incluir temas como educação financeira e condições de igualdade no trabalho nas nossas prioridades. Só assim conseguiremos construir um mundo onde as mulheres tenham, de fato, as mesmas oportunidades que os homens, contribuindo para um crescimento econômico sustentável e inclusivo para todos.
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