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Mulheres, vozes e histórias a serem descobertas e reconhecidas

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Opinião

Mulheres, vozes e histórias a serem descobertas e reconhecidas

Quantas mulheres com ideias, posicionamentos, comportamentos inovadores e disruptivos levam mais tempo ou acabam não tendo reconhecimento devido por suas incríveis contribuições à sociedade?


22 de agosto de 2022 - 9h06

Nara Leão em Liberdade, liberdade, de 1965 (Crédito: Acervo pessoal Nara Leão / Divulgação Globo)

Há alguns meses, descobri uma Nara que eu não conhecia. Enquanto assistia à série “O Canto Livre de Nara Leão”, de direção de Renato Terra, a cada novo episódio, passagem e depoimentos, eu refletia: “que parte da nossa história brasileira eu tinha perdido!”. Por que eu nunca tinha encontrado a mulher Nara além de sua voz e seu repertório? Por que sabia tão pouco dela? Por que ela pouco aparecia para mim nas minhas buscas e nas minhas timelines?

Inicialmente achei que, mesmo sendo tão apaixonada por música brasileira, poderia ser um lapso de conhecimento a história desta inspiradora mulher ainda não ter me chamado a atenção. Ainda bem que agora estava tendo a chance de me aprofundar no seu universo, conhecer mais sobre quem foi a mulher Nara Leão e sua importância histórica.

Ao buscar novas referências, encontrei conteúdos e opiniões similares à minha. De fato, assim como eu, muitas pessoas pareciam estar descobrindo (ou redescobrindo) uma nova Nara, depois de muitos anos que ela nos havia deixado. O próprio diretor da série afirmou que uma de suas motivações ao realizar o documentário seria dar à história da Nara uma maior exposição e reconhecimento, e que ficava muito feliz com as mensagens e comentários que recebia nesta direção.

E essa constatação me fez pensar em quantas e até porque outras mulheres com ideias, posicionamentos, comportamentos inovadores e disruptivos levam mais tempo ou acabam não tendo reconhecimento devido por suas incríveis contribuições à ciência, aos negócios, à cultura e à sociedade. Nara foi uma mulher que construiu seu repertório, suas escolhas pessoais e sua vida da forma que quis, sem se preocupar se isso se adequava à expectativa que as pessoas tinham sobre ela.

Muito provavelmente, ao romper com expectativas e padrões “esperados”, as conquistas e resultados são minimizados simplesmente porque se parte da crença de que não poderiam ser obtidos a partir da realização de suas autoras. E, nesta linha, podemos entender por que mulheres a todo tempo precisam fazer um grande esforço para provar o seu valor e aquilo que entregam. As pessoas dão valor àquilo que estão predispostas a ouvir, entender, conhecer e apreciar.

Me permito até fazer um paralelo com diferentes situações cotidianas de mansplaining ou bropriating, quando mulheres são interrompidas por homens, que respectivamente fazem questão de explicar de maneira didática algum conceito ou repetir o que foi dito anteriormente por elas, se apropriando do conteúdo. Esta é uma maneira de reformatar algo que, dentro deste viés comportamental, pareceria não poder ser entendido, dito ou realizado por uma mulher.

Temos e somos muitas vozes, ideias e pensamentos. De acordo ou fora das expectativas pré-concebidas ou estabelecidas, precisamos, infelizmente, ainda mostrar que somos capazes inclusive de transformar todos estes padrões e evitar que algumas situações como as mencionadas nos inibam ou nos desmotivem.

Assim como a Nara usou a sua voz para divulgar talentosos autores ou o seu espaço para promover outros intérpretes ainda menos conhecidos, devemos refletir constantemente como apoiamos outras mulheres a ganhar visibilidade ou a manter a disposição para seguirem construindo um presente e um futuro com menos padrões pré-estabelecidos e mais espaços para valorização e reconhecimento.

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