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Opinião

Noivo neurótico, noiva nervosa

Esta semana, assistindo à série Gaslit, a questão voltou: por que mesmo mulheres assertivas são “histéricas” ou “nervosas” e homens assertivos são “objetivos” ou “fortes”?


8 de agosto de 2022 - 9h02

Sean Penn e Julia Roberts como John Mitchell e Martha Mitchell na série Gaslit (Foto: Divulgação / StarzPlay)

Você provavelmente já viu este filme: uma sala de reunião cheia de homens, poucas mulheres.

Algo acontece na conversa – uma discordância, um debate.

A discussão cresce e o clima da sala se aquece – as falas ficam mais veementes, as vozes se elevam.

Nesse momento, uma de duas coisas acontece com as mulheres que estão na sala: a maior parte delas, geralmente, se intimida com o calor e o nível de decibéis da conversa e simplesmente não se manifesta. Outras, querendo ter voz e opinião, entram nela – muitas vezes, acompanhando o tom e a força das vozes masculinas na sala.

É a tal reação límbica de que fala Daniel Kahneman no seu livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar” (recomendo a leitura para quem ainda não conhece). Quando deparado com algo que entende como uma ameaça, o ser humano tem uma de duas respostas: a primeira, de fugir (flight), e a segunda, de brigar pela sobrevivência (fight).

Pois bem: não é raro, no momento em que uma mulher fala de forma mais assertiva, ela ouvir respostas como: “nossa, por que você está nervosa?” ou “calma, está tudo bem, a gente sempre fala assim entre nós”. Ou, pior: a reunião termina, chega-se a alguma conclusão, e depois, no café, dois dos participantes dela comentam: “nossa, você viu como a fulana ficou nervosa? Não aguenta a pressão, né?”.

Fazia algum tempo que eu não pensava nisso, confesso. Mas nesta semana, assistindo Gaslit (série incrível e difícil sobre histórias de bastidores do escândalo do Watergate, nos EUA), essa questão voltou: por que mesmo mulheres assertivas são “histéricas” ou “nervosas” e homens assertivos são “objetivos” ou “fortes”?

A resposta mora em muitos anos de hábitos e costumes em que as mulheres não eram chamadas a ter opinião. Pelo contrário, ter opinião era um problema enorme para uma mulher – a personagem central de Gaslit, Martha Mitchell, demonstra isso claramente.

Outras tantas mulheres antes de nós batalharam duro para termos este espaço. E é nossa responsabilidade, agora, aumentá-lo e mantê-lo. Então a pergunta que fica é: como nós, quando formos as mulheres daquela sala, podemos fazer isso?

A resposta não é simples. Passa por aprender a identificar nossos gatilhos, ponderar a melhor reação para o momento, modular nossas vozes e ajudar colegas a modularem e aumentarem as suas. Trabalho que leva tempo, energia, e muita cooperação. Mas que quando é consistentemente feito, muda os estereótipos e o mundo à nossa volta.

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