O verão de Eliana na Globo
Apresentadora, que comanda novo programa no GNT em casa de veraneio, reflete sobre novas temporadas na carreira
Apresentadora, que comanda novo programa no GNT em casa de veraneio, reflete sobre novas temporadas na carreira
13 de janeiro de 2025 - 6h30
Eliana Michaelichen Bezerra, ou Eliana, como a conhecemos, construiu uma carreira sólida na televisão brasileira que transcende gerações e continua a trazer novidades. Filha de pai nordestino e mãe paranaense, a apresentadora paulistana vem de uma família simples e carrega consigo a resiliência e a determinação de sua origem.
“Tenho no meu DNA essa ousadia de inovar sempre, então por que não fazer isso? É justamente agora a hora, quero que o céu seja o limite. Estou pronta para muitos projetos e grandes desafios”, diz, animada, sobre o início de sua jornada na Globo, que começou em junho de 2024 e neste verão inaugura uma nova temporada.
O desejo de se tornar artista apareceu desde nova. Com o apoio da mãe, Eliana começou a trilhar o caminho para o sucesso ainda na infância. Iniciou a carreira como cantora e, aos 19 anos, tornou-se apresentadora de programas infantis no SBT. Seu grande sucesso foi o Bom dia & Cia, que depois se tornou Eliana & Cia. Com o tempo, ela se consolidou como uma comunicadora versátil, transitando do público infantil para o adulto com êxito, algo raro na televisão.
Eliana também é pioneira nos programas de auditório dominicais, espaço historicamente dominado por homens como Gugu Liberato, Fausto Silva e Silvio Santos. À frente de “Tudo é Possível”, da Record, em 2005, ela quebrou barreiras e se estabeleceu como referência de credibilidade e inovação. Como empresária, sua marca Eliana, que soma mais de 180 produtos, foi uma das mais licenciadas do Brasil.
Agora, aos 52 anos, Eliana continua se reinventando. Com novos projetos no GNT, como Saia Justa e o programa “Casa de Verão da Eliana”, que estreia em 22 de janeiro, às 21h, ela tem ampliado cada vez mais seu alcance. A apresentadora também voltou aos domingos, com o The Masked Singer Brasil, que colocou a Globo na liderança da audiência no episódio de estreia da quinta temporada, também este mês.
Ao manter uma comunicação autêntica com o público, ela segue explorando novos formatos de conteúdo, como as redes sociais, o desafio do canal fechado e o mais novo programa, que terá formato parecido com o de reality show.
Como mãe, comunicadora e mulher madura, aos 52 anos – mais de 30 na televisão –, Eliana ainda acredita ser possível crescer e inovar com respeito, pés no chão, coerência e paixão pelo ofício. A apresentadora tem pela frente uma temporada de verão que coroa sua chegada na Globo e reflete as novidades de sua carreira.
Você fala muito abertamente da sua infância. Como suas origens te ajudaram a chegar onde está?
Venho de um lar como muitos lares brasileiros. Minha família é muito simples, com um pai nordestino e uma mãe paranaense que vieram para São Paulo em busca de uma vida melhor e tiveram duas filhas. As dificuldades da infância e adolescência me tornaram mais resiliente e determinada. Desde criança, sabia que nada vinha fácil, e essa certeza me guiou ao longo dos anos para buscar o que eu queria.
O desejo de ser artista, que carrego desde pequena, devo muito à minha mãe. Apesar de todas as dificuldades, ela juntava economias para dar asas aos meus sonhos. Uma criança não pode dirigir, fazer um teste e passar sozinha; eu precisava de apoio, e minha mãe estava lá.
Acho que, se não acreditarmos em nós mesmos, nada acontece. Algumas pessoas podem não acreditar, mas precisamos acreditar. Desde pequena, esse era um desejo muito meu, não veio de um tio ou de alguém que me encontrou na rua e disse que eu tinha talento. Fui eu mesma que fui atrás.
Quando você teve certeza de que queria ser artista?
Música e TV sempre me encantaram. O mundo dos artistas chamava muito minha atenção desde pequena. Quando vejo minhas fotos aos 23 anos, percebo que sempre fui exibida, fazia poses, caras e bocas. Não tenho artistas na família, era uma coisa minha.
Aos 7 anos, já alfabetizada, achei um papel no centro da cidade, em uma das minhas andanças com a minha mãe. Era uma convocação para artistas. Tudo começou quando dei esse papel para minha mãe e disse que gostaria de ser uma. Ela descobriu que podia fazer um book de fotos, pagou o pouco de dinheiro que tinha economizado, mas, quando voltamos para buscar as fotos, era um golpe.
Depois de um bom tempo, entre 9 e 10 anos, minha mãe conseguiu me colocar numa agência de verdade, para eu começar minha carreira de fato e ingressar em testes de verdade.
Para você, o que te levou ao sucesso?
Acho que, pensando no todo, posso dizer que, mesmo nos momentos mais difíceis, foi não desistir. Não me distraí do que queria, que era ser artista e me comunicar de alguma forma. Sempre busquei esse caminho. Mesmo seguindo os estudos, e fazendo faculdade de psicologia, sempre tinha esse objetivo paralelo. Como cantora, como fui por muitos anos, ou como apresentadora.
Quais foram os momentos-chave da sua carreira?
Os momentos de transição foram cruciais. Mesmo quando um programa que fazia foi extinto. Eu era cantora de um grupo do Gugu Liberato [Banana Split] e recebi um convite do Silvio Santos para ser apresentadora do Festolândia. Três meses depois, o programa saiu do ar por ser muito novo, sem credibilidade nem anunciantes para se sustentar.
O ponto de virada foi não ter ido para casa me vitimizar. Esperei por Silvio Santos e expliquei que não me importava em perder o programa e dar muitos passos para trás, mas queria continuar no ar. Ele me deu a chance de apresentar desenhos, mesmo sem o cenário, o balé e a plateia de antes. Foi nesse “banquinho” que nasceu a música “Dedinhos”, meu primeiro sucesso. A gravadora me procurou, e, em seguida, vieram 16 álbuns, shows pelo Brasil e programas infantis durante 16 anos.
Depois de 7 anos no SBT, migrei para a Record e fiz a transição do público infantil para o adulto. Entrei nos domingos, historicamente dominados por homens como Silvio Santos, Gugu e Fausto Silva. Algumas mulheres até entravam em cena nesse tipo de programação, mas não permaneciam. Comemoro, em 2025, 20 anos nesse espaço, algo raro para mulheres em programas de auditório dominicais.
Agora, aos 50 anos, recebo o convite da segunda maior emissora do mundo para expandir minha comunicação. Continuo com meu público, mas agora passo a alcançar pessoas fora do Brasil e a explorar outros formatos. Foi fundamental saber a hora de retroceder, seguir em frente e esperar.
E qual é a fórmula para se comunicar tão bem com a família brasileira?
Fazendo uma retrospectiva da minha vida profissional, acredito que fui ganhando credibilidade ao longo dos anos. Credibilidade não vem da capacidade artística, mas de respeito, honestidade, transparência e coerência. É sobre consistência e respeito ao público, seja uma pessoa como eu ou uma grande marca.
Desde quando eu falava para crianças até o lançamento de um produto, tudo era feito com consideração ao filho dos outros, como se fosse para o meu, mesmo sem ter filhos à época. Minha marca Eliana foi uma das mais licenciadas no Brasil. Até hoje, encontro adultos com brinquedos ou memórias afetivas de brincar e educar ao mesmo tempo. No programa, ensinava a fazer tudo com sucata, algo que hoje chamamos de reciclagem, mas que eu já propunha nos anos 1990.
Esse respeito e carinho com as crianças que cresceram continuam hoje. Transferi essa responsabilidade para os conteúdos voltados à família brasileira. O respeito que dei ao público foi devolvido em igual medida. São pequenas coisas que, com o tempo, se tornam grandes. É um caminho feito passo a passo, com consciência e consistência. Não existe uma fórmula, mas acredito que coerência, respeito e credibilidade fizeram com que eu chegasse aonde cheguei.
Como manter essa credibilidade em tempos de redes sociais?
Para além da TV, ampliei minha comunicação. Nas redes sociais, ao todo são mais de 40 milhões de seguidores. Por isso, tenho que ampliar também a minha responsabilidade para todos os cantos. Não é só no programa de TV, mas em tudo o que falo nas redes, quando dou uma entrevista… é sobre ser coerente com tudo isso.
Acho que essa carreira, que alguns dizem ser ilibada, é uma carreira consciente, pé no chão, sem deslumbre e muito responsável. É sobre saber que, quando você se comunica e é ouvido, tem uma preciosidade que precisa ser muito bem cuidada.
Você agora também está no GNT, um canal fechado. É uma novidade para você, que se comunica muito bem com as massas. Que tipo de adaptação você tem feito?
A grande diferença, para mim, é deixar fluir o que já existe dentro da minha casa e o que falo com amigas e familiares. O Saia Justa me permite expandir para além do entretenimento e discutir assuntos que já discuto, como tabus, desigualdades e os desafios da mulher.
O Saia Justa tem esse papel há 20 anos. Mesmo com outros veículos de comunicação hoje, o programa mantém a reputação de romper barreiras, pois existia quando havia poucos espaços para esses debates. Cresci e amadureci assistindo ao Saia Justa. Como âncora do programa, assumo esse lugar onde posso me expressar como mulher, mãe e cidadã, algo que já fazia, ocasionalmente, em programas de entretenimento. Após pesquisas com o público, entendeu-se que quarta-feira à noite requer mais leveza, para recomeçar a semana. Por isso, fui convidada a ser âncora, sendo a primeira de entretenimento num espaço antes ocupado por jornalistas. Essa mudança do Renova GNT trouxe resultados positivos em audiência e comercialmente, com números muito favoráveis.
Você amadureceu na TV. Como foi esse processo para você e como sente que a TV lidava e lida, hoje, com mulheres maduras?
À medida em que amadurecemos, ficamos muito mais seguras para expressar as coisas que a gente sente e vive. Isso fica claramente visível aos olhos de quem assiste. É uma honra fazer o meu ofício, mesmo diante de uma sociedade etarista, e fazer uma transição profissional tão importante como essa aos 52 anos de idade.
Quero, com a minha maturidade e minhas vulnerabilidades, inspirar cada vez mais as mulheres, porque toda vez que nos colocamos num lugar mais vulnerável, nos conectamos mais. Então, o que mais desejo é que existam mais mulheres, não apenas na TV, mas em todos os cargos, e muito mais representatividade em todas as áreas. Esse protagonismo feminino precisa existir cada vez mais existir. É uma honra estar nesse lugar e ser respeitada como comunicadora ainda com tantas possibilidades de crescimento e expansão profissional.
Você é uma mãe muito presente. Como você concilia sua carreira com a maternidade?
O que posso dizer é que sou aquela mãezona que erra, acerta, se culpa, chora, ri… que vive a maternidade de maneira intensa e que tenta equilibrar todos os pratinhos e muitas vezes não consegue. Sou mãe, assim como muitas mães, mas também entendo que tenho privilégios na minha profissão que me permitem poder escolher ficar com os meus filhos em momentos estratégicos, como as férias, ou escolher em um dia voltado para eles na minha agenda.
Difícil mesmo é quando você não tem essas escolhas. Quando você tem que sair para trabalhar, para colocar comida na mesa e conseguir uma vida digna para os seus filhos. É a realidade da maioria das mulheres no Brasil, então essas, sim, merecem meu respeito e meus aplausos. Sem querer diminuir a minha história, mas eu tive um crescimento com alguns privilégios, mesmo vindo de uma família simples.
Você está estreando o programa “Casa de Verão”, no GNT. O que podemos esperar dele?
A ideia do “Casa de Verão” é ser um ambiente acolhedor e discreto de câmeras, onde as pessoas possam entrar na casa para passar o final de semana como se estivessem entrando na minha própria casa, sendo recebidas por mim com todo o carinho que recebo minhas visitas.
A ideia era que as câmeras estivessem mais escondidas possível. É quase como um reality show, onde podemos viver nossas emoções como se estivéssemos sozinhos, e o público nos espiando. Em vários momentos, existe muita emoção, revelação, alegria e descontração num lugar quase íntimo mesmo. Fiquei muito emocionada porque todo mundo que convidamos veio. Nessa casa, revi amigos e fiz novos.
Também recebi pessoas que talvez não sejam consideradas famosas pelo grande público, mas são conhecidas por suas histórias de batalha e superação, e ficaram famosas porque alguém as filmou numa praia, vendendo um espetinho de camarão, uma espiga de milho ou um drink num quiosque de praia.
É uma casa acolhedora, com energia. Quando as gravações acabaram, não queríamos ir embora, porque foi linda a história que contamos ali. Espero que a gente consiga transmitir, por meio da edição e de tudo o que fizemos ali, essa energia e esse propósito de acolhimento que quisemos levar para esse programa. Não é um programa comum de verão, mas um programa com uma essência muito interessante do ponto de vista humano.
Com todo esse sucesso, você ainda tem os sonhos e metas para o futuro?
Estou chegando numa nova casa com muitas possibilidades. Por que não vou sonhar e idealizar? Por que não ficar aberta a novas possibilidades? Tenho no meu DNA essa ousadia de inovar sempre, então por que não fazer isso? É justamente agora a hora, quero que o céu seja o limite. A única coisa que peço é saúde, porque sem ela não consigo fazer absolutamente nada, mas, profissionalmente falando, estou pronta para muitos projetos e grandes desafios.
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