Assinar

O impacto do capacitismo na saúde mental dos profissionais com deficiência

Buscar
Publicidade
Opinião

O impacto do capacitismo na saúde mental dos profissionais com deficiência

O Janeiro Branco é um convite para reflexão sobre como o capacitismo impacta na saúde mental de pessoas com deficiência e neurodivergentes


27 de janeiro de 2025 - 9h28

A campanha “Janeiro Branco”, para promover a conscientização sobre saúde mental, é um convite para reflexão sobre como o capacitismo impacta na saúde mental de profissionais com deficiência e neurodivergentes.

A recente pesquisa “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de pessoas com deficiência, feita em parceria entre a Talento Incluir, Instituto Locomotiva, Pacto Global e a iO Diversidade, revelou uma realidade alarmante: 84% dos profissionais com deficiência já tiveram sua saúde mental abalada por ações capacitistas vivenciadas no ambiente corporativo.

O estudo revela também que 9 em cada 10 profissionais com deficiência ou neurodivergentes já enfrentaram situações de capacitismo no trabalho. Essas vivências vão desde comentários depreciativos até a exclusão de oportunidades, o que gera um ambiente hostil e desgastante.

Imagine o quanto é agressivo para as pessoas com deficiência conviver todos os dias com comentários como: “Tão competente, nem parece que tem deficiência!”; “Pessoas normais já acham pesado esse trabalho”; “Você só não foi demitida ainda por causa da cota”; “Essa vaga é mais sênior. Não é da cota!”; “Deixa que eu faço porque para mim é mais fácil”.

Pior é ainda ouvir, no final: “Nossa, mas era só um comentário, sem intenção de ofender”. O capacitismo é uma opressão disfarçada de “eu te amo”. Acontece com ou sem intenção, mas fere do mesmo jeito e se perpetua para quem se nega a entender que a deficiência de uma pessoa não tem a ver com sua eficiência para o trabalho que está comprovadamente habilitada para executar.

A pessoa com deficiência que está empregada precisa se manter em alerta, e quando estamos em alerta, nós, seres humanos, acionamos um mecanismo de defesa que a psicologia chama de “luta” ou “fuga”.

Nessas situações, ou nos recolhemos (fuga) ou nos posicionamos para “lutar”, o que pode gerar uma impressão de combate da gente contra a equipe ou a liderança. Mas, na verdade, a luta é para sermos percebidos e percebidas.

O quanto pode aguentar a saúde mental e emocional de quem convive diariamente com essas situações? O impacto do capacitismo vai além das barreiras físicas e tecnológicas; ele está enraizado em práticas e comportamentos que desvalorizam as competências de profissionais com deficiência, prejudicando não apenas suas trajetórias de carreira, mas a saúde mental e emocional.

O preço disso é o adoecimento mental, que muitas vezes resulta em queda de produtividade, absenteísmo ou mesmo abandono do emprego.

O capacitismo é a principal barreira que inibe as capacidades das pessoas com deficiência, atinge a autoestima e, como consequência, causa o autocapacitismo, silencia e expurga a pessoa com deficiência, fazendo com que a gente não se sinta parte, não se sinta incluída.

Esses dados comprovam que é preciso tratar o tema DE&I como um programa que vai além da contratação de pessoas com deficiência nas empresas. Também é uma demonstração do quanto ainda é preciso fazer para tornar o ambiente corporativo cada vez mais humanizado e justo. A inclusão de profissionais com deficiência ajuda a empresa a impulsionar a acessibilidade, identificar barreiras físicas e atitudinais.

O mercado de trabalho precisa repensar padrões e preparar as pessoas e os ambientes para acolher e priorizar o bem-estar dos profissionais com deficiência.

Reconhecer o capacitismo que habita em nós é a primeira atitude para a transformação. Além disso, o mercado deve ser proativo na promoção de um ambiente de trabalho onde a diversidade seja estratégica, e não uma ação apenas para cumprir cotas.

É preciso garantir a todas as pessoas nas empresas que tenham as ferramentas necessárias para se desenvolverem em suas carreiras a partir de seus talentos e capacidades. Essa é a inclusão real.

Em pleno Janeiro Branco, é essencial que as empresas assumam a responsabilidade de serem agentes de transformação. O futuro do trabalho precisa ser inclusivo, e isso só será possível quando a empatia superar o preconceito, de janeiro a janeiro.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Daniela Graicar: de jovem empreendedora a liderança global de PR

    Daniela Graicar: de jovem empreendedora a liderança global de PR

    CEO da Pros e fundadora do Aladas fala sobre sua jornada no empreendedorismo e a importância das relações públicas para a reputação das marcas

  • Como as marcas podem navegar na economia do escapismo?

    Como as marcas podem navegar na economia do escapismo?

    Agatha Kim comenta nova pesquisa da WMcCann, que aponta necessidade de fugir da realidade como tendência de comportamento