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O futuro não será decidido pelos algoritmos, mas por quem souber ouvir

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Opinião

O futuro não será decidido pelos algoritmos, mas por quem souber ouvir

Painel no SXSW trouxe um questionamento essencial: estamos nos tornando mais conectados ou mais distantes?


11 de março de 2025 - 7h17

Painel entre Esther Perel, Amy Webb e Frederik G. Pferdt, no SXSW 2025, trouxe um questionamento essencial: estamos nos tornando mais conectados ou mais distantes? (Crédito: Arquivo pessoal)

Estou em Austin, no meio da energia pulsante do SXSW, absorvendo ideias de alguns dos pensadores mais brilhantes do mundo. Aqui, tecnologia e inovação são temas onipresentes, mas entre tantos debates sobre inteligência artificial, previsões ousadas e o impacto dos algoritmos na nossa vida, uma conversa me pegou de um jeito diferente.

Foi entre Esther Perel, Amy Webb e Frederik G. Pferdt, que trouxeram um questionamento essencial: estamos nos tornando mais conectados ou mais distantes? A tecnologia está nos ajudando a entender melhor uns aos outros ou apenas reforçando bolhas onde só ouvimos o que já acreditamos?

Perel, como sempre, trouxe o olhar da psicanálise e das relações humanas. Ela destacou o que já percebemos no dia a dia: a inteligência artificial nos oferece eficiência, mas ao custo de menos empatia. As interações estão se tornando otimizadas, filtradas, organizadas de maneira que eliminam a incerteza – e com isso, também eliminam a necessidade de lidar com o inesperado.

O problema? A empatia nasce do inesperado. Ela vem do desconforto, da frustração, do atrito com o que é diferente de nós. Se tudo é pré-selecionado por um algoritmo que nos dá exatamente o que queremos ver, perdemos a chance de sermos confrontados com outras realidades e, consequentemente, de entender melhor o outro.

Amy Webb, futurista e CEO do Future Today Institute, trouxe uma perspectiva pragmática: o problema não é a tecnologia em si, mas o fato de estarmos delegando nossa tomada de decisões a sistemas que priorizam previsibilidade em vez de diversidade. Quando tudo ao nosso redor é moldado para ser confortável e previsível, nossa capacidade de imaginar o futuro – e de criar conexões reais – começa a se deteriorar.

Já Frederik G. Pferdt, que vem a ser ex-chief innovation evangelist do Google, trouxe um contraponto interessante: se usarmos a tecnologia conscientemente, ela pode nos ajudar a expandir a empatia em vez de reduzi-la. O problema não é o algoritmo, mas o que escolhemos fazer com ele. Ele argumentou que, ao invés de temer a IA, precisamos usá-la para nos desafiar, para nos expor a novas ideias, para exercitar o músculo da empatia – que, assim como qualquer outro músculo, precisa ser treinado para não atrofiar.

A grande questão que ficou da conversa é: se as relações humanas definem a qualidade da nossa vida, como garantimos que elas continuem sendo uma prioridade em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia? Saí desse painel com uma sensação paradoxal. De um lado, estamos em um momento em que nunca tivemos tanta informação disponível sobre o outro – dados, perfis, interações mapeadas. De outro, parece que nunca ouvimos tão pouco. Ouvimos para responder, não para compreender. Interagimos dentro de bolhas, não com o mundo real.

O futuro não será decidido por aqueles que dominam a tecnologia, mas por aqueles que souberem equilibrar inovação com humanidade. Porque, no final das contas, não existe futuro possível sem conexão real.

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