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Opinião

Onde você estava? 

É hora de prestar atenção ao nosso redor, porque momentos inesquecíveis estão acontecendo agora


10 de dezembro de 2024 - 15h07

(Crédito: Shutterstock)

Dizem que as memórias que mais nos marcam despertam emoções significativas ou nos fazem sentir uma ameaça potencial. Momentos históricos ou eventos que marcaram o País costumam ser inesquecíveis. De maneira geral, todo mundo se lembra onde estava quando caíram as torres gêmeas, quando o Senna morreu ou até mesmo quando o PCC tomou conta de São Paulo. Todos esses eventos ocorreram quando as redes ainda estavam se desenvolvendo, muito longe do potencial que alcançaram hoje. 

A lógica, a agilidade e o volume da internet e das redes sociais mudaram a dinâmica da comunicação e das notícias. Somos diariamente bombardeados por milhares de eventos relevantes, e tudo é sempre tão urgente que tem até nome para a ansiedade que se sente quando se pensa que não está dando conta de tudo: FOMO (Fear of missing out).

No início dos anos 1900, o sociólogo George Simmel teorizou que, em comparação com o cotidiano rural, o excesso de estímulos da vida urbana nos tornaria mais “blasé”. Imagino o que ele diria sobre a minha timeline do Instagram. Quando somamos ao conceito “tudo ao mesmo tempo agora” à epidemia de fake news que assola nossas vidas, o resultado só poderia mesmo ser um mar de indiferença. 

As notícias perderam muito a credibilidade, e quem tem consciência crítica tende a primeiro duvidar e depois acreditar (ainda bem!), o que faz com que esse impacto do “onde você estava” proporcionado por ocasiões inesquecíveis seja rapidamente substituído pelo próximo evento. A sensação de viver a história ficou no passado. Lemos notícias absurdas e voltamos a tomar um café; pensamos “isso é inadmissível” e voltamos ao trabalho, “nossa meu Deus, o mundo está maluco” e postamos memes no estilo “o mundo acabou e eu sobrei aqui”. 

É hora de mudar isso e prestar atenção ao que está acontecendo ao nosso redor, porque momentos inesquecíveis estão acontecendo agora. E não, esse não é um artigo do tipo “carpe diem”, porque, infelizmente, os momentos inesquecíveis de hoje estão mais ligados ao medo, à angústia e no caso das mulheres à violência. 

Nós, mulheres, enfrentamos diariamente situações em que nossos direitos são contestados ao redor do mundo. A sensação é que avançamos um passo apenas para recuar dois. Está na hora de estarmos atentas. Um bom exercício é perguntar para si mesma: “onde eu estava quando o Brasil quebrou o recorde de feminicídios?” ou “onde eu estava nos últimos 6 minutos?” já que uma mulher é estuprada a cada 6 minutos no Brasil, “onde eu estava quando tentaram me tirar o direito de abortar se eu for estuprada?”. 

A avalanche de notícias cotidianas está nos distraindo. Somos pegas de surpresa quando as coisas que importam já estão prestes a acontecer ou até mesmo quando já aconteceram. É melhor nos questionarmos agora, para que no futuro não tenhamos que responder às nossas filhas, sobrinhas e amigas não só onde estávamos, mas por que não fizemos nada. 

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