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Opinião

O valor da experiência 

A maturidade traz uma visão mais ampla e analítica dos desafios, uma capacidade maior de mediar conflitos e uma sabedoria que só se adquire com um importante aliado: o tempo


30 de agosto de 2024 - 18h44

Mulher reflexiva sobre carreira e performance

(Crédito: Shuttestock)

Nesses mais de 25 anos de carreira, que me levaram a posições de liderança em algumas das maiores empresas do mundo, tive a oportunidade de presenciar inúmeras transformações no mercado de trabalho. E essas mudanças não foram apenas tecnológicas ou econômicas, mas também culturais e sociais, impactando profundamente a maneira como nos percebemos e somos percebidos pelo mundo. 

Hoje, refletindo sobre minha trajetória, percebo que ela foi marcada por muitas conquistas, mas também por muitos momentos de resiliência. Não posso dizer que já sofri etarismo, mas com a chegada dos meus 50 anos e o fato de estar no mundo corporativo metade da minha vida, começo a refletir mais profundamente sobre o que vem depois e como será daqui em diante. 

Também reflito sobre as barreiras transpostas ao longo do caminho, não pelo fato de ser mulher em um mundo corporativo – já que este era um universo predominantemente masculino até pouco tempo atrás -, mas pelo marcador social que a idade ocupa. Ela já definiu quem somos, as “horas certas” para nos casarmos, termos filhos, consolidarmos uma carreira e passarmos o bastão à geração sucessora. 

No início da minha carreira, era comum ouvir comentários que associavam juventude à inovação e energia. Ou, mais cruel do que isso, a ter sucesso na carreira ou ter uma família – como se a responsabilidade pela família fosse única e exclusivamente da mulher. Eu estava disposta a provar meu valor e a provar que é possível investir em mais de um setor social. E assim o fiz.

Fui aprendendo e crescendo, passei por promoções e assumi responsabilidades e desafios cada vez mais robustos. Me casei, tive meu filho, depois me separei, casei de novo e tenho uma enteada. As expectativas sempre foram altas por onde quer que eu fosse, mas a vontade de entregar resultados e fazer a diferença sempre foi – e ainda é – maior. Uma boa rede de apoio também foi – e é – essencial. E a minha idade nunca definiu quem eu sou. Ela me compõe, mas não me define. 

Com o tempo, no entanto, venho notando uma mudança sutil, mas significativa, na forma como o trabalho e as capacidades de mulheres maduras estão sendo percebidos na sociedade de maneira geral. No meu caso, por exemplo, vejo que a experiência acumulada ao longo dos anos me fez uma profissional mais segura. Contudo, noto também que a narrativa em torno de profissionais femininas passou a incorporar estereótipos de idade, tornando-se mais um obstáculo para elas no ambiente corporativo.  Apesar de não ter vivido o etarismo, tenho relato de várias amigas na minha faixa de idade que vem passando por isso para se recolocar no mundo corporativo em geral. Isso me preocupa muito.  

É curioso como o mercado parece ter uma visão implícita de que alguns atributos são exclusivos de uma fase específica da vida. É uma percepção rasa que ignora a riqueza da experiência e desvaloriza as contribuições de quem passou anos desenvolvendo habilidades que só o tempo pode aperfeiçoar.

A maturidade traz consigo uma visão mais ampla e analítica dos desafios, uma capacidade maior de mediar conflitos e uma sabedoria que só se adquire com um importante aliado: o tempo. São essas características, alcançadas com o decorrer dos anos, que possibilitam uma liderança mais humana, uma visão estratégica mais eficaz e uma capacidade inigualável de inspirar e orientar novas gerações de talentos. 

Para as mulheres em início de carreira, meu conselho é simples: não deixe que a pressão para se adequar a estereótipos limitantes dite o ritmo do seu desenvolvimento. Invista em suas habilidades, busque aprendizado e fontes de inspiração constantemente, alie-se a outras mulheres e lembre-se de que a experiência é uma ferramenta poderosa, que só se torna mais valiosa com o tempo. Para aquelas que, como eu, estão em uma fase mais madura de suas carreiras, minha mensagem é de encorajamento: não deixe que a percepção afora diminua o valor do que você construiu e conquistou no decorrer de sua trajetória. 

No papel de uma líder feminina, que teve a sorte de contar com tantas outras mulheres ao longo da trajetória até chegar aqui, tenho um legado a deixar e sigo comprometida em desafiar esses paradigmas, em criar espaços onde o talento e a experiência de mulheres sejam valorizados. Afinal, a verdadeira liderança não conhece limites de idade; ela evolui, amadurece e se fortalece com o tempo.

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