O talento feminino para gestão no setor de entretenimento
Sensibilidade, objetividade, visão de mercado, repertório cultural e conexão são pilares essenciais para a construção e o gerenciamento de carreiras vitoriosas
O talento feminino para gestão no setor de entretenimento
BuscarSensibilidade, objetividade, visão de mercado, repertório cultural e conexão são pilares essenciais para a construção e o gerenciamento de carreiras vitoriosas
28 de outubro de 2024 - 9h03
O mercado de entretenimento é cheio de particularidades, e talvez a principal delas é que todo o processo criativo está mergulhado no universo emocional e subjetivo de cada artista. Portanto, para gerir uma carreira artística é preciso unir objetividade para posicionar o artista no mercado e muito feeling para fazer com que sua personalidade e sentimentos sejam valorizados na equação produtiva.
Em resumo, o gestor precisa ser capaz de equilibrar razão e emoção para que os resultados apareçam. Nós, mulheres, temos uma habilidade natural para equalizar o pragmatismo com a sensibilidade e, por isso, acredito que o entretenimento é um setor muito promissor para as mulheres.
No processo de escrever uma canção, uma peça, um filme, uma série ou uma novela, as emoções são matéria-prima, produto e retorno do trabalho do artista porque ele tem que sentir alguma coisa para ter a inspiração. Seu trabalho precisa refletir essa emoção e, na ponta final, deve emocionar as pessoas o suficiente para que elas consumam esse produto cultural.
Um exemplo perfeito deste ciclo produtivo é o álbum “Escândalo Íntimo”, de Luísa Sonza, que recebeu duas indicações ao Grammy Latino 2024 nas categorias “Melhor Álbum de Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa” e “Melhor Canção em Língua Portuguesa”, com o hit “Chico”, um trabalho autoral potente e repleto de emoções reais, que mistura samba, sertanejo, influências de Rita Lee, R&B e bossa nova.
É na “administração” da realidade e dos sentimentos dos autores combinada com o cuidado constante com o processo produtivo, desde a pré-produção até o momento em que se colhe os bons frutos de um trabalho realizado com tanto esforço, que fazemos o gerenciamento de carreiras artísticas.
Nossa missão é cuidar das emoções e aspirações que os artistas têm de forma presente, criativa e responsável. O “artistic management” tem muitos pontos em comum com a gestão de marcas premium: valoriza o produto, investe em inovação constante e visa a excelência em longo prazo.
Grandes ícones como Alcione e Gilberto Gil são prova de que o foco no longo prazo é fundamental — mesmo que a indústria da música esteja mais ágil do nunca para oferecer e eleger sucessos. Atualmente, em 24 horas e com dados comprovados, uma nova canção pode alcançar o status de hit.
Acho que vale detalhar o que quero dizer com “valoriza o produto”: significa que, no mundo do entretenimento, a gente dá valor ao produto criativo, sua autenticidade, sua estética, sua poética. Em outras palavras, priorizamos o talento do artista e respeitamos profundamente a sua verdade. E isso exige do time de gerentes artísticos enorme sensibilidade e a capacidade (quase mediúnica) de se sintonizar com o momento do artista e, também, com o do seu público.
Mas existe um outro sentido para esse “‘valorizar”, que é o monetário. O trabalho artístico tem valor de mercado e a cotação de cada um é o resultado de uma equação complexa que traz grandes variáveis que dependem tanto das suas realizações passadas quanto do seu momento presente no contexto do mercado.
Para o artista, é sempre difícil ter a objetividade necessária para decifrar todos os elementos dessa equação e, por isso, é fundamental que ele possa contar com alguém experiente no serviço de empresariamento.
Outro ponto importante no gerenciamento de carreiras é a questão da inovação. O mercado artístico é muito dinâmico, novas tendências estéticas, novas tecnologias de produção, novas formas de encantar o público e novos canais de mídia surgem o tempo todo, e é preciso ter um time afinado para aproveitar as oportunidades de forma coerente e relevante.
Cada vez mais, o público exige dos artistas mais do que o produto da sua arte. Como acontece com as marcas, as pessoas querem sentir um alinhamento de conceitos e propósitos com os artistas. Hoje, não basta ouvir uma música que toque seu coração, ela tem que ser cantada por alguém que você admire pelos valores, pela identificação que esse autor ou intérprete desperta em você e pela capacidade dele ou dela de, espontaneamente, até mesmo na sua vida pessoal, dizer e fazer coisas que você entende, compreende ou mesmo faria igual.
Entender essa sintonia fina entre artista e público tem tudo a ver com o repertório natural de habilidades femininas para gestão de carreiras, mas há outras possibilidades dentro do espectro do gerenciamento e da gestão artística, como posições em produção, planejamento digital, na pesquisa de novos talentos (A&R), marketing, assessoria de imprensa e até em atividades que ainda surgirão para atender a novas demandas.
A partir da minha experiência, prevejo que esse será mais um mercado a ser dominado pelas mulheres. Que possamos avançar sempre, derrubando barreiras e dando lições de competência.
Compartilhe
Veja também
Como as marcas podem combater o racismo na publicidade?
Agências, anunciantes e pesquisadores discutem como a indústria pode ser uma aliada na pauta antirracista, sobretudo frente ao recorte de gênero
Cida Bento é homenageada pela Mauricio de Sousa Produções
A psicóloga e ativista vira personagem dos quadrinhos no projeto Donas da Rua, da Turma da Mônica