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Opinião

O inferno são os outros 

Saiu a lista global de bilionários da Forbes de 2022. E preciso dizer: temos más notícias


9 de setembro de 2022 - 14h54

(Crédito: Macrovector/Shutterstock)

Saiu a lista global de bilionários da Forbes de 2022. E preciso dizer: temos más notícias. Muitas.  

A primeira: a concentração de renda só aumenta no mundo. Entre 2020 e 2022, o patrimônio total da lista de bilionários da Forbes subiu de US$ 8 trilhões para US$ 13,1 trilhões em 2021 e agora, em 2022, caiu um pouquinho – para US$ 12,1 trilhões.  

Aí vocês vão dizer: “aaaah, melhorou um pouquinho entre 2021 e 2022”. E eu respondo: não melhorou, sabe por quê? Porque o patrimônio médio de quem está na lista subiu de US$ 4,75 bilhões em 2021 para US$ 4,76 bilhões em 2022. Parece pouco? 10 milhões de dólares está longe de ser pouco dinheiro… principalmente quando olhamos uma outra estatística: 40% dos bilionários que ficaram na lista entre 2021 e 2022 estão mais ricos.  

Está provado, portanto, o ponto de que a pandemia só fez crescer os extremos da pobreza e da riqueza, como previram os economistas.  

Mas como o que tudo que está ruim sempre pode piorar, a má notícia fica ainda pior para nós: não há nenhuma – isso mesmo: NEM UMA – mulher nos top 10 da lista global. Ao olhar a galeria de fotos dos ocupantes das 10 primeiras posições, só vemos homens. Nove deles são brancos e, desses, oito são oriundos dos Estados Unidos e um da França. Um pequeno prêmio de consolação: o 10º lugar é ocupado por um indiano – mas, novamente, um homem. 

A primeira mulher a aparecer na lista é a neta do fundador da L’Oréal, em 14º lugar. Françoise Meyers quase não esteve nesta lista – a herança dela foi recuperada na justiça, ao provar-se que sua mãe havia sido manipulada por um homem para destinar a fortuna da família a ele e não para a filha. É cada uma…  

Há mais uma mulher, Alice Walton, em 18º lugar na lista.  

Mas o resumo da ópera é: dos 20 maiores bilionários do mundo, só duas são mulheres. Afff.  

No Brasil, a situação é um pouquinho melhor: uma mulher em 7º lugar – Lúcia Maggi, e duas herdeiras do grupo Safra, cujo patrimônio somado ao dos irmãos homens as coloca em 6º lugar.  

E aí fica a pergunta: cadê a representatividade, minha gente?  

Não podemos aceitar que em 2022 ainda não tenhamos conseguido mudar esta distribuição. 

As razões para isso são muitas e conhecidas – e minhas colegas colunistas as trazem aqui, junto comigo, todo mês. Eu poderia lembrar quem lê este texto de todas, mas preferi fazer diferente e nos fazer refletir sobre algo que para mim é chave na superação deste desafio: a colaboração feminina. 

Pergunte-se neste momento:  

– De quantas mulheres você falou bem na semana passada? 

– Quais mulheres você ajudou, apoiou, cobriu, levantou nesta mesma semana? 

– Ao receber pedidos de indicações para vagas, serviços etc, que mulheres você recomendou?  

– Se você tem uma parceira, você divide com ela as tarefas domésticas e as obrigações? 

É fato que temos muitos obstáculos a superar e paradigmas a quebrar. 

Mas também é fato que um dos maiores aceleradores neste processo pode ser a tal da sororidade.  

Quem assistiu Borgen, uma série incrível de ficção sobre uma mulher que se torna primeira-ministra da Dinamarca, percebe a diferença que faz essa união (alerta de spoiler!) na última temporada, que acabou de ir ao ar.  

E, nela, achei uma citação de Madeleine Albright, Secretária de Estado americana, que diz tudo em uma só frase: “existe um lugar especial no inferno para as mulheres que não ajudam outras mulheres”.  

Se existe inferno, eu não quero ir para lá. E você?  

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