O machismo imbuído no estigma da “mulher difícil”
Nossa herança cultural e social estabelece normas e expectativas rígidas, injustas e irreais para o comportamento das mulheres
O machismo imbuído no estigma da “mulher difícil”
BuscarNossa herança cultural e social estabelece normas e expectativas rígidas, injustas e irreais para o comportamento das mulheres
18 de junho de 2024 - 10h48
Ainda que seja exaustivo, precisamos continuar falando sobre isso.
Apesar de todos os avanços em igualdade de gênero, vivemos numa sociedade que carrega consigo resquícios profundos do machismo estrutural. Essa herança cultural e social estabelece normas e expectativas rígidas, injustas e irreais para o comportamento das mulheres. Qualquer uma que não se enquadra automaticamente é rotulada como “difícil”.
Historicamente, o papel da mulher foi delimitado ao espaço doméstico, onde deveria ser submissa e silenciosa. Qualquer desvio dessa norma era visto como uma afronta à ordem estabelecida. Mulheres que ousavam expressar suas opiniões, especialmente em ambientes tradicionalmente dominados por homens, eram rapidamente taxadas de “difíceis”. Esse termo, carregado de conotações negativas, sugere que mulheres que ousam discordar são problemáticas, complexas, loucas e, muitas vezes, indesejáveis.
A mítica de que mulheres que ousam expressar suas visões com firmeza são “difíceis” não é apenas uma questão de semântica. Esse estigma tem repercussões sérias no dia a dia de TODAS nós, em maior ou menor instância. No ambiente de trabalho, mulheres que se posicionam firmemente são quase que instantaneamente taxadas como agressivas, enquanto homens com comportamentos semelhantes são valorizados por sua assertividade e liderança. Em relacionamentos pessoais, mulheres que defendem suas posições podem ser vistas como egoístas e controladoras, criando um ambiente onde silenciam suas próprias vozes por medo da rejeição.
Esse rótulo nada mais é do que uma forma de controle social que visa manter a estrutura patriarcal intacta, enaltecendo a “docilidade” feminina e, obviamente, fazendo duras críticas a comportamentos assertivos e pragmáticos.
Há inúmeros exemplos de mulheres que ousaram deixar de lado o papel secundário que o machismo nos reserva, renunciaram ao tom doce e à fala mansa que nos cabem, e enfrentaram sem medo os rótulos de “difíceis, raivosas, intratáveis, combativas” para abrir caminhos para outras. O mundo está repleto delas e cito apenas alguns exemplos como Marielle Franco, Madonna, Alexandria Ocasio-Cortez, Djamila Ribeiro, Erika Hilton, Meghan Markle, Serena Williams e Greta Thunberg.
Desconstruir o machismo que rotula mulheres corajosas e com opinião como “difíceis” requer esforços em várias frentes. Educação de qualidade que inclua discussões sobre igualdade de gênero desde cedo é essencial. Além disso, a mídia tem um papel fundamental na formação de opiniões e pode contribuir significativamente ao representar mulheres assertivas de maneira positiva. Empresas e instituições também precisam rever suas políticas e culturas internas para garantir que mulheres possam expressar suas opiniões sem medo de retaliação.
Vale lembrar que toda prática machista visa manter o controle sobre a autonomia feminina. Querem controlar nossos pensamentos, nosso tom de voz, nosso corpo, nossa carreira, nossa vida. Querem nos dizer como agir, o que vestir, aonde ir, como falar, quando calar.
Eu sei. Parece um tema ultrapassado. E até que ele realmente seja, continuaremos combatendo o machismo estrutural.
Infelizmente ainda passam. Mas um dia, não passarão.
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica