Mulheres em cargos de CEO em agências começa aos poucos a ter avanços
Tendência, no entanto, ainda precisa ganhar fôlego para se consolidar e ainda é frágil no recorte de raça
Mulheres em cargos de CEO em agências começa aos poucos a ter avanços
BuscarTendência, no entanto, ainda precisa ganhar fôlego para se consolidar e ainda é frágil no recorte de raça
Marina Vergueiro
8 de agosto de 2023 - 8h03
De acordo com o Observatório da Diversidade na Propaganda, divulgado recentemente em parceria com a Gestão Kairós, apenas 15% dos ocupantes do cargo de CEOs em agências de publicidade são mulheres. Fora do mercado publicitário, as mulheres são 17% nessa posição, de acordo com o Panorama Mulheres 2023, estudo feito pelo Talenses Group com o Insper.
A pauta da equidade de gênero é recente no mercado brasileiro e começa avançar aos poucos. Nos últimos meses, alguns anúncios de mulheres ocupando posições de CEO em agências apontam nesse sentido: Gabriela Onofre, no Publicis Groupe, Brisa Vicente, na Soko e Tatiana Marinho, na Gana.
Para Márcia Esteves, CEO da Lew’Lara\TBWA e primeira mulher a presidir a Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) em 74 anos de fundação da entidade, isso se deve a uma maturidade do mercado. “Quanto mais conseguirmos ter lideranças, não necessariamente somente CEOs, mas lideranças de todos os gêneros, credos, cores e raças, melhor seremos como indústria”. Ela acredita também que esse processo é uma evolução natural do espaço que as mulheres têm conquistado na sociedade e na economia.
“Vivemos num país e numa sociedade que convive com machismo estrutural. Enquanto não mudarmos essa mentalidade na base, na educação, naturalmente enfrentaremos essas barreiras. Começamos a assistir uma evolução, mas é muito mais lenta do que gostaríamos, justamente porque não é uma questão das empresas, é uma questão da mentalidade da sociedade e da forma como as pessoas entendem e interagem”, afirma.
Para Márcia, que está na posição de CEO há sete anos com uma passagem anterior pela Grey Brasil, existe uma responsabilidade maior ao ocupar esta cadeira. “A relação com as pessoas, a gestão, a inspiração, o direcionamento da empresa, do negócio, relacionamento, os serviços prestados. Acho que me manter na posição, na verdade, é um exercício de vontade contínua e genuína de fazer com que as empresas que eu lidero cresçam e as pessoas se tornem maiores e melhores e as marcas também todos os dias”.
Recém nomeada Co-CEO da Soko, Brisa Vicente conta que a questão da idade colocou à prova sua capacidade e jornada na profissão, já que assumiu uma posição de liderança dentro da agência antes dos 40 anos. “Eu acho que na intersecção de idade pode parecer inexperiência e, ainda, ser mulher nos coloca sempre num lugar de ter que provar a própria competência e até a trajetória profissional pra ocupar essa posição. Existe um lugar ainda de muito machismo estrutural da indústria que coloca a mulher em situações desconfortáveis, como silenciamento em reunião, sermos questionadas a respeito do cargo e também uma situação que é muito comum é eu precisar ser revalidada por uma figura masculina em determinados ambientes”, afirma.
Por conta do machismo que existe em nossa sociedade, mulheres costumam ter que se esforçar mais para provar suas competências. Mas para Marina Pires, Managing Director da MediaMonks de São Paulo, uma vez que as mulheres ocupam mais cargos e fazem as empresas crescerem, não há lugar para dúvidas em suas contratações. “Quando começamos a ter um track record de resultados positivos com lideranças femininas isso vai se multiplicando, vai contaminando positivamente a percepção. Eu quero acreditar que não é uma moda, mas um despertar e uma prática que já se estabeleceu, baseada em resultados e em fatos”, afirma.
Segundo Marina, o maior desafio da Diversidade e Inclusão dentro das agências de publicidade é manter a consistência. “Eu acho que estamos vivendo a segunda ou terceira fase da conversa de diversidade na nossa indústria. Acho que agora temos que ser consistentes e manter os esforços vivos, porque trazer as pessoas para o ambiente da agência é só o passo zero. Garantir que elas tenham sucesso é a maior responsabilidade, e que elas abram caminho para outras pessoas”, conclui.
Colaboração, influência e incentivo
Atributos como colaboração, influência e incentivo também são maneiras perenes de quebrar os paradigmas de equidade de gênero nas empresas. “Acho que estamos nesse processo de que quando uma cresce, puxa a outra. Acho que isso está para além de uma frase de efeito, tem que ser uma estratégia para ocupar esses lugares, para que possamos contar novas histórias e demonstrar que era só, de fato, falta de oportunidade, não falta de competência, nem de obstinação”, diz Marina.
Se por um lado, na questão de gênero estamos começando a verificar os primeiros avanços, quando se analisa o recorte de raça, o mercado ainda deixa muito a desejar. Atualmente há somente uma única mulher preta ocupando o cargo de CEO em agências, que é Tatiana Marinho, da Gana. “Eu deveria ser só mais uma, com tantas potências que têm. Mas por outro lado tenho uma obrigação, um dever de ter sido a primeira que é trazer muitas outras junto comigo, de ser uma referência”.
Tatiana conta que recentemente se inteirou de uma agência preta que contratou uma pessoa branca para fazer o relacionamento com clientes, porque as marcas ainda não estão acostumadas a lidar com profissionais pretos. “Conto nos dedos quantas pessoas pretas você pode ver em alta liderança na área de atendimento, por exemplo. Para termos mais mulheres pretas na liderança não é só abrir os olhos que mulher é capaz, é uma barreira do racismo estrutural, por mais que as empresas falem que não têm preconceito”.
Apesar dessa lacuna, as agências começam a estabelecer metas mais estruturadas de Diversidade e Inclusão, como no caso da Soko, que utiliza dados do IBGE para espelhar a população brasileira nos times da empresa. Segundo Brisa Vicente, atualmente todas as vagas que são abertas dão prioridade às mulheres pretas e pessoas com deficiência. “É o lugar que a gente hoje tem menos proporcionalidade em comparação ao IBGE”, afirma.
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