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No trabalho e na vida, quando é preciso parar?

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No trabalho e na vida, quando é preciso parar?

Pausas planejadas e o novo modelo de trabalho são tópicos que andam juntos em momentos que buscam uma mudança no comportamento


26 de março de 2025 - 13h06

Moderadora, Regina Augusto, ao lado das palestrantes Renata Rivetti, Melissa Vogel e Andréa Cruz (Crédito: Eduardo Lopes / Maquinadafoto)

Moderadora, Regina Augusto, ao lado das palestrantes Renata Rivetti, Melissa Vogel e Andréa Cruz (Crédito: Eduardo Lopes / Maquinadafoto)

Em uma sociedade cada vez mais conectada, intensa e com uma alta pressão por produtividade, o excesso de trabalho faz com que os profissionais percam espaço para trabalhar o ócio criativo e desenvolver um tempo de qualidade, que nem sempre tem a ver com conceitos profissionais.

O Dicionário de Oxford, em 2024, escolheu a expressão “brain-rot” para definir como os tempos atuais têm imputado um significado voltado ao momento de atenção fragmentada e de instantaneidade. Em tradução livre, essa combinação de palavras pode significar uma perdidão cerebral.

A importância de parar e dedicar um tempo de qualidade para si mesmo e para recalcular a rota, seja ela profissional, ou pessoal, parece ser uma necessidade cada vez mais intensa nesse momento. E esse assunto foi o protagonista do terceiro painel do Women to Watch Summit, que aconteceu nesta quarta-feira, 26.

Melissa Vogel, executiva do mercado de mídia, Andréa Cruz, CEO da SerH1 Consultoria, e Renata Rivetti, pesquisadora e consultora de felicidade trouxeram uma reflexão sobre como esses momentos podem auxiliar em um desenvolvimento mais pleno, especialmente no ponto de vista profissional.

Uma pausa para o futuro

Exemplos de importância da pausa para a qualidade de vida – e até mesmo para a criatividade – não faltam. Em 2023, a empresária e influenciadora Bianca Andrade, Boca Rosa, anunciou uma pausa nas redes sociais. A decisão parecia controvérsia, pelo fato de este ser um dos seus principais meios de contato com seus consumidores e fãs. A criadora de conteúdo chamou isso de “férias de verdade pela primeira vez em dez anos”. Um ano depois, sua nova marca chegava ao mercado, dessa vez de forma independente e sem a parceria com a Payot.

Após esse afastamento, Bianca também passou a trazer um conteúdo mais focado, que inclusive, falava sobre bem-estar feminino, a relação do trabalho com a maternidade e até mesmo sobre a pesquisa de um hobby, para se tranquilizar, mesmo que você não seja boa necessariamente boa nesta atividade.

A mesma coisa aconteceu com a profissional do mercado de mídia, Melissa Vogel. Após 28 anos, a executiva deixou a liderança da Kantar Ibope Media, para uma pausa para recalcular a rota da sua carreira e se entender nesse momento.

Foram dez anos pensando em como seria esse reset de sua forma de se enxergar no mercado de trabalho, que precisou ter um planejamento financeiro, logístico, familiar e principalmente emocional. “Me preparei para entender como acordar sem um cargo e de como preencher essa questão mental. Depois de um mergulho profundo, agora me preparo para buscar novas possibilidades”, disse.

Essa pausa para uma transição, contudo, nem sempre é algo que pode ser planejado. Muitas vezes um profissional passa por isso por um evento compulsório, como uma demissão por exemplo. E isso pode gerar uma insegurança, especialmente para as profissionais mulheres.

Andréa Cruz, da SerH1 Consultoria, chama a atenção para como as trabalhadoras são mais impactadas por isso. “As mulheres são mais impactadas por uma demissão, como se fosse um sinônimo de fracasso. É preciso chamar atenção para o fato de que um desligamento não é um sinônimo de fracasso. Quando se fala de pausa, até ali a relação foi boa, como na cabeça da mulher fica a situação de fracasso ela não pensa no que ela quer da carreira, ela já quer estar em outro lugar. Temos um desafio grande”, avaliou.

Por isso, as pausas precisam ser debatidas dentro do ambiente corporativo, para desmistificar que esse recurso não é bom, ou mesmo impacta na produtividade, trazendo o conceito de que ser workaholic não é um recurso que aumente a produção no trabalho, pelo contrário como prova a neurociência.

“Mesmo as micropausas ajudam o cérebro a desestressar e gerar resultados de negócios. A vida vai ser estressante, mas se eu não tenho as pausas, se não paro para pensar na vida, não vou ser nem saudável nem produtivo. Ser feliz no trabalho tem a ver com segurança e qualidade de vida”, afirmou Renata Rivetti.

Alterações em uma perspectiva do futuro do trabalho

O assunto de pausas impacta diretamente a perspectiva de futuro do trabalho. Uma das principais exigências dos profissionais das novas gerações (millenium e Z), atualmente, é uma flexibilidade em detrimento, inclusive, de maiores salários ou bônus.

Como prova disso, um relatório produzido pela Deloitte apontou que 75% preferem um emprego que oferece total flexibilidade a outro com salário mais alto, e isso deve moldar como os profissionais enxergam o trabalho e sua relação com ele.

No entanto, o caminho para essa mudança está apenas no início no mundo corporativo. “Perder diversidade, ou não contratar pessoas da geração Z é um retrocesso. Está na hora de redesenharmos o trabalho e sair de um modelo de medo de comando e controle para um modelo colaborativo”, afirmou Renata.

Para a executiva, para que isso aconteça é preciso tratar adultos como adultos e parar de mensurar a produtividade com base em horas trabalhadas, além de falar dos direitos e deveres.

Por isso, uma das habilidades exigidas no futuro do trabalho vai ser em relação a gestão do estresse, em entender como a saúde mental pode ser um impulsionador para o trabalho mais seguro e mais feliz para os seus colaboradores.

No final do ano passado, um debate sobre o assunto também começou a impactar a política nacional. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros apresentam algum distúrbio relacionado à ansiedade e por isso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania apresentou a Lei nº 14.831/2024, originada do projeto (PL 4358/2023) da deputada Maria Arraes (Solidariedade-PE), com o objetivo de incentivar as empresas a criarem um ambiente mais humano.

Andreia chama a atenção para a importância que a temática ganhou, perante a políticas públicas. “Uma das habilidades exigidas no futuro do trabalho é que a gente faça a nossa própria gestão de estresse. A pressão não vai mudar, os ambientes vão continuar exigindo muito do funcionário, mas passam a dividir isso com o colaborador. Isso é importante para que a gente entenda a importância das pausas. Não dá para viver sem pausas”, disse.

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