A liderança da primeira mulher à frente do marketing do Bradesco
Carreira de Nathalia Garcia, diretora de marketing do banco, é marcada pela curiosidade e adaptabilidade de quem já passou por diferentes áreas e indústrias
A liderança da primeira mulher à frente do marketing do Bradesco
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Meio & Mensagem
19 de agosto de 2024 - 20h38
Antes de se tornar a primeira mulher na cadeira de diretora de marketing do Bradesco, um dos maiores bancos do Brasil, Nathalia Garcia atuou por anos na indústria de metalmecânica. Formada em administração de empresas pela Universidade Federal da Bahia, com MBA em finanças pela FGV e pós em marketing digital pela ESPM, Nathalia se encontrou mesmo no mercado financeiro, onde atuou por mais de 20 anos, nas áreas de negócio de private e investimentos. Nesse período, a baiana, natural de Salvador, passou por instituições como Citibank, GPS (Julius Baer Family Office) e HSBC Brasil. No Bradesco, chegou como head do segmento de wealth. Depois, foi para a Ágora Investimentos, como superintendente comercial e estratégia e, posteriormente, head.
Entretanto, a virada de chave de sua carreira aconteceu mesmo em 2020, quando assumiu as áreas de negócios no marketing do Bradesco. “Eu era uma pessoa de visão muito de cliente, de negócio, de atendimento, que conhecia várias regiões e personas da comunicação, além de ter trabalhado em diversas áreas do setor financeiro e outros segmentos de atividade produtiva. Isso me preparou para trabalhar na área de comunicação”, salienta.
Atualmente, Nathalia também faz parte do programa Win-Win, da ONU, e lidera o grupo de afinidades Mulheres, do Bradesco — que fica dentro do guarda-chuva de diversidade do banco Aliados pelo Respeito —, com o objetivo de reforçar o protagonismo feminino dentro e fora da instituição.
“Entrei no mercado quando as mulheres competiam muito, porque eram poucas vagas. Hoje, vejo as mulheres se apoiando. Tendemos a nos apoiar cada vez mais, trocamos muito. Criamos uma rede não só no mercado publicitário, mas no de finanças, no de engenharia, no agro. São presenças muito fortes em vários segmentos que têm buscado essa multiplicação do fortalecimento, do engajamento da mulher como líder”.
São tantos sapos. O maior desafio não é uma situação pontual, é o modelo estrutural da sociedade que não está preparado para se relacionar com mulheres em cargos de poder, de tomada de decisão, onde exista opinião. As mesas são majoritariamente masculinas. Isso faz com que você comece a desenvolver características de saber como driblar essas rejeições e dificuldades de falar. E isso, muitas vezes, não é uma coisa consciente das figuras masculinas. Tive líderes masculinos incríveis. Talvez, o maior sapo que engolimos até hoje é o sapo de as pessoas quererem que sejamos iguais ao homem para poder ter um espaço. Temos tido cada vez mais espaço, porque entendemos que não precisamos ser iguais ao homem. Nos complementamos. Temos habilidades, skills, inteligências completamente diferentes e está tudo bem.
Quanto mais você sobe na hierarquia, a presença é majoritariamente masculina. Por exemplo, aqui, 51% dos funcionários do banco são mulheres. Quando vamos subindo para os cargos de liderança, ainda não temos uma presença muito grande no banco e em toda a estrutura. Vim de metalmecânica, onde eu era a única mulher, auditora, que tinham pouquíssimas mulheres. Quando vamos subindo, vamos tendo menos mulheres e, consequentemente, menos mulheres presentes, menos vistas e menos aptas a terem espaço para opinar, confrontar, provocar. Isso não é no banco, isso é estrutura de sociedade.
Tudo. Desde o primeiro momento que você entra na faculdade ou que estuda na escola, no seu primeiro estágio, coisas que você fala: “não sei para que estou aprendendo isso”. Temos uma característica natural de falar isso. Tudo que passa na nossa frente, devemos aprender, ter curiosidade, porque em algum momento da vida aplicaremos. Todas as minhas passagens são superimportantes na construção da profissional que sou. Principalmente essa lateralidade. Toda vez que fui posta em um momento de desafio profissional, ou seja, de ruptura do meus status quo, para ir para outra área, mudar um pouco as habilidades. Venho de private, depois, corretora, marketing. São áreas completamente diferentes e essa adaptabilidade acontece porque aprendi processos, fluxos e pessoas. Isso faz com que você se torne especialista naquilo que você quiser ser.
Esses aprendizados comecei desde lá de trás, na indústria, onde tinha operação end-to-end, conhecia o início do pedido até o final da fábrica. Quando estava no processo de auditoria financeira, entendia o balanço da empresa e precisava entender o que o produto significava, onde aquilo seria despesa, o que seria investimento. Todo esse modelo mental que aprendemos ao longo dos processos da sua vida, depois aplicamos nos departamentos ou áreas que quisermos.
Nem eu tinha dimensão do que isso podia repercutir. Sim, junto com a questão de ser a primeira mulher ali ou de ser uma mulher, principalmente no setor financeiro, é um marco. Sei que isso traz também muitas responsabilidades, mas isso já estava em mim durante toda a minha trajetória, da responsabilidade que eu tinha, até por ter duas filhas mulheres, por entender os movimentos do mundo corporativo, o quanto precisamos ser diferentes aqui. Mas, hoje, sinto que isso foi um marco muito grande e recebo mensagens, faço mentoria com muitas mulheres e meninas, e isso talvez pela visibilidade que a mídia deu de eu estar sentada num cargo que tem uma expressão relevante para o mercado. Então, junto com o título veio muito mais responsabilidade do que eu já tinha com a minha vida.
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