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O marketing da floresta em ano de COP 30

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Opinião

O marketing da floresta em ano de COP 30

Que em 2025 possamos deixar de lado a zona de conforto que reduz um bioma tão rico e ao menos tentar contribuir com a mitigação da mudanças climáticas


30 de janeiro de 2025 - 10h22

(Crédito: Shutterstock)

Chegou o ano da Conferência das Partes na Amazônia, o maior evento sobre clima do mundo, e se formos seguir a onda do que é diariamente publicado nas redes sociais, pensamos que o clima é de festa e celebração. Ao pousarmos na realidade, sentimos o impacto da lembrança de que sobrevivemos ao ano mais quente da história do planeta. A que custo? Não sabemos ao certo.

Constantemente ignorando essa realidade climática e ambiental, a Amazônia virou pauta constante e exótica nas discussões dentro e fora da internet. Esses debates têm movimentado a criação e o compartilhamento de conteúdos em diferentes formatos: campanhas publicitárias, fotos, vídeos e até materiais gerados por inteligência artificial (IA).

Dezenas de postagens são realizadas semanalmente por agentes políticos públicos, privados e não governamentais que, muitas vezes, levantam a bandeira do ambientalismo e reduzem a Amazônia a uma visão ecológica. Por que, pasmem, a Amazônia não se reduz a floresta. Só essa questão daria um outro texto.

Muitas marcas já seguem surfando na onda gerada pela COP 30 através de campanhas e projetos diversos. Esses projetos, muitas vezes, são comunicados com base no que o marketing ambiental propõe: uma mistura de influências globais com símbolos locais, que são adaptados e apresentados de forma midiática para atender a um propósito no mercado global — e isso não poderia nos representar menos.

O professor Otacílio Amaral, do programa de pós-graduação em comunicação, cultura e amazônia, da Universidade Federal do Pará, escreveu sua tese de doutorado sobre a premissa (que eu considero genial) da Amazônia como uma marca: o marketing da floresta.

A “marca Amazônia” é uma estratégia antiga, criada para dar valor a produtos e serviços. Essa estratégia é o misto da Amazônia real — lugar plural que abraça populações urbanas, indígenas e ribeirinhas e que contém florestas e grandes metrópoles — e a Amazônia simbólica — grande inspiração ecológica voltada para a floresta e seu imaginário místico.

A marca Amazônia, de forma geral, pode ser vista como uma produção publicitária que valoriza produtos e serviços ao ligá-los a valores como responsabilidade social e sustentabilidade. Sim, falar de Amazônia vende — e engaja.

Como profissionais de marketing e comunicação, precisamos ter responsabilidade. Acredito que possamos usar a indústria criativa para propósitos maiores que a simples venda de produtos. Comunicar pode ser delicado. Vejamos como exemplo uma postagem que visa informar sobre os dados demográficos da sede da COP 30, Belém do Pará. Em um primeiro momento é informativo, logo em seguida se torna acusatório e depois passa a ser um desserviço, pois incentiva o hate contra a cidade e seu povo. A gente sabe que Amazônia engaja, mas forçar a “marca Amazônia” para gerar valor no seu conteúdo e levantar xenofobia é, no mínimo, irresponsável.

Que neste ano de 2025, nós, profissionais de marketing e comunicação, possamos deixar de lado a zona de conforto que reduz um bioma tão rico e possamos aproveitar a visibilidade para ao menos tentar contribuir com a mitigação da mudanças climáticas. Vamos lembrar que temos essa potência toda. Feliz ano novo.

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