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O que Greta Thunberg, Yanomamis e Emicida têm em comum?

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Opinião

O que Greta Thunberg, Yanomamis e Emicida têm em comum?

Como podemos construir uma indústria criativa regenerativa que contribua verdadeiramente com pautas essenciais para o planeta? 


7 de fevereiro de 2025 - 12h16

Foi ouvindo A Laje, uma das novas faixas do BaianaSystem com Emicida, Melly e Kandace Lindsey, no recente álbum O Mundo Dá Voltas, que reafirmei algo em que sempre acreditei: a arte pode não resolver tudo, mas tem o poder de atravessar tempos sombrios. Ela ilumina o presente e inspira as futuras gerações. 

Emicida sintetiza, em um verso potente, uma reflexão profunda: 

“Melhor que comprimido é minha caneta. Ouça Yanomami, depois vamos ver a Greta. Quem vai vingar os oprimidos é o planeta.” 

Em poucas palavras, ele denuncia a crise humanitária no maior território indígena do Brasil: desnutrição severa, invasão de garimpeiros, destruição ambiental e disseminação de doenças. A situação se agrava com mortes crescentes, subnotificação de dados e negligência política, ameaçando a sobrevivência dos povos Yanomami. 

No mesmo verso, mas do outro lado do mundo, vemos Greta Thunberg sendo presa durante um protesto pró-Palestina contra a guerra na Faixa de Gaza. Aos 21 anos, Greta acumula detenções e reforça seu simbolismo de resistência nas lutas ambientais e pelos direitos humanos. 

Costumo dizer que é na escrita que me vingo e me curo. Entender o mundo em que vivemos e refletir sobre ele é uma missão inegociável para criadores e artistas. Quando o incômodo é forte demais, lutar por mudanças deixa de ser uma escolha e se torna uma necessidade vital. 

Todos têm ferramentas dentro de seu próprio contexto de vida. Mas será que as utilizam? Direcionam essa energia para um bem maior e coletivo? 

A história nos presenteia com exemplos eternos, verdadeiras bússolas para seguir em frente. Quando figuras como Greta e os Yanomamis aparecem nos versos de um artista que dialoga com diferentes públicos, a pauta socioambiental ganha nova dimensão. Ele fez sua parte. E você, tem feito a sua? Dentro das suas possibilidades, tem usado seu poder de forma consciente? 

Enquanto a “queda do céu” acontece a cada dia, como bem retratou Davi Kopenawa, é fundamental lembrar que estamos na mesma casa, embora ocupemos cômodos diferentes. A terra-floresta não é apenas um espaço de exploração econômica. Ela é uma entidade viva, parte de uma complexa dinâmica cosmológica entre humanos e não-humanos. Hoje, está ameaçada pela predação cega de quem detém o poder. 

Feliz aquele que aprende com o outro, como diria minha mãe. 

E quando Nêgo Bispo dividiu seu conhecimento com o mundo, foi impossível não aprender. Pensador e ativista quilombola, ele nos entregou conceitos essenciais para entender como os povos tradicionais resistem e se reinventam, como a “contra-colonização”. Enquanto a colonização tenta apagar uma cultura impondo outra à força, a contra-colonização ressignifica, transforma e fortalece. Não se trata de simplesmente sobreviver à opressão, mas de reinventar-se a partir de suas próprias raízes, mantendo vivas as tradições, os modos de vida e a autonomia de quem se recusou a ser colonizado. 

A arte e o artista também são parte dessa resistência, sensibilizando o público e transmitindo conhecimento. O aprendizado não é linear ou tradicional, e a riqueza está acessível para quem estiver disposto a romper com práticas insustentáveis. 

Inegável que a arte e a filosofia promovem pensamento crítico, geram inovação e disrupção e deveria ser parte essencial da educação de toda criança.  

Quão mais difícil seria controlar uma população que, desde cedo, aprendeu a trabalhar sua criatividade e a estudar histórias de pessoas e comunidades cuja sabedoria é vital para a sobrevivência da humanidade e do planeta? 

O sistema se constrói retirando ferramentas e deixando apenas a violência como alternativa. Essa é a fórmula perfeita para aqueles que fazem guerras e produzem armas, perpetuando a ideia de que esse é o único caminho. 

A arte pode não resolver tudo, mas é um farol em tempos em que precisamos “reencantar o mundo e disputar valores”. Como nos ensinou Sueli Carneiro, que, mais uma vez, e dessa vez na FLUP (Festa Literária das Periferias), em 2024, nos trouxe palavras essenciais: 

“Se as forças do mal conseguem conquistar corações e mentes para projetos políticos e governamentais que prejudicam a maioria, o nosso desafio é imenso. Precisamos fazer essa disputa. Temos que contrapor ódio com amor. Temos que contrapor autoritarismo com democracia. Temos que revisitar nosso patrimônio literário e emancipador, nossos princípios e valores. Temos que lembrar que já vencemos essas forças antes. Temos que resgatar as estratégias de luta que nos trouxeram até aqui. Precisamos acreditar, esperançar e socializar os valores libertários que nos sustentam.” 

E, com essas lições, lanço um convite ao nosso mercado: como podemos construir uma indústria criativa regenerativa que contribua verdadeiramente com pautas essenciais para o planeta? 

Em 2025, essa será uma das pautas que mais pretendo abordar. Fica o convite pra quem quiser somar! 

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